Lê-se que Anthony Bourdain se enforcou num quarto de hotel em Estrasburgo e logo se pensa: “Como é possível? Um homem com uma profissão de sonho.” Realmente, ele deveria ser das pessoas mais invejadas do planeta. Passava os dias a viajar por paragens mais ou menos improváveis,a conhecer pessoas de todo o mundo e a provar da comida local.
Os seus programas de televisão, que agora passam na 24 Kitchen (9ª temporada), mostravam um homem tão ao natural, que os seus fãs acreditam que realmente o conheciam. Daí as expressões como “estou em choque” ouvidas logo após a notícia ser confirmada. Os mais aguerridos colecionam os programas na box da televisão.
Os portugueses que agora se chocam e comovem com este inexplicável fim de vida de Anthony Bourdain, aos 61 anos, conheceram-no em janeiro 2010, quando a SIC Radical estreou o No Reservations. Em 2009 já ele visitara os Açores e se deslumbrara com a beleza das ilhas. Mais tarde, em 2011, viria a Lisboa fazer um programa em que se fez acompanhar, entre outros, pela dupla Dead Combo e por Carminho. A última vez que esteve em Portugal foi no Porto, em 2017, e comeu francesinhas num dos momentos do programa Parts Unknown.
Antes de ser uma estrela planetária de televisão, Anthony Bourdain tornou-se num conceituado chefe da Brasserie Les Halles (era formado pelo Culinary Institute of America), em Nova Iorque, cidade onde nasceu. Mais tarde, em 2000, conquistou o público com o seu livro Kitchen Confidential, que mostra o lado menos glamouroso da gastronomia e da sua vida profissional.
No início dos anos 1980, Bourdain casou-se com a namorada da escola e só se divorciou duas décadas depois. Voltou ao altar em 2007, ao lado de uma italiana (que às vezes também aparecia nos seus programas). Desse casamento nasceu a sua única filha, hoje com 10 anos. Separaram-se há dois anos e, pouco depois, começou a postar fotos ao lado da realizadora italiana Asia Argento, que conheceu num episódio em que andou por Roma. Desde então, os mimos trocados entre os dois passaram a ser uma constante nas redes sociais.
Era um alvo em constante movimento. No final de maio esteve em Hong Kong e, curiosamente, foi a sua namorada quem realizou esse episódio da 11ª temporada, que já passou na CNN, a 3 de junho. No início desta semana, gravou em Berlim (história que será transmitida a 10 de junho nos EUA) e a morte apanhou-o em Estrasburgo, em França. Foi o seu amigo e colega de equipa, Eric Ripert, que o encontrou no quarto de hotel.
Há quatro dias deixou o último post no Instagram: “Light lunch. #Alsace“, legendava ironicamente a fotografia de um prato de chucrute, provado na Alemanha.
No genérico de No Reservations, ouvia-se a sua voz a anunciar: “Viajo, escrevo e como. E tenho fome por mais.” Infelizmente, perdeu o apetite.