Diana Madeira quer saber se as alterações climáticas podem acabar com uma espécie de minhocas marinhas do género científico Ophryotrocha. Olhando para elas, uns vermes minúsculos que mais parecem centopeias viscosas, é fácil pensar que a sua extinção, seja por que razão for, não traz grande mal ao mundo. O problema é que nunca seriam só estas minhocas a desaparecer. Se se extinguirem os organismos que constituem a base da cadeia alimentar dos oceanos, o resto da pirâmide desmorona-se.
Cada coisa a seu tempo. Para já, a preocupação da investigadora portuguesa, de 30 anos (uma das quatro vencedoras da 15ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência), é a de avaliar a forma como as minhocas marinhas se alteram ou adaptam, a nível molecular, à poluição e ao aquecimento dos oceanos – até à terceira geração.
“Os mecanismos moleculares envolvidos na resposta multigeracional às alterações globais ainda são praticamente desconhecidos”, diz Diana Madeira, do CESAM (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar)/Ecomare – Laboratório para a Inovação e Sustentabilidade dos Recursos Biológicos Marinhos, da Universidade de Aveiro. Outros investigadores de vários países estão a estudar os efeitos das mudanças do clima em animais, mas a abordagem das consequências em gerações distintas é praticamente inédita. “Retirámos amostras em cada geração e agora vamos fazer análises ao nível das proteínas, que são, no fundo, as unidades funcionais da célula, para perceber como varia a função celular ao longo das gerações expostas às alterações climáticas.”
As minhocas marinhas foram submetidas a um aumento de poluição por metais pesados e à temperatura que se espera para 2100: +3oC (e +6oC, simulando uma onda de calor no fim do século). Sem querer adiantar muito, uma vez que esta fase do estudo ainda não terminou, a investigadora revela que “nos cenários extremos, há alguma redução na capacidade de sobrevivência”.
Uma conclusão que vai no mesmo sentido de outras investigações com uma só geração de animais – os organismos gastam energia a lidar com o stresse provocado pelas mudanças nas condições e nos ecossistemas, o que lhes prejudica o crescimento e a reprodução. “Para algumas espécies, será difícil a adaptação rápida”, alerta a cientista, que já no seu mestrado em Ecologia Marinha concluíra que as alterações climáticas são um risco para algumas espécies da nossa costa, como o sargo.
E a questão não se esgota nos vermes marinhos, afirma Diana Madeira. É curto o caminho da minhoca aos grandes vertebrados e aos animais mais emblemáticos – sem presas, não há predadores. E o Homem é o predador no topo da pirâmide. “Se as populações na base da cadeia alimentar colapsam, haverá um efeito em cadeia.”
É essa também a ilação de uma investigação da Universidade de Flinders, Austrália, publicada no ano passado na revista Scientific Reports: a extinção de certos animais ou plantas pode causar um efeito dominó que, no pior cenário, pode conduzir à aniquilação de toda a vida na Terra.
As próximas vítimas?
Estes são alguns dos animais em perigo de extinção devido às alterações climáticas:
Urso-polar: É a cara do aquecimento global. Devido à redução extraordinária de gelo marinho no Ártico, os ursos são obrigados a nadar distâncias cada vez maiores para encontrarem plataformas onde caçar focas, que constituem a maior parte da sua dieta. Muitos podem morrer afogados, devido à exaustão, ou de fome.
Foca-anelada: A principal presa do urso-polar partilha com o seu predador o mesmo futuro negro devido às alterações climáticas, e pela mesma razão: o degelo torna mais raras as plataformas que lhe servem de habitat. Mas há estudos que indicam que as focas-aneladas têm uma hipótese decente de sobreviverem e até de prosperarem – se o urso-polar se extinguir primeiro.
Pinguim-de-adélia: No polo oposto, estas aves estão também em risco, mas por motivos muito diferentes. Mudanças na temperatura das águas na Antártida estão a alterar a localização das reservas de peixe de que se alimentam, obrigando-as a deslocar-se grandes distâncias em busca da sua presa preferencial ou a comer krill, muito menos nutritivo.
Tartarugas marinhas: Além do desaparecimento de praias onde as tartarugas põem ovos (por causa de tempestades mais violentas e da subida do nível do mar), areias mais quentes levam a que mais tartarugas nasçam fêmeas – é a temperatura da areia que determina o sexo destes répteis.
Corais: Organismos extremamente sensíveis, têm sido dizimados pelo aumento direto da temperatura dos oceanos, mas também pelas suas consequências indiretas: acidificação das águas, devido ao CO2, e tempestades mais frequentes e extremas.
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