Durante a quarentena, com as famílias fechadas em casa, um grande número terá optado por dispensar os serviços de limpeza temporariamente ou, em outros casos, em definitivo, aumentando a precariedade desta profissão. Com o alívio das medidas de confinamento, e o levantamento gradual das restrições à atividade social e económica, também este setor contará (e necessitará) de voltar a trabalhar. Mas como poderá ser feito esse regresso de forma segura para as famílias?
Teresa Leão, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e médica de saúde pública, lembra que cada caso é um caso, sendo necessário “avaliar o risco associado”. E exemplifica: “Se a pessoa faz limpeza em muitas casas, se contacta com muitas pessoas, se chega quando os donos da casa já não estão e, portanto, não contacta com eles diretamente, como se desloca e, principalmente, que cuidados tem em termos de higiene das mãos, etiqueta respiratória, distanciamento físico, se usa máscara ou não”, são fatores a ter em conta.
Assim, nesta retoma gradual e no voltar ao contacto com as empregadas domésticas, a médica de saúde pública recomenda que sejam tomadas várias práticas. Na chegada, é fundamental que “higienizem muito bem as mãos [durante 20 segundos, com água e sabão], e até o rosto se estiverem mais perto dos miúdos”, aconselhando o uso de máscara que deve ser trocada por outra logo que entrem na habitação. “O ideal é que a máscara que seja utilizada na rua não seja a mesma que é usada em casa; que haja uma transição de uma máscara para outra porque na rua a pessoa pode ter estado sujeita a um espirro de alguém no metro, por exemplo, e as gotículas terem tocado na máscara.”
Neste caso, dentro da casa onde irá trabalhar, Teresa Leão sugere que possam ser usadas as máscaras comunitárias ou sociais “a não ser que seja alguém que cuide de idosos, ou de pessoas imunodeprimidas ou que a própria empregada seja imunodeprimida ou faça parte de algum grupo de risco. Aí necessita de máscaras que tenham maior capacidade de filtração”. O uso de luvas não são, contudo, aconselhadas: “As mãos são mais fáceis de higienizar”, justifica. “O ideal é higienizar as mãos muito frequentemente. Estar sempre a lavar as mãos: antes de cozinhar, antes de contactar com as crianças ou idosos, antes de mexer em objetos mais pessoais…”
Calçado à porta, uma bata para cada casa
Além de uma máscara para cada habitação onde trabalha, que ali deverá permanecer, as empregadas domésticas deverão passar a ter outros hábitos. Teresa Leão recomenda a troca do calçado “que vem da rua” e a necessidade de existir “uma bata que seja utilizada em cada casa onde faz a limpeza”, que deverá ficar guardada na habitação e “ser higienizada na máquina de lavar juntamente com a roupa do restante agregado”. Depois de terminarem o trabalho e antes de irem embora, máscara e roupa deverão ser deixadas num espaço próprio.
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Além de todos estes cuidados, a médica considera ser “ainda mais importante que as pessoas percebam que se estiverem doentes, mesmo que seja uma sintomatologia muito ligeira, não devem ir trabalhar”. “A Covid-19 causa em Portugal, em 80% dos casos, uma sintomatologia muito ligeira e esta não pode ser desprezada, seja na empregada doméstica ou em qualquer um de nós”, alerta. Em resumo, acredita a investigadora do ISPUP, “se a pessoa for muito cuidadosa e acatar muito bem estas sugestões de higiene, o risco é muito baixo”.
Os conselhos da médica de saúde pública vão em linha de conta com os que têm sido transmitidos às empregadas domésticas pelo Sindicato dos Trabalhadores dos Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Atividades Diversas (STAD). Vivalda Silva, coordenadora do STAD, tem recomendado às suas associadas o uso “de todos os equipamentos de proteção”, nomeadamente, de “uma farda que não deverá sair da casa onde estão a prestar o seu trabalho”. Sem números oficiais, uma vez que, em muitos casos, esta atividade não é declarada à Segurança Social, estima-se que existam cerca de 76 mil empregadas domésticas. Mas o setor, que já vivia debaixo de alguma precariedade, já está a ser um dos afetados com a atual situação do País. No último mês e meio, muitas queixas têm chegado ao sindicato. “Logo que começou a pandemia, em meados de março, houve muitas [empregadas domésticas] que foram dispensadas do trabalho. Temos muitas queixas de terem sido dispensadas, sem justificação e sem pagamento a nenhuma indemnização”, lamenta Vivalda Silva.