Redenção. Expiação. Salvação. Mas não a qualquer preço e, sobretudo, não de qualquer maneira. Nem sozinhos. Nos Estados Unidos, onde segundo números oficiais citados pelo Guardian, haverá mais de 230 mil profissionais de relações públicas, dificilmente algum famoso apanhado em falso pelo movimento #MeToo irá tentar reabilitar a sua reputação perdida sem ajuda especializada. “Recebi mais telefonemas no último mês do que no ano passado”, contava um guru de Relações Públicas a uma publicação do setor em novembro, pouco depois de estalar o escândalo que envolveu o produtor de cinema Harvey Weinstein, estendendo-se rapidamente a outros homens famosos e poderosos.
Seis meses passados, os melhores spin doctors andam tão agitados que a correspondente do Guardian em Washington quis saber quem está a preparar um regresso ao mercado de trabalho e, eventualmente, à fama. A jornalista Lucia Graves começou por ouvir Evan Nierman, fundador da Red Banyan, empresa de RP especialista em gestão de crise, dizer não acreditar que Weinstein possa regressar alguma vez. Muito menos agora que o cofundador dos estúdios Miramax e da produtora Weinstein Co., acusado de abuso e assédio sexual por mais de 70 mulheres, entre elas várias atrizes, se entregou à polícia de Nova Iorque. “Em certos casos, o conselho devia ser: ‘Precisa de um banho de realidade’, não vai haver regresso”, admite Nierman, acrescentando que aconselharia alguns clientes a desfrutarem da sua riqueza numa praia qualquer.
Não parece ser esse o entendimento de todos os profissionais de RP que trabalham para famosos apanhados na teia do #MeToo. Segundo a secção Page Six do tabloide New York Post, o apresentador de televisão Charlie Rose – despedido da CBS e da PBS logo em novembro, depois de ter sido acusado de apalpar colegas e de andar nu à sua frente, alegações que continua a negar – está a preparar uma série de televisão em que entrevistará outros homens que foram acusados como ele. Resta saber se encontrará algum produtor interessado em alinhar nesse seu caminho para a redenção em público.
Também o conhecido chef Mario Batali sonha com um eventual regresso às antigas lides profissionais. Acusado por diversas mulheres de comportamento inadequado e abusivo, pediu desculpa, retirou-se de cena e anunciou que vai fechar no final de julho os três restaurantes que tem em Las Vegas. Mas, de acordo com amigos e sócios, prepara um segundo ato “criando uma nova empresa que será liderada por uma chefe executiva mulher”.
O antigo co-apresentador do Today Show Matt Lauer, o comediante Louis CK e o antigo apresentador de rádio Garrison Keillor estarão igualmente a mexer-se para recuperarem as suas reputações. A tarefa dos Relações Públicas passa por tentarem provar que eles já expiaram os seus pecados e merecem uma segunda oportunidade.
Claro que será crucial a gravidade dos delitos e o facto de se tratar ou não de um padrão de comportamento – não estamos, portanto, a falar de casos como o de Bill Cosby, que poderá vir a morrer na prisão. São exemplos como o de Mel Gibson, que dez anos depois de ter sido acusado de anti-semitismo e sexismo conseguiu voltar a trabalhar e até ganhou um Oscar, que lhes dão coragem para acreditarem na salvação.