“Os antidepressivos são um instrumento eficaz no tratamento da depressão”, afirma, perentório, o investigador Andrea Cipriani, do Oxford Health Biomedical Research Centre, o instituto que conduziu recentemente um estudo sobre a eficácia destes medicamentos.
De acordo com o professor da Universidade de Oxford, alguns médicos e pacientes duvidam do poder dos antidepressivos e reduzem-nos ao efeito placebo. Outros desconfiam dos resultados apresentados pelas farmacêuticas ou simplesmente recusam-se a tomar medicamentos para problemas de saúde mental.
Os resultados deste novo estudo, acredita o cientista, vêm desfazer estes preconceitos. Conduzida ao longo de seis anos, por uma equipa de especialistas internacionais, a investigação analisou mais de 500 ensaios clínicos, comparando antidepressivos diferentes ou medicamentos e placebos.
A fluoxetina – o princípio ativo do Prozac, por exemplo – revelou-se uma das drogas menos eficazes, mas uma das mais toleradas pelo corpo humano (menos pacientes desistem de a tomar e regista escassos efeitos secundários).
Já o medicamento mais eficaz nos ensaios clínicos foi a amitriptilina. No entanto, ficou classificada em sexto lugar na lista das mais bem toleradas pelos pacientes.
Na combinação entre eficácia e tolerância, as melhores posicionadas foram a agomelatina, o escitalopram e a vortioxetina. As piores classificadas seriam a fluvoxamina, reboxetina e o trazodone.
Os investigadores aconselham a prescrição de amitriptilina e venlafaxine apenas em casos de depressão severa.
O cientista Andrea Cipriani sublinha que, apesar da hierarquia feita pelo estudo, todas as drogas analisadas podem ter a sua utilidade, consoante o caso particular de cada paciente.
Tratar em vez de ignorar
Cerca de 60% dos participantes analisados tiveram uma redução dos sintomas para metade ao fim de dois meses do consumo de antidepressivos. A melhoria da disposição e do sono foram alguns dos benefícios notados. Outro dado relevante é 80% das pessoas terem parado de tomar os medicamentos ao fim de um mês.
Os tratamentos com recurso à psicoterapia também se mostraram eficazes, tendo uma taxa de sucesso bastante similar à dos medicamentos.
Segundo os investigadores, apenas uma em cada seis pessoas recebe tratamento adequado para a depressão no mundo desenvolvido. No resto do mundo, o rácio diminui para uma em cada 27.
Caso se verificassem estes valores nos pacientes oncológicos ou cardíacos, dizem, haveria uma indignação generalizada da opinião pública.
A maior parte dos medicamentos atuam aumentado o nível de serotonina, um neurotransmissor diretamente associado à depressão, mas não é certo que esta seja a melhor forma de combater a doença.
O professor de epidemiologia psiquiátrica da Universidade de Oxford, John Geddes, afirmou, ao jornal britânico The Guardian, que “não existem atualmente tratamentos muito precisos contra a depressão”.
A controvérsia em torno dos antidepressivos e a dificuldade em descobrir novas drogas neurológicas levou as farmacêuticas a abandonarem a investigação. “É um grave problema que a indústria tenha desistido de continuar a pesquisar por ser uma área tão desafiante”, acrescentou o investigador.
A depressão afeta cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo, tendo aumentado quase 20% na década entre 2005-2015.
Os autores do estudo esperam que os resultados agora obtidos contribuam para diminuir o estigma em torno das doenças relacionadas com a saúde mental e, claro, do seu tratamento.