Ao ver o Seinfeld percebi que ser comediante era uma profissão. Mas só comecei aos 20 anos, depois de um workshop que o Steven Rosenfield, diretor do Instituto de Comédia de Nova Iorque, veio cá dar. Era stand-up e escrita para televisão, foi um mês no total, e terminava com uma apresentação. Adorei. Pensei: “É isto que quero fazer.” E, desde esse dia, nunca vacilei.
Nessa altura, ainda estava no liceu – era péssimo aluno. Não sirvo para mais nada. Podia ter dado um jogador de ténis porque era bom e muito frio, mas aos 14 anos a hipótese esvaiu-se. Tirando isso, poderia estar ligado ao marketing. Quase me licenciei e tenho jeito para vender coisas, mas não queria fazer isso. O meu pai ainda hoje me persegue com a ideia de eu ter um plano B para a minha vida. “Devias ter uma coisa fixa.” Os pais têm isso do fixo mesmo que ganhes um milhão.
A minha mãe, como está ligada às Artes [é a escritora Rita Ferro], até me instigou. Cresci no meio de livros e pensava sempre: “Um dia, hei de lá ir”, mas nem sequer li todos os dela. São para aí uns 20, só li três. Gosto mais de crónicas porque consigo ter aquela satisfação: acabei quatro crónicas. Portanto, não posso considerar-me um leitor oficial.
As redes sociais são a farinha do padeiro – ele nunca sai da padaria sem estar sujo de farinha. É muito difícil ser humorista sem estar lá. São audiência. E fica-se viciado porque um post chega a mais gente do que ir ali à televisão, por convite. O Twitter é uma ferramenta onde podemos testar se as piadas funcionam; só não testo todas para não perder o efeito de surpresa.
Para o stand–up escrevo eu, mas na televisão ou na rádio, em que é preciso uma capacidade maior de escrita, tenho o Alexandre Romão, que já me acompanha há dez anos. Agora, que estou a preparar um espetáculo [Tipo Anti-Herói, no Teatro Tivoli, em Lisboa, nos dias 20, 21 e 22 de outubro], começo a escrever logo de manhã porque quero material novo. Este novo solo é basicamente a oportunidade que tenho de fazer jus ao meu nome. Tenho 33 anos e nunca salvei ninguém.
O meu sonho é morar em Amesterdão. Gostava de me mudar no final deste ano e começar a fazer stand- -up em inglês. O meu inglês é médio mas para dez minutos, que é como se começa, dá para decorar um texto certinho. É uma coisa que tenho fisgada porque o mercado aqui é muito pequenino, claustrofóbico. Não precisamos de estar só numa cidade. De avião chego lá tão rápido como de carro ao Porto.