Supersticiosos? Amantes da tradição? A comunidade chinesa não é assim tão diferente da ocidental no que toca aos rituais de celebração da passagem do ano. Organizam-se festas. Comem-se sementes, apelando à fertilidade. Ou massas, sem cortar os fios, tendo em mente a longevidade. Os peixes e as carnes servem-se inteiros, por se tratar de uma data em que está presente o conceito de unidade e de união.
Espalhados pelo mundo, os chineses não poupam no envio de mensagens, que se multiplicam nestes dias, bem como os gastos com comida, indumentária, atividades com familiares e a comunidade e viagens. Na prática, os festejos começaram a 4 de fevereiro, início do ano solar. O ano lunar, que este ano começou esta sexta-feira, 16, tem alguns interditos associados: lavar ou cortar o cabelo, contrair dívidas ou empréstimos e fazer limpezas são coisas a evitar, não vão trazer infortúnio.
A Liga dos Chineses em Portugal vai receber o ano novo no Casino da Póvoa de Varzim, onde serão homenageadas personalidades que têm contribuído para as relações entre os dois países. O galardão intercultural será entregue à Câmara Municipal de Lisboa e o da personalidade do ano ao ex embaixador de Portugal na China, Jorge Pereira Torres. O comendador Chow Horng Tzer receberá o prémio Yunyi. E esperam-se momentos de beleza, com “o desfile de quibo, indumentária tradicional chinesa, seguida de um espetáculo da escola secundária de Macau, que vieram participar nas festas e estão em Portugal desde dia 9”, informa o Y Ping Chow, presidente da Liga. À semelhança dos seus congéneres, ele mostra-se esperançoso no Ano do Cão, “associado a qualidades como a fidelidade e o cumprimento da palavra dada”.
Espírito canino
Para os mais cépticos, falar em Ano do Cão é propício a provocações como esta: o melhor amigo do homem terá mais sorte e longevidade, sem ir parar ao prato de alguém? Porém, o que é mesmo incontornável e está na boca de todos, dos crentes e supersticiosos aos simples curiosos e aqueles que estudam o tema é este: o que vai trazer-nos o ano chinês 4715, sob o signo do Cão?
Na astrologia chinesa, 2018 será um ano da Terra Masculina, representado pelas montanhas, o que confere uma qualidade selvagem ao Cão, sendo de esperar que haja movimentações nas áreas da agricultura, do imobiliário, da justiça, do ambiente e da segurança territorial. Para trás fica o Ano do Galo, associado à tomada de riscos, a conflitos e equilíbrios precários.
Suzana Mendes, consultora de feng shui e astrologia chinesa, avança com as principais tendências do ano Cão Terra: “Verdade, justiça, proteção e a lealdade são os valores do próximo ciclo, propício à reestruturação e consolidação de projetos empresariais, com destaque para o setor imobiliário e energias renováveis.”
Prognósticos: o melhor e o pior
Concretizar, operacionalizar e defender são os verbos que pautam os dias deste ano, uns mais auspiciosos que outros. É que “apesar de, no plano social, existirem condições propícias para iniciativas solidárias e de proteção da natureza e parcerias de várias ordens, o contraponto é uma certa rigidez e dogmatismo, com ecos na arena política”.
Ditados como “o seu a seu dono”, “fidelidade canina” e “amigo do meu amigo meu amigo é” ganham uma maior relevância agora. Para melhor: “Face ao Galo, individualista, ‘dono da capoeira’ e conduzido pelo ego, o Cão move-se pela justiça e desejo de estruturar e o que não tiver estrutura não vai vingar.” O elemento Terra confere “uma energia mais lenta” e potencialmente menos turbulenta, com condições favoráveis à atenuação dos conflitos a ferro e fogo a que assistimos no ano anterior.
No seu pior, “é de prever a possibilidade de extremismos, bloqueios de comunicação e inflexibilidade, sem disposição para ceder ou entrar em diálogo, não chegando a acordo”. Muito cuidado, pois, com “palavras proferidas como pedras da montanha, com mal entendidos ou jogos para medir forças”. E um incremento da atividade sísmica e vulcânica.
As cores do Cão Terra
Suzana, que nasceu num ano do Cão, sugere que algumas palavras-chave para os meses que e seguem: paciência, aceitação e bom senso, para acolher e lidar com o que houver.
Uma coisa é garantida: ninguém consegue controlar o futuro nem as circunstâncias. Apenas a atitude face a elas pode fazer a diferença.
A melhor maneira de viver de acordo com o calendário lunar chinês inclui ainda a “ajuda” preciosa das linhas orientadoras do feng shui, a arte de organizar a casa com o intuito de maximizar o bem-estar e atrair sorte e fortuna. A consultora sugere as cores mais propícias para acolher e ambientar-se aos eventos que aí vêm e que apelam a parcerias e compromissos, reforçando os que estão bem e fazer ajustes aos que não estão. Neste cenário, parece estar fora de jogo o lema “com um vestido preto eu nunca me comprometo”.
As cores que potenciam o sucesso no ano do Cão Terra são “o vermelho, o carmim e o rosa”. Num ano marcado pelo registo pragmático e elegante, a influência e o reconhecimento convocam cores como “o branco e o cinza prateado e dourado”.