No final de 2019, o Douro tinha sido considerado um dos melhores destinos do mundo, pela revista americana Travel+Leisure. A região surgia no 18º lugar no top 50 da conceituada publicação internacional de viagens, que colocava a possibilidade de se conhecer a região “a partir da água”, num cruzeiro ou num barco, como um dos principais atrativos. Hoje, com os cruzeiros e os típicos barcos rabelos ancorados nas margens, as unidades hoteleiras preparam a sua reabertura, lentamente, depois de terem fechado a 16 de março, devido à pandemia.
A Quinta da Pacheca, situada em Cambres, Lamego, será uma das primeiras unidades a reabrir, já no próximo dia 18, com as suas 10 Wine Barrels (quartos construídos numa barrica gigante, com vista para a vinha, que lhe valeram o prémio Best of Wine Tourism 2020), a virem a ser, provavelmente, um dos grandes atrativos. Foram a escolha imediata “de um casal que tinha adiado a estadia e estava ansioso para dar um passeio”, conta Álvaro Lopes, diretor-geral da Quinta da Pacheca, que abrirá apenas com 50% dos quartos do restante alojamento, a Wine House. Mas as 10 barricas gigantes prometem estar na linha da frente das preferências dos clientes: “É verdade que esta questão de as Wine Barrels estarem mais isoladas, de as pessoas poderem vir ao deck e estar ao ar livre, faz com que se sintam em liberdade, depois deste período de confinamento”, assume. Para a primeira semana de reabertura da unidade, o restaurante já tem uma reserva para um aniversário com quatro pessoas e uma prova de vinhos marcada. “Os clientes dizem-nos que têm saudades do ar livre e de comer bem”, nota o diretor-geral.
É verdade que esta questão de as Wine Barrels estarem mais isoladas, de as pessoas poderem vir ao deck e estar ao ar livre, faz com que se sintam em liberdade, depois deste período de confinamento
Álvaro Lopes, diretor-geral da Quinta da Pacheca
A Quinta da Pacheca, que foi uma das unidades do Douro a dar abrigo ao voluntariado médico da região de Vila Real e Lamego, tem estado a formar o pessoal tendo em conta o protocolo de boas práticas recomendado pelo Turismo de Portugal e pela Direção Geral de Saúde (DGS). A colocação de gel desinfetante, de máscaras (para trabalhadores e clientes) e o distanciamento físico serão as principais normas, além da medição de temperatura a quem chega, do check in online, e da reserva prévia de visitas à quinta.
O mesmo protocolo está a ser tomado por outras unidades da região. Antes de reabrir as portas da Quinta do Vallado (uma das mais antigas da região, pertenceu a Dona Antónia Ferreira), em Peso da Régua, no dia 29 de maio, o grupo reabre já nesta sexta, dia 15, a sua unidade mais exclusiva: a Casa do Rio Wine Hotel, situada no Douro Superior, em Castelo Melhor, Vila Nova de Foz Coa, onde já tem reservas de portugueses para maio e junho. “Está a ser um hotel muito procurado. Tem apenas seis quartos, duas vilas privadas, quatro tanques de água espalhados entre si. Os nossos dois hotéis [Vallado e Casa do Rio] são de muito isolamento e natureza entre eles, e o facto de as refeições serem servidas no terraço, ao ar livre, será uma vantagem”, nota Cláudia Ferreira, diretora de enoturismo.

Também em Baião, tanto o Douro Palace Hotel Resort & Spa como o Douro Royal Valley Hotel & Spa, deverão abrir em breve, uma vez que, soube a VISÃO, tem tido reservas por parte de portugueses, ao contrário do que acontece com o outro hotel do grupo Jase no Porto, o Royal Bridges, que não tem registado procura.
Estas cinco unidades hoteleiras são apenas algumas das 700 na região do Porto e Norte a quem já foi atribuído o selo “Clean & Safe”, lançado pelo Turismo de Portugal para as empresas do setor do turismo que pretendam ver reconhecido o cumprimento das recomendações da DGS para evitar a contaminação dos espaços com o SARS-CoV-2 (o novo coronavírus).
2020: o ano dos turistas portugueses
Em 2019, a região de Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) atraiu 6 milhões de turistas que originaram 11 milhões de dormidas. Só na Páscoa de 2019, a região do Douro teve uma ocupação de 80%, entre portugueses, espanhóis, franceses e brasileiros. Ao contrário deste ano. Tal como as regiões do Minho e de Trás-os-Montes, Luís Pedro Martins, Presidente do TPNP, acredita que o Douro vai “ao encontro daquilo que os turistas procuram: segurança, privacidade, tranquilidade e contacto com a natureza. Será um destino mais fácil e com mais confiança”.
Não vale a pena estarmos a criar falsas expetativas, o ano de 2020 é um ano totalmente virado para o turista nacional. Tenho dito que, se alguma coisa de positivo pudéssemos encontrar na pandemia, seria ter trazido estes territórios de baixa densidade para a frente do palco
Luís Pedro Martins, Presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal
O plano de recuperação do setor na região Porto e Norte deverá arrancar em junho, ancorado exatamente nestes eixos. “Não vale a pena estarmos a criar falsas expetativas, o ano de 2020 é um ano totalmente virado para o turista nacional. Tenho dito que, se alguma coisa de positivo pudéssemos encontrar na pandemia, seria ter trazido estes territórios de baixa densidade para a frente do palco.” Prova disso parece já estar a verificar-se na procura do alojamento local nas regiões do Douro, Trás-os-Montes e Minho. “É este excesso de natureza, como dizia o [Miguel] Torga, que vai ser agora o motivo de atração dos turistas”, acredita o presidente do TPNP.
Piqueniques nas vinhas são bem-vindos
Tanto as unidades hoteleiras como as de enoturismo no Douro parecem ganhar confiança na reabertura, tendo em conta a geografia onde se encontram. “As quintas com quem temos falado, estão desejosas de voltar a abrir com uma grande vantagem: consegue-se fazer tudo com maior segurança e tranquilidade do que em outros locais mais populacionais”, lembra Luís Pedro Martins.
Na Quinta da Pacheca, por exemplo, onde já há provas de vinho marcadas, tudo está a ser delineado. “O cliente terá que estar sentado, isolado como se fizesse uma refeição, os copos são colocados no momento e a explicação sobre o vinho será feita com o distanciamento social necessário”, adianta Álvaro Lopes, que remete para a possibilidade de estas provas serem feitas em diferentes salas ou ao ar livre.
Também a Quinta do Vallado irá investir sobretudo “nas atividades de exterior, quer no rio, nos passeios pedestres, nas caminhadas e nos piqueniques”. No que respeita ao enoturismo, o plano ainda está a ser definido, devendo passar por uma limitação de 50% de clientes das provas de vinho.
Na Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, situada na margem direita do rio Douro, propriedade de Luísa Amorim e que deve reabrir no início de junho com os quartos totalmente renovados, a aposta será também no aumento das atividades ao ar livre. Provas de vinho no terraço da wine shop, serviço de refeições ao ar livre e piqueniques nas vinhas, onde o próprio hóspede leva a sua lunch box, bem como programas para famílias de três e cinco dias, serão algumas das novas propostas.
