Perde-se na noite dos tempos, os primórdios do Dia das Mentiras. Em Inglaterra, é o April’s Fool Day. Em França, é o Poisson d’Avril. Em Itália, o Pesce d’Aprile. Em quase todos os países, é a 1 de abril que a data se celebra. Na tradição anglo-saxónica, existe o hábito de dizer mentirinhas e piadolas, de pregar pequenas partidas aos amigos. Nada de grave, tudo bastante inocente, brincadeirinha de criança, mentirinha de 1 de abril: dizer-lhes, por exemplo, que têm os atacadores desapertados. Na tradição francófona, subsiste o hábito de pendurar um peixe de papel nas costas de um amigo, dando porventura a ideia, escrevem os almanaques, de que a vítima terá sido apanhada, “pescada”.
Sobre as origens históricas do Dia das Mentiras, dizem-se muitas coisas e, nem de propósito, quase tudo sem grandes certezas. Informação fidedigna proveniente da Enciclopédia Britânica: “As suas origens verdadeiras são desconhecidas e efetivamente impossíveis de conhecer”. Estamos verdadeiramente esclarecidos, portanto. Há quem relacione o dia com o equinócio da primavera, cujas mudanças climatéricas trariam alguma desorientação ao comum dos mortais. Encontram-se também muitas referências ligadas à adopção, no século XVI, do calendário gregoriano, a partir do qual se começou a considerar 1 de janeiro como o início do ano. Algumas pessoas terão, no entanto, continuado a celebrar a chegada do Ano Novo na semana entre 25 de março e 1 de abril e, por isso, seriam chamadas de “tolos” pelos outros que prontamente adotaram o novo calendário.
Acrescenta ainda a Wikipedia que Os Contos de Canterbury, de Geoffrey Chaucer, contêm o primeiro registo escrito que se conhece da associação entre o dia 1 de abril e a tolice. Uma das histórias do livro do século XIV, intitulada Nun’s Priest’s Tale, é passada em “Syn March bigan thritty dayes and two” e os investigadores acreditam ter havido um erro de transcrição do manuscrito de Chaucer, que na verdade o que teria escrito era: “Syn March was gon”. Março já teria passado, e o trigésimo segundo dia de março calha a… 1 de abril. O conto é sobre um galo vaidoso que foi apanhado por uma raposa.
No Dia das Mentiras, alguns jornais costumam publicar notícias falsas, esclarecendo os leitores, na edição seguinte, de que se tratava de “uma mentira de 1 de abril”. Para a história, ficou um documentário, emitido pelo programa Panorama da BBC, a 1 de abril de 1957, sobre as plantações de esparguete na Suíça. Em abono dos milhões de espectadores que então acreditaram na veracidade da notícia, diga-se que, em 1957, o esparguete não era comum nas mesas britânicas. As imagens do documentário (estima-se que tenha sido visto por oito milhões de pessoas) revelavam uma família nas lides da colheita anual do esparguete. Richard Dimbley, jornalista respeitado e a voz do programa do BBC, dizia: “Muitos de vós já viram certamente imagens das vastas plantações de esparguete no vale do Pó [em Itália]. Para os suíços, este é um negócio mais familiar”. “Para os que verdadeiramente adoram este prato, não há nada como o esparguete plantado em casa”, rematava Dimbley. A emissão originou telefonemas de telespectadores para a BBC a perguntar como podiam plantar esparguete em casa.
Nos dias de hoje, com a internet e sobretudo com a proliferação das fake news e da pós-verdade de Donald Trump, a Imprensa tem sido mais comedida na publicação de “notícias” (as aspas impõem-se) de 1 de abril. Há 20 anos, a 1 de abril de 1997, uma mensagem supostamente enviada pelo Massachusetts Institute of Technology avisava os cibernautas que, nesse dia, à semelhança do que acontecia todos os anos, a internet ia fechar para limpezas durante 24 horas. Era capaz de não ser má ideia.