“Eu tenho simpatia por Bárbara Guimarães, mas gosto de ter clientes difíceis. O professor Carrilho não é uma pessoa consensual, nem reúne a simpatia da maioria das pessoas. É uma pessoa frontal, conhecida pelo seu temperamento irrascível.”
Sexto piso do bloco A do Campus da Justiça, Parque das Nações, Lisboa. A manhã já vai a meio quando ouvimos Paulo Sá e Cunha iniciar as alegações finais em defesa de Manuel Maria Carrilho, num segundo processo porviolência doméstica, injúrias e difamação, que envolve Bárbara Guimarães, mas também o seu ex-namorado Ernesto “Kiki” Neves e os amigos Luís Cláudio e Ricardo Pereira.
“Poder-se-ia pensar que por isso injuriou, agrediu, mas isso pode ser enganador”, prosseguiu a defesa, a assinalar que nunca antes se lhe conheceram episódios do género, seguido de um irónico: “Ah, esperem, houve aquela vez em que deixou o adversário de mão estendida, no final de um debate, para umas eleições autárquicas. Mas não me recordo que tenha sido preciso algemá-lo…”
E assim foi desconstruindo, Paulo Sá e Cunha, o responsável pela defesa de Carrilho, os argumentos elencados pela acusação, insistindo que aí existe apenas “um homem de 66 anos, com um profundo afeto pelos filhos”,que “pintar ali um quadro de um facínora, capaz de matar” é “impreciso e falso”, ou mesmo “um cenário bigger than life, cheio de exageros”.
Depois, vieram os “factos”.
Que as imagens recolhidas pelo sistema de videovigilância do prédio onde Bárbara vivia, na tal madrugada em que Carrilho recebeu o tal telefonema do filho, a dizer que ele e a irmã estavam sozinhos em casa, mostram que ele entrou convencido de que, de facto, assim era;
Que faltam dez minutos de imagens que poderiam comprovar se Bárbara e o então namorado, Kiki Neves, estavam no sótão ou na rua;
Que há anotações feitas com a letra de Bárbara a acompanhar essas imagens nas quais se lê: “pode-se apagar” – e que “se há uma manipulação de prova, isso é crime…”;
Que a perícia médica ao menor Dinis, filho de ambos, atestou que tinha um discurso espontâneo e fluído, e não manipulado;
Que sobre o episódio na escola, numa festa das famílias, as testemunhas (que relataram maus-tratos à apresentadora) só coincidem numa frase dita por Carrilho: “sai daqui, sua ordinária”;
Que” Bárbara sabe bem como o arguido, quando provocado, se exalta” e que isso não é “violência doméstica”;
Que havia um pedido de tutela dos filhos, feito por Carrilho, e que confrontos ocorridos naquele contexto têm de ser reduzidos à sua insignificância;
Que as mensagens com conteúdo impróprio recebidas por Kiki Neves (que o advogado haveria de reproduzir em tribunal e que incluem frases como “Querido K, podes f…, chupar-lhe o silicone, serás capado, não escaparás”) mostram “um gosto grosseiro, malcriado, mas não são injúrias”;
Que ele “pode ter querido incomodar, mas não atemorizar”;
E que “se é aquilo que lhes tira o sono… é difícil acreditar”.
E lá pediu a absolvição de Manuel Maria Carrilho de todos os 14 crimes de agressão, injurias e difamação ali a serem julgados.
Na réplica, Pedro Reis, advogado de Bárbara Guimarães, assinalou que o arguido continua a não reconhecer os erros e a considerar-se acima da lei: “apesar do início promissor, afinal o que prevalece, para Carrilho, é a tese da cabala”.
Os outros advogados também terão direto à sua réplica.
O julgamento segue em setembro.