Nos últimos dias, o tema tem sido uma constante nos corredores do antigo Convento de São Francisco da Cidade, construído no topo do Monte Fragoso que hoje conhecemos como Largo da Academia Nacional de Belas Artes. Não admira porque está neste momento em curso mais uma revisão curricular na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. “Pode ser que ainda se vá a tempo de travar esse disparate”, diz uma professora, que pede para não ser identificada.
Ninguém acredita que a História de Arte deixe de ser lecionada em Pintura, Escultura, Desenho ou Ciências da Arte e do Património, mas corre o rumor de que a cadeira estará em risco nas licenciaturas de Arte Multimédia, Design de Comunicação ou Design de Equipamento. E essa hipótese deixa muito boa gente arrepiada.
“No centenário da Fountain de Marcel Duchamp, estas notícias chocam-me”, confessa Leonor Veiga de Oliveira, doutoranda em História de Arte na Universidade de Leiden, na Holanda. “Isto é um ataque à cultura.”
A discussão já saltou para as redes sociais, com docentes, alunos e artistas a defenderem a importância da cadeira na formação em Artes Visuais. “A História de Arte não é uma coisa com teias de aranha”, lembra um outro professor da FBAUL, que também pede para não ser identificado para não ferir as suscetibilidades dos colegas. “Ela vai da Pré-História até aquilo que os artistas estão a fazer hoje nos seus ateliês. A sua importância é tão óbvia que fico perplexo que haja alguém que não o perceba. É como ir a um médico que não estudou anatomia”, compara.
Para este professor universitário, o desaparecimento da História de Arte na licenciatura onde dá aulas ditará o fim da sua carreira. “Se isso for para a frente, vou-me embora”, admite. “A minha inflexibilidade deriva do facto de saber que a maioria dos meus alunos não teve qualquer formação na área antes de chegar à faculdade.”
No Ensino Secundário, a História de Arte é uma disciplina opcional, como fica bem claro no currículo do Curso de Artes Visuais que pode ser consultado no site da Direção-Geral da Educação. Do 10.º ano ao 12.º ano, além das disciplinas obrigatórias que fazem parte da formação geral – Português, Língua Estrangeira I, II ou III, Filosofia (apenas 10.º e 11.º anos) e Educação Física – e do Desenho A, específica deste curso, os alunos podem escolher duas disciplinas bienais entre Geometria A, Matemática B e História da Cultura e das Artes.