
Luís Barra
Trabalhar num gabinete especializado em arquitetura de saúde, uma área cheia de condicionantes, não era o mais estimulante. A Ricardo Gonçalves, 41 anos, sempre lhe interessou o processo criativo e o trabalho manual, já desde o secundário quando estudava Artes. Durante seis anos, entre 2005 e 2011, ainda arranjava tempo para surfar antes de ir trabalhar, mas um dia começou a magicar uma forma de dar o salto. “Porque não haveríamos de ter um festival de cinema de surf?”, questionou-se. Cresceu na Costa da Caparica com o mar por perto e no seu imaginário infantil os surfistas andavam em pé em cima das ondas, “era uma espécie de magia”, lembra. “Cresci a ver documentários, muitos eram só imagens de ondas com música. Mas agora já existem conteúdos inspiradores.”
Há males que vêm por bem e com a crise no seu auge, Ricardo Gonçalves foi despedido e fez uma jantarada. “Não desisti da arquitetura, desisti de trabalhar para os outros”, diz o mentor e diretor do S.A.L. (Surf at Lisbon) – Festival Internacional de Cinema de Surf, que já vai na quinta edição. Agora, um ano de trabalho de Ricardo resultam em quatro dias de programação (17 a 20 de novembro). Pela tela do Cinema São Jorge, em Lisboa, passam cerca de 30 a 40 filmes, além de exposições e outras atividades ligadas à modalidade, para um público abrangente, desde crianças, aos seus avós, a turistas estrangeiros, um total de 15 mil espectadores nas quatro edições.
Em simultâneo, continua a fazer fotografia de arquitetura. “O mais importante é a produtividade e não ter de dar satisfações”, diz. Se os festivais de San Sebastián, San Diego e Londres são considerados uma referência, os filmes que passam no S.A.L. também ganham prémios lá fora, como “Doze”, de Maria Eça, Miguel Bretiano e Vasco Crespo ou “Uma no cravo e outra no surf”, de Hélio Valentim. Sem filhos, nem encargos de maior, para Ricardo Gonçalves “a parte boa de viver do surf é não depender dele para viver.”