Eram 6h30 da manhã de uma quarta-feira, 26 de junho de 2008. Os trabalhadores das obras do novo aeroporto de Beja mal tinham chegado ao trabalho quando deram o alerta. Acabavam de encontrar, sem vida, o segurança de 31 anos que guardava o complexo. O cadáver estava no chão, mesmo à entrada do refeitório do estaleiro. Tinha marcas de agressão na cabeça.
O homicídio teria ocorrido na sequência de um roubo às máquinas de ‘vending’ que estavam instaladas dentro dos contentores da obra. Renderam aos assaltantes 205 euros em moedas e alguns ‘snacks’ e bebidas.
Durante largos meses as autoridades mantiveram alguns suspeitos debaixo de olho. Entre eles estavam dois antigos seguranças do aeroporto que tinham sido despedidos por alegado roubo de gasóleo.
A Polícia Judiciária chegou a fotografar bidãos usados para transportar combustível no automóvel de um dos suspeitos. Tudo parecia indicar que estariam por trás do homicídio.
As buscas às habitações seriam o passo seguinte. Mas um novo dado no processo vem alterar, subitamente, o curso da investigação.
Uma falsa denúncia por vingança?
GNR do Fundão. Dois anos depois do homicídio. É na esquadra da terra onde vivia há poucos meses que Emília Dias apresenta uma queixa contra o marido por violência doméstica. É também nesta altura que a investigação ao crime do aeroporto adquire novos contornos.
Às autoridades, a mulher de António Silva acrescenta uma pesada denúncia. Garante que o marido é o autor da morte do segurança de 31 anos.
O tribunal não ficou plenamente convencido com o depoimento de Emília. “Não revelou muita segurança”, escreveu-se na sentença. Só que ela tinha entregado à polícia uma caçadeira.
A espingarda não foi a arma do crime (o segurança foi morto por agressão) mas tornar-se-ia o elemento decisivo para a condenação. No dia do homicídio tinha desaparecido do aeroporto uma caçadeira que um dos seguranças levara para se proteger da onda de assaltos ao estaleiro.
António Silva garante que a arma que a mulher entregou às autoridades não é a mesma caçadeira que tinha em casa. A meio de uma longa travessia de 16 anos de cadeia, continua jurar inocência.
Mas o que levaria uma mulher a acusar falsamente o marido da prática de um crime? “Só se fosse uma vingança dela porque não sabia que eu tinha uma filha. Tive uma filha no casamento, já a viver com ela. E nao lhe disse nada? Por acaso não”.
‘Vidas Suspensas’, a nova série documental da SIC. Segunda-feira, logo depois do Jornal da Noite.
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