Cláudia Carrilho tem 25 anos, é animadora cultura dos lares e centros de dia da Santa Casa da Mesericódia, em Sagres (79 utentes), Budens (30) e Raposeira (10), no Algarve, e em menos de um ano deu uma reviravolta nos dias deprimidos e tristes dos idosos internados ou frequentadores dos centros de dia.
Porque a maior parte dos idosos se abandonava à sua tristeza e saudade, se recolhiam nos quartos depois do almoço, entregues à amargura, Cláudia tentou inverter o processo e provar que até os idosos podem continuar a sonhar: “Nunca se é velho demais para se sonhar e temos capacidade de sonhar até morrer”. No dia mundial do Sonho (25 de Setembro), entregou uma ardósia a cada um para que escrevessem (ou como a população é maioritariamente rural piscatória e iletrada alguém escrevesse por eles) o seu sonho mais urgente.
Custou-lhe ver que o sonho de muitos deles era ter mais visitas dos filhos e dos netos, que trabalham não têm tempo ou estão emigrados: “Por isso este projeto é também uma chamada de atenção aos familiares em particular e sensibilização à sociedade em geral: hoje são eles, amanhã seremos nós”.
Todos os dias os idosos destes lares têm agora atividades, que podem ser de arte plástica, por exemplo, mas outras que envolvem logísticas complicados. Noutro dia levou-os de carrinha até Portimão, para assistirem a um filme – o remake do Leão da Estrela – com direito a pipocas e tudo. “Muitos deles nunca tinham entrado numa sala de cinema. Pensámos que muitos podia adormecer na sala escura, mas não… Adoraram, riram-se, lembraram-se da versão original, avivaram as memórias, foi uma animação…” Durante o mês de Agosto também organizou um simulacro de Jogos Olímpicos séniors, com modalidadesa adaptadas, como marcha, pingue-ponge ou bowling, e que culminou com a entrega de medalhas pelos responsáveis oficiais da Santa Casa.
Cláudia inspirou-se num projeto inglês que se chamava ” Antes de Morrer quero…”, e agora vem a parte mais difícil da iniciativa, diz: ” Tentar concretizar a maior parte dos sonhos destes idosos. Alguns não dependem de nós, vai ser um desafio, mas temos um ano para mostrar o que valemos”.
No ano anterior, e também inspirado no “Projeto Before I Die”…, o Centro Comunitário de Gafanha do Carmo, partilhara os sonhos em lousas dos utentes idosos , chamando-lhe “Antes de Morrer Quero”…, e graças a um movimento de solidariedade e de replicação nas redes sociais e noutros lares, inclusive internacionais, conseguiu realizar alguns dos desejos: Cantar para muita gente; Conhecer o Marco Paulo; Andar de avião; comer tripas de vinho d’alho; pintar o cabelo de azul, voltar à Figueira da Foz; Ver o Benfica ao vivo; Ir à televisão; ter um quadro autografado pelo Pinto da Costa.