Em 1964, os primeiros Jogos Olímpicos (JO) disputados em Tóquio foram a forma de o Japão mostrar ao mundo uma nação reerguida dos escombros deixados pela derrota e pelas bombas atómicas da Segunda Guerra Mundial. No próximo verão, os jogos prometem ser a demonstração de um novo renascimento do país, devastado pela perda de poder económico e pelo orgulho ferido depois do desastre ambiental provocado pelo acidente na central nuclear de Fukushima, na sequência do terramoto e tsunami de 2011. Apostadas em mostrar a recuperação do estatuto perdido de liderança na indústria tecnológica e um país moderno e consciente das necessidades de preservação ambiental, as autoridades nipónicas prometem a organização de um acontecimento inesquecível, o mais tecnológico e sustentável de sempre, de 24 de julho a 9 de agosto.
Do 5G ao 3D
A promessa de uns jogos altamente tecnológicos pode não ter sido decisiva para que Tóquio tivesse batido as candidaturas de Madrid e Istambul na corrida à organização dos Jogos Olímpicos de 2020. A 7 de setembro de 2013, quando o Comité Olímpico Internacional (COI) tomou a decisão, talvez não fosse fácil antever todas as oportunidades que o desenvolvimento tecnológico permitiria colocar à disposição da organização, sete anos depois. Ainda assim, as autoridades nipónicas prometeram um evento completamente high tech. E, pelo que se sabe já, a nove meses de distância, a promessa será cumprida. Ainda que a utilização de drones vá estar completamente proibida, por questões de segurança, o que não faltará em Tóquio 2020 será alta tecnologia.
Uma das certezas serão as conexões 5G, numa parceria entre o COI e a Intel. A velocidade na transmissão de dados e a alta conectividade permitirão não só melhorar a experiência de todos aqueles que vão trabalhar e assistir aos jogos mas também o desenvolvimento em áreas tão cruciais quanto a mobilidade e as cidades inteligentes, algo em que as nipónicas Toyota e Panasonic estão já a trabalhar arduamente. Tal como em 1964 os jogos foram o pretexto para avançar com o comboio de alta velocidade e as sofisticadas vias de circulação automóvel da capital nipónica, Tóquio 2020 será a vez das autoestradas da informação.
Outra das promessas, só possível com o 5G, será a implementação do 3DAT (3D Athlete Tracking), o rastreio de atletas em 3D através da utilização de Inteligência Artificial de última geração, que vai permitir a construção de imagens a três dimensões para inclusão, quase instantânea, nas transmissões televisivas, nomeadamente nas provas de atletismo. A par disto, também a realidade virtual terá um papel fulcral em Tóquio 2020, com a criação, por exemplo, de estádios e pavilhões virtuais. Isto permitirá à organização recriar todos os espaços e, assim, treinar os funcionários e voluntários, simulando as respostas a dar em casos de emergência. Finalmente, a aposta tecnológica vai permitir a introdução do reconhecimento facial em todas as instalações, o que vai melhorar a segurança e a rapidez de circulação de atletas, funcionários, voluntários, técnicos e jornalistas.
Preocupações ambientais
Com o acidente nuclear de 2011 ainda bem fresco na memória, são naturais as preocupações ambientais extremas do COI e da organização de Tóquio 2020. No momento da candidatura, o Governo japonês prometeu investir mais de 420 milhões de euros só na contenção da radiação em redor da central nuclear de Fukushima, região para onde, aliás, estão agendadas provas dos torneios de basebol e softbol. Além disso, para assinalar a reconstrução, será também em Fukushima que, no próximo dia 26 de março, terá início a estafeta de 121 dias que levará a tocha olímpica por 47 prefeituras do Japão (passando pelo monte Fuji e por Hiroxima) até ao Estádio Olímpico de Tóquio.
Os critérios de sustentabilidade estiveram igualmente na origem da decisão de manter o evento no menor espaço possível, por forma a minorar o tempo e os custos ambientais das deslocações. Daí que, dos 33 locais de competição em Tóquio, 28 se situem num raio de oito quilómetros em torno da Aldeia Olímpica. Outro exemplo foi a opção tomada na reconstrução do Estádio Nacional de Tóquio, sede dos jogos de 1964. O projeto inicial era da autoria da arquiteta Zaha Hadid, mas foi posteriormente descartado por ser demasiado caro. A opção recaiu, então, no desenho do arquiteto local Kengo Kuma. A obra foi concluída antes do prazo previsto, custou 1 290 milhões de euros (menos do que estava orçamentado) e terá capacidade para 68 mil espectadores. Ao seu redor estão a ser plantadas milhares de árvores e o recinto terá um sistema de retenção da água da chuva, que servirá para regar o relvado e as plantas que existirão no exterior. Menos ambientalmente sustentáveis são, no entanto, os 185 ventiladores de grandes dimensões e os oito nebulizadores que serão instalados, na tentativa de minorar os efeitos dos cerca de 400C que será normal fazerem-se sentir em Tóquio durante os Jogos. Não há milagres.
Ausências marcantes
Em termos desportivos, o destaque de Tóquio 2020 vai para a ausência da Rússia, proibida de participar por um período de quatro anos em todas as competições globais pela Agência Mundial Antidopagem. Alguns atletas russos poderão participar com o estatuto neutral, mas certo é que não se ouvirá o hino russo nas cerimónias de entrega de medalhas. Ausências marcantes serão também as de dois atletas míticos: Michael Phelps e Usain Bolt. O nadador norte-americano é o recordista mundial de medalhas olímpicas, somando 28 (23 das quais de ouro) nas últimas quatro edições dos jogos, desde 2004. O velocista jamaicano conta com nove medalhas de ouro, distribuídas por 2008, 2012 e 2016. Será Tóquio 2020 o palco para novos mitos aparecerem?
Defender o título em modo nómada
Portugal vai defender o cetro de campeão da Europa na primeira fase final disputada em 12 países
A ideia saiu da cabeça de Michel Platini, um génio quando jogava futebol mas uma figura bastante controversa enquanto ocupou o cargo de presidente da UEFA. Uma das grandes marcas do seu mandato, que acabou devido a suspeitas de corrupção, foi a decisão de organizar um campeonato da Europa descentralizado, como forma de assinalar o 60º aniversário da prova. Assim, entre 12 de junho e 12 de julho, o Euro 2020 vai realizar-se em 12 cidades de 12 países membros da UEFA. Uma lufa-lufa para equipas como Portugal que, não sendo país organizador, se vê obrigado a voar vários milhares de milhas para defender o título de campeão conquistado, em 2016, em Paris.
Para Portugal, a fase de grupos da competição obrigará a defrontar a Alemanha, em Munique, e a duas deslocações a Budapeste, na Hungria, para enfrentar França e uma destas quatro equipas, a definir nos play–offs: Islândia, Bulgária, Hungria ou Roménia. No caso de conseguir o apuramento para as fases seguintes, a Seleção Nacional entrará numa roda-viva de viagens que podem obrigá-la a deslocar-se a cidades tão distantes como Bilbau e Baku, no Azerbaijão. Consoante os resultados conseguidos no Grupo F, Portugal pode também ter de ir a Dublin, Roma ou São Petersburgo, bem como regressar a Bucareste ou Munique. Tranquilidade só terão as equipas que conseguirem apurar-se para as meias-finais, pois os dois jogos dessa fase e a final serão todos disputados no Estádio de Wembley, em Londres. A esperança é de que Portugal lá esteja, com uma equipa decidida a revalidar o título e jogadores carregadinhos de milhas para passarem o resto do ano a viajar à borla.