É um país com uma economia altamente desenvolvida e diversificada. Ocupa o 4º lugar no Índice Mundial da Democracia da prestigiada The Economist. A Suécia é ainda considerada dos países mais socialmente justos da atualidade, apresentando um dos mais baixos níveis de desigualdade no rendimento em todo o mundo. É também um dos mais bem colocados no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. Quando se falou em impor restrições à população como estratégia de combate à Covid-19, os suecos disseram que não, optando por confiar no dever cívico dos seus cidadãos.
Com a subida do número de infeções e de mortos, as críticas à estratégia de restrições mínimas não tardaram. “É necessário reforçar o distanciamento social, fechar escolas e restaurantes, e todos os que trabalham com população idosa devem usar equipamento de proteção adequado. Se um membro de uma família estiver doente ou testar positivo, toda a família deve ser colocada em quarentena”, pediu um grupo de investigadores e virologistas, num artigo de opinião publicado no jornal Dagens Nyheter, e citado pelo The Guardian.
Perante a morte de mais de 1700 pessoas, as autoridades acabariam por reconhecer que a proteção dos lares de idosos não teria sido a mais adequada. Mas acreditam que a situação epidemiológica está a estabilizar. Segundo explicou o seu estratega à Nature, é sempre melhor lançar medidas voluntárias baseadas na confiança. Foi por isso que recomendou que as pessoas trabalhassem em casa, lavassem as mãos e evitassem viagens não essenciais. As fronteiras e a escolas para os menores de 16 anos permaneceram abertas – assim como muitas empresas, incluído bares e restaurantes. Enquanto o resto da Europa se fechava em casa, os suecos eram vistos a passear na rua, às compras nos mercados e sem sinais de maiores preocupações.
“O cidadão tem o dever de não espalhar a doença. Este é o nosso ponto de partida”
A palavra, então, a Anders Tegnell, epidemiologista da Agência de Saúde Pública da Suécia, um órgão independente cujas recomendações de especialistas são seguidas pelo governo. Primeiro que tudo, Tegnell refuta que seja uma abordagem única no mundo (“tal como os outros países, o nosso objetivo é achatar a curva e diminuir a propagação”). Depois, assume estar convencido que não é possível erradicar esta doença até haver uma vacina. “O que o país está a tentar fazer é manter as pessoas separadas, usando as medidas que temos, de acordo com os nossos hábitos”.
Na mesma conversa com a Nature, Tegnell aproveitou para relembrar que as leis suecas sobre doenças transmissíveis são baseadas, principalmente, em medidas voluntárias. Ou seja, na responsabilidade individual. “O cidadão tem a responsabilidade de não espalhar uma doença. Este é o nosso ponto de partida, até porque não há muita margem de manobra legal para, por exemplo, fechar cidades na Suécia com as leis atuais”.
Mas não é só isto que explica a opção daquele epidemiologista. Segundo afirmou, o confinamento imposto um pouco por toda a Europa, com encerramento de fronteiras incluído, não tem uma base científica. “É rídiculo. A Covid-19 está em todos os países da Europa. Temos mais preocupações com movimentos populacionais dentro da Suécia do que para outros países.”
Há ainda “carapuças” que Tegnell não enfia e insiste que mesmo em países que optaram por políticas bem mais restritivas não foi possível reduzir o risco a quase zero. E isso tudo leva a que continue a defender o seu ponto de vista e os dados em que acredita. “Sim, estamos no meio de uma epidemia. Mas a ciência mostra bem que fechar escolas nesta fase não faz sentido. Para obter melhores resultados, deveríamos tê-lo feito muito mais cedo.”
Imunidade de grupo para a Suécia já em maio?
Tegnell também não valorizou tanto o papel dos assintomáticos como outros países o fizeram. Apesar de considerar a possibilidade de serem contagiosos, no seu entender, o grau de propagação é provavelmente bastante mais pequeno do que nas pessoas que apresentam sintomas. “Aqueles que ocupam a parte maior da curva são os que têm sintomas. São esse que realmente precisamos parar.”
Assim, apesar de reconhecer que houve uma falha na abordagem à proteção dos mais velhos em lares de idosos (“Devíamos ter controlado isso de uma forma mais direta”), Tegnell insiste que está satisfeito com os resultados da estratégia.
“Grande parte dos problemas que temos agora não se devem à doença, mas às medidas que, em alguns ambientes, não foram adequadas – e estou a falar dos lares de idosos. No entanto, olhando para os efeitos da pandemia em outros países europeus, há cenários muito piores do que este.” A rematar, Tegnell acredita ainda que terá sido tão bem-sucedido que será já em maio que a Suécia deverá chegar a uma situação de imunidade de grupo.