“Qualquer conversa sobre protetores solares deve começar com o reconhecimento de que há indícios claros de que [o protetor] previne o cancro da pele”, começa por salientar Richard Weller, dermatologista da Universidade de Edimburgo. No entanto, segundo alguns investigadores, os protetores solares a ser comercializados podem conter substâncias que não são totalmente seguras e, algumas, chegam a ser prejudiciais para a saúde.
No início deste ano, a Food and Drug Administration (FDA) – um dos dois principais reguladores internacionais da composição dos protetores solares, juntamente com a Comissão Europeia, removeu 14 dos 16 químicos encontrados em protetores solares da sua categoria GRASE (avaliação atribuída a produtos seguros e eficazes).
Os protetores utilizam um filtro para preservar a pele dos efeitos raios UV. O mais comum em todo o mundo é a oxibenzona. Alguns estudos em ratos concluíram que a oxibenzona, bem como os parabenos e ftalatos, podem perturbar o funcionamento do sistema endócrino, ou seja, interferem com as hormonas. Laura Vandenberg, professora de Saúde Pública e Ciências da Saúde na Universidade de Massachusetts Amherst, afirma que a maioria dos desreguladores endócrinos afeta os fetos e a fertilidade masculina. No entanto, nenhuma destas consequências foi, até ao momento, comprovada em seres humanos. De facto, uma equipa de investigadores, em 2011, calculou que para atingir a mesma quantidade cumulativa de oxibenzona que foi administrada aos ratos, em média, uma mulher americana teria que aplicar protetor solar diariamente durante 34 a 277 anos, dependendo da quantidade de aplicações diárias.
Mas, além das preocupações com componentes específicos, há quem esteja preocupado com a possibilidade de os protetores solares estarem a bloquear uma quantidade de benefícios do sol, incluindo vitamina D. Rachel Neale, professora no instituto QIMR Berghofer explica que “o funcionamento [das ondas que provocam] queimaduras solares é diferente da [ondas que] produzem vitamina D, e há um conjunto de indícios que sugerem que aplicar protetor solar não parece influenciar muito os níveis de vitamina D”.
A radiação UV também liberta óxido nítrico, uma molécula produzida no corpo, que dilata os vasos sanguíneos e reduz a pressão arterial. “Um crescente número de indícios sugere que o [óxido nítrico] é importante para a saúde cardiovascular e provavelmente reduz as doenças cardiovasculares, algo mais importante do que prevenir o cancro da pele”, considera Richard Weller. Weller argumenta que reduzir o risco de doenças cardiovasculares é mais importante do que reduzir a taxa de cancro de pele, porque as doenças cardíacas matam uma proporção muito maior de pessoas – são a principal causa de morte no mundo.
Cheryl Woodley, investigadora da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, alerta ainda para o facto de os componentes dos protetores solares não serem apenas prejudiciais para os seres humanos, mas também para a vida marinha. “Químicos como a oxibenzona podem atuar como desreguladores endócrinos e causar mudanças no sexo dos peixes, redução do seu crescimento ou da produção de ovos”, conta.
Até que existam resultados conclusivos sobre os efeitos potenciais dos filtros UV absorvidos pela pele, ou alternativas que não contenham ingredientes associados a riscos para a saúde, o consenso entre os especialistas é de que a maneira mais saudável de nos protegermos do sol é com roupa, sombras e evitando o sol do meio-dia. Um protetor solar com filtros inorgânicos também pode ser uma boa opção.