Does It Fart? A Definitive Field Guide to Animal Flatulence, assim se chama. Sendo difícil traduzir o título do livro sem usar vocabulário deselegante ou, pior, demasiado técnico, infantilize-se a linguagem (até porque ninguém está mais atento ao tema do que as crianças): Dá Puns? Um Guia de Campo Definitivo para a Flatulência Animal. É o tipo de obra que nos diz aquilo que, mais do que ter vergonha de perguntar, nem sabíamos que queríamos saber.
Mas queremos, claro. Os rinocerontes? Sim. Os pássaros? Não. Os polvos? Não. Os peixes? Sim. As focas? Sim, e cheira a peixe. As aranhas? Ninguém sabe, talvez porque ninguém se quer aproximar o suficiente para tentar descobrir.
Dá Puns? começou, apropriadamente, com uma pergunta pueril. Dani Rabaiotti, estudante de doutoramento em zoologia na Sociedade Zoológica de Londres, especialista no seriíssimo tema do impacto das alterações climáticas nos mabecos africanos, foi supreendida por uma dúvida do irmão: as cobras dão puns? A zoóloga não soube responder e pediu ajuda a outro cientista no Twitter. A resposta veio positiva – e um utilizador da rede social até o provou com a ajuda de um clip da série An Idiot Abroad, produzida por Ricky Gervais, onde se ouve claramente uma cobra a expelir gases.
O tweet de Dani Rabaiotti foi visto pelo ecologista americano Nick Caruso, que criou a hashtag #DoesItFart (#DáPuns). O tema ganhou gás na internet, e ao fim de pouco tempo Dani e Nick decidiram que, dado o óbvio interesse do público, o assunto merecia um livro. Juntaram um terceiro elemento, o ilustrador Ethan Kocak, e assim tomou forma Dá Puns?. “No início, espreitámos a informação primária – o nosso próprio conhecimento de animais”, explicou Nick à revista Popular Mechanics. “E depois recorremos ao conhecimento em primeira mão de outros cientistas e tratadores de zoos, e daí fomos ler literatura científica sobre o tema, coisa de que há uma surpreendente quantidade.”
Surpreendentes são também algumas das descobertas de Dani e Nick (que nunca se conheceram ao vivo). Por exemplo, praticamente todos os mamíferos soltam gases, mas não as preguiças – a sua digestão é de tal forma lenta que, se os gases se acumulassem nos intestinos, os animais poderiam adoecer; portanto, o metano produzido pelas plantas que a preguiça come é absorvido na circulação sanguínea, passa pelos pulmões e é expelido pela boca.
As vacas, por seu lado, estão entre os campeões dos gases: cada animal emite 100 a 200 quilos de metano por ano, contribuindo significativamente para o aquecimento global (o metano é dos gases com maior efeito de estufa). Mas as aves não, porque não têm as bactérias responsáveis pela produção de gás nos intestinos – há quase dez mil espécies de aves, mas não há uma única que dê puns.
Algumas espécies de peixe, como os arenques, comunicam entre eles expelindo gases. E há peixes sul-americanos que, se não o fizerem, arriscam a vida: as algas de que se alimentam provocam-lhes tantos gases que os animais flutuam até à superfíce, ficando à disposição de predadores. “Achei hilariante”, confessou Dani Rabaiotti à Vox. “Imagine-se os peixes a debaterem-se perto da superfície, a tentarem desesperadamente dar puns.” Os manatins são outros bichos que soltam gases para conseguirem mergulhar mais facilmente.
E há ainda um inseto, o lomamyia latipennis, que, quando ainda é uma larva, tem gases tão potentes que os usa como arma para matar térmitas, que depois come.
O livro tem sido efusivamente recebido. As críticas na Amazon são largamente positivas, com muitos leitores a garantirem que é uma prenda maravilhosa para crianças, mas também para adultos. Na imprensa, as reações seguem o mesmo sentido, com menos ou mais humor. “Um livro muito necessário” (New York Post). “O único livro sobre flatulência animal de que vai precisar” (The Telegraph). “O tipo de livro que atinge toda a gente” (Scientific American). “Responde às questões importantes” (Popular Mechanics). “Um título adequado” (BuzzFeed).