Tanto a Coca-Cola Company como a PepsiCo têm doado milhões de dólares a organizações não governamentais de saúde que têm o intuito de melhorar a saúde pública nacional. Nos websites de uma e de outra, podemos encontrar várias referências ao papel, à missão, aos desafios e à responsabilidade social que as marcas têm hoje em dia, na tentativa de tornar o mundo um sítio melhor. Talvez por isso, os donativos sejam tão importantes.
Mas, ao que parece, estas marcas também são fortes opositoras das propostas de lei que tentem diminuir as taxas de consumo dos seus produtos, a favor da diminuição dos níveis de obesidade e da melhoria da alimentação dos norte-americanos.
Se as empresas gastam milhões ao apoiarem 96 organizações de saúde pública e gastam outros tantos milhões para combater medidas que não vão ao encontro daquilo que essas organizações defendem, qual é, afinal, a verdadeira posição destas marcas? O estudo da Universidade de Boston debruçou-se sobre esta questão, que parece um pouco contraditória.
Depois de analisaram cada um dos apoios a organizações e cada uma das propostas de lei que receberam uma decisão pública das duas companhias, descobriram algumas ligações que podem suscitar problemas.
Entre as 96 está, por exemplo, a Saving the Children, uma organização não-governamental que promove os direitos das crianças. Em 2010, a Saving the Children retirou o seu apoio à proposta de aumento do imposto dos refrigerantes, surgindo com uma posição completamente contrária à anterior de apoiar sugestões deste género. Esta decisão aconteceu pouco depois de aceitarem um donativo de cinco milhões de dólares da Coca-Cola e da Pepsi.
O idêntico aconteceu com a N.A.A.C.P. e a Hispanic Federation, organizações que lutam pelos direitos civis dos afro e hispano-americanos, respetivamente. Depois de aceitarem donativos de milhões de euros destas duas marcas, opuseram-se a iniciativas anti-refrigerantes.
Durante os cinco anos em análise, de entre 29 propostas de lei, a Coca-Cola Company e a PepsiCo foram lobbies contra 28 delas, ou seja, em 97 por cento dos casos. Segundo os investigadores Daniel Aaron e Michael Siegel, estes dados “demonstram o interesse principal de melhorar o lucro, em detrimento da saúde pública.”
Em resposta a este estudo, a PepsiCo respondeu que a companhia está incorretamente caracterizada como uma marca de refrigerantes, porque apenas um quarto dos seus lucros provém daí. Acrescentam ainda a empresa desempenha um papel importante na luta conta a obesidade, “o que inclui o envolvimento com organizações de saúde pública”.
O estudo coloca em causa este tipo de donativos, argumentando “as organizações que aceitam este dinheiro geram conflitos de interesse e uma tendência subconsciente em favor da companhia que doou o dinheiro”. É, por isso, urgente que as organizações encontrem novas fontes de receita e que parem, “indireta e inadvertidamente, o aumento do consumo de sódio que causa danos consideráveis aos americanos.”
Nos EUA, a obesidade é comparada a uma epidemia. Lá, mais de um terço da população adulta (36,5 %) sofre de obesidade e, no caso dos mais novos, uma em cada criança ou jovem é afetada pela mesma doença.
Em Portugal, segundo dados da Direção-Geral de Saúde, mais de 50 por cento dos adultos tem excesso de peso. O Governo está a planear implementar, em 2017, um imposto sobre os refrigerantes, na tentativa de combater o consumo de açucares.