Não têm faltado nos últimos anos os avisos, em tom cada vez mais alarmante, sobre o “apocalipse” pós-antibióticos, com a Organização Mundial de Saúde a prever que, caso o atual curso não seja interropido, as bactérias super-resistentes matem 10 milhões de pessoas até 2050. Praticamente o equivalente a toda a população portuguesa nos próximos 30 anos…
No início do mês, uma conferência da Sociedade Americana de Microbiologia assistiu a mais um alerta: as bactérias com o gene mcr-1, que lhes dá resistência a um antibiótico considerado de “último recurso”, a colistina, estão a alastrar-se pelo mundo a um ritmo acelerado. A ponto de, numa região na China, 25% dos doentes internados em hospitais serem agora portadores do gene.
Mas a comunidade científica já tem um plano e passa agora por modificar os antibióticos atuais de forma a aumentar-lhes a potência milhares de vezes.
Uma simples mutação genética numa estirpe bacteriana torna um antibiótico inútil, pelo que o que os investigadores estão a tentar é alterar o mecanismo de ataque dos antibióticos. E o segredo pode estar nos iões de prata. Uma equipa da Universidade de Boston, nos EUA, descobriu que um antibiótico convencional, reforçado com estes elementos, torna-se capaz de matar entre 10 a mil vezes mais bactérias, incluindo muitas das estirpes resistentes.
O uso da prata no tratamento das infeções não é novo: dos anos 400 a.C., na Grécia, há descrições da sua utilização, que tem dois resultados: afeta o metabolismo das bactérias, levando-as a autodestruírem-se, e torna-as mais permeáveis aos antibióticos.
Falta ainda a esta técnica passar os testes de segurança, uma vez que o excesso de prata pode ser tóxico para os humanos.
Outra equipa de investigadores, da University College London (UCL), está a tentar uma abordagem diferente, adicionando químicos a um antibiótico. A ideia é conseguir que se junte em aglomerados na superfície da célula bacteriana, capazes de, literalmente, a rasgar e desfazer.