A ausência de marcos sólidos à superfície, assim como o campo magnético invulgar deste gigante gasoso, têm complicado a vida aos cientistas que, há décadas, tentam monitorizar a sua rotação. A resposta, estava, afinal, nos anéis, como explica a NASA, enquanto anuncia que um dia em Saturno tem 10 horas, 33 minutos e 38 segundos.
Antes do mergulho fatal na densa atmosfera densa do planeta, em setembro de 2017, a Cassini registou detalhadamente os icónicos anéis. Os dados foram agora usados por Christopher Mankovich, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, para estudar os seus padrões. A nova análise, publicada no Astrophysical Journal, permitiu concluir que os anéis respondem às vibrações do planeta, como se fossem os sismómetros usados na Terra para avaliar o movimento provocado pelos terramotos. Ou seja, o interior de Saturno vibra em frequências que causam variações no seu campo gravitacional e os anéis detetam esses movimentos.
Mankovich descobriu que em sítios específicos dos anéis, estas oscilações “apanham partículas dos anéis mesmo na altura certa das suas órbitas para acumular gradualmente energia e essa energia transforma-se numa onda observável”.
A partir desta descoberta, o investigador desenvolveu modelos da estrutura interna do planeta de forma a coincidir com as ondas dos anéis, o que lhe permitiu seguir os movimentos no interior de Saturno e, na sequência, a sua rotação.
A conclusão de que um dia no gigante gasoso tem 10:33:38 retira vários minutos à estimativa anterior, que data de 1981, ainda com base no sinais de rádio da Voyager, e que atribuía ao dia de Saturno uma duração de 10:39:23. Mesmo já com dados da Cassini, as estimativas oscilavam entre as 10 horas e 36 minutos e as 10 horas e 48.
“Os investigadores usaram as ondas nos anéis para espreitar para o interior de Saturno e saltou à vista esta característica há muito procurada do planeta”, congratula-se Linda Spilker, do projeto Cassini.
“A resposta estava nos anéis”, conclui.
Vem de 1982 a ideia de usar anéis de Saturno para estudar o interior do planeta. Na altura, Mark Marley, do Ames Research Center da NASA, mostrava como os cálculos podiam ser feitos e previa onde se poderiam localizar as assinaturas nos anéis. O que faltava? As observações da Cassini, então ainda em fase de planeamento.