Se o freguês não vai ao restaurante, vai o restaurante ao freguês. De mesa posta numa casa da Graça, centro de Lisboa, famintos q.b., quatro jornalistas da VISÃO começam o teste. São 13h14 de uma quinta-feira quando se dá o tiro de partida. O plano: pedir comida japonesa de quatro restaurantes diferentes, usando quatro serviços distintos de entrega ao domicílio, gastando um máximo de €15 por pessoa.
Cabeças enfiadas nos telemóveis, polegares apontados às apps, os resultados podem ser consultados no final deste texto. Na rapidez, o vencedor foi claramente a Uber Eats, com a NoMenu a demorar o dobro do tempo, seguida de perto pela SendEAT, e a Glovo em último – ainda que a responsabilidade não possa ser imputada às empresas de entregas. Já a qualidade é aos restaurantes que cabem os louros, quando é caso para isso. De que outras formas se distinguem, então, serviços que basicamente fazem a mesma coisa, quando essa coisa é levar comida de A a B?
Cada um tenta destacar-se à sua maneira. A Uber Eats aposta na fama da casa-mãe e na massificação da oferta – em cinco meses, passou de uma base de 90 restaurantes para 350. A NoMenu vale-se do facto de ser uma empresa nacional e da humanização do serviço (tanto para pedir uma encomenda como para reclamar, é possível ligar para um número de telefone). A SendEAT, também portuguesa, é mais forte no Porto, onde nasceu, e, diz o CEO, cobra comissões mais baixas do que a concorrência, de modo a conseguir angariar restaurantes menos predispostos a abrir mão de boa parte das receitas. A espanhola Glovo, além de investir abundantemente em publicidade, tem uma gama de serviços que vai para lá da comida: faz entregas de medicamentos, produtos de supermercado, recados, etc.
“As refeições ao domicílio estão a tornar-se um produto de lifestyle”, garante José Luís Gramaxo, cofundador e CEO da SendEAT. Um lifestyle que se nota no crescimento da empresa. “Hoje, temos mais de 300 estafetas, e 350 a 400 restaurantes. Não vou divulgar números de entregas, mas posso dizer que, em março, crescemos 40% e, em abril, 25 por cento.” O gestor admite que sentiu o peso da concorrência – a Glovo iniciou as operações em Lisboa, em outubro, um mês depois da SendEAT, e a Uber Eats em novembro. Mas acredita que haverá espaço para todos, agora que as pessoas estão mais motivadas para recorrer a estes serviços.
Este é um novo ciclo, concordam Lorenzo Herrero e Jorge Ferreira, os fundadores da NoMenu, presente em 18 zonas urbanas portuguesas. “A parte boa da concorrência é mexer o mercado. Está a abrir e muito, sobretudo na franja dos millennials”, afiança Lorenzo. Atualmente, a NoMenu faz “mais de mil entregas por dia, a uma média de 27 a 28 euros por encomenda”; 80% dos clientes são “pessoas com poder de compra, entre os 18 e os 45 anos”, exemplifica Jorge Ferreira.
Os restaurantes agradecem
Apesar de se dizerem satisfeitos com o rumo do mercado, os dois administradores da NoMenu sentem que não lutam em igualdade de circunstâncias com os adversários. “O mercado está elástico, sim. Mas é uma concorrência desleal, com uma empresa [a Uber] que pode perder dinheiro durante muitos anos. Nós não temos um fundo por trás. É o nosso investimento, só. E não temos vínculos precários com os funcionários”, comenta Lorenzo Herrero.
Por email, “fonte oficial da Uber” assume que a sua maior preocupação é afinar a tecnologia da app, para facilitar a vida ao cliente. “Os utilizadores valorizam detalhes, como ter opção de conhecer os pratos mais vendidos, personalização das suas preferências e não ter um pedido mínimo [mas há sempre uma taxa de serviço de €2,90].
Estes serviços já representam uma fatia considerável do movimento de alguns restaurantes (ainda que as receitas não sejam idênticas às de um cliente na mesa, devido às comissões pagas às empresas de entregas). A VISÃO falou com os gerentes de três hamburguerias de Lisboa, que se mostraram satisfeitos com a experiência. “Notou-se bastante a diferença. Temos 60 a 100 encomendas por mês, duas ou três por dia. Alguns são clientes que de outra forma não viriam cá”, diz Liliana Marinho, da Hamburgueria do Tecnyco. “Há imensa saída. Num dia bom, temos 30 pedidos para fora”, afirma Sara Borges, da Hamburgueria da Parada. “Há dias de 12 pedidos, outros de 30 ou 40, com a média nos 20 por dia”, calcula Nuno Borges, da Hamburgueria A Gina.
Isto não significa que a experiência gastronómica seja exatamente a mesma. “Apesar de tudo, é diferente: aqui as batatas saem quentes e estaladiças”, lembra a gerente da Hamburgueria do Tecnyco. Um pequeno preço a pagar pelo conforto de jantar fora sem sair de casa – ou os inconvenientes da conveniência.
O teste
Pedimos comida japonesa de quatro restaurantes diferentes. E o resultado também foi diverso
![uber.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/12479100uber.jpg)
UberEATS
13h17 Pedido
13h35 Recebido (cinco minutos antes da hora prevista)
Restaurante Noori, no Monumental (Saldanha)
-1 combi do chefe e uma sopa miso: €13,85 (€10,95 + €2,90 de taxa de entrega)
– Pago com multibanco
– Fatura com NIF entregue em mãos
José Carlos Carvalho
NoMenu
13h18 Pedido
13h54 Recebido (nove minutos depois da hora prevista)
Restaurante SushiCome, em Alvalade
– 1 caixa de sushi misto e 1 caixa de nigiris de salmão e de gambas: €18,90 (€15 + €3,90 de taxa de entrega)
– Pago com multibanco
– Fatura com NIF entregue em mãos
José Carlos Carvalho
SendEAT
13h16 Primeiro pedido cancelado, porque o restaurante, Sushishop, não respondia
13h23 Novo pedido
13h27 Chega email de confirmação, com entrega prevista para daí a 41 minutos (14h08)
14h00 Recebido (8 minutos antes da hora prevista)
Restaurante Sakura, em Picoas
– 1 sashimi misto: €14,5 (€10,05 + €2,95 de taxa de entrega + €1,5 de taxa extra por ser um pedido inferior a €15)
– Pago com multibanco
– Pedimos fatura por email no dia 24 de abril; chegou 5 minutos depois
![IMG_20180429_124203.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/12479108IMG_20180429_124203.jpg)
Glovo
13h24 Primeiro pedido cancelado porque o restaurante, Sushi dos Sá Morais, estava sem luz
13h32 Novo pedido
14h14 Recebido Restaurante Sushi Shop, na Praça de D. Luís
– 1 classic mix (17 peças de sushi e sashimi): €15,80 (€13,90 + €1,90 de taxa de entrega)
– Débito direto no cartão associado à conta Glovo
– Fatura sem NIF (o sistema não deixou pedir com outro NIF que não o associado ao perfil pessoal)
. Pedimos fatura através do site no dia 24 de abril; seis dias depois, continuamos sem resposta