A festa acabou antes de começar. Não tivemos sequer a década e meia de liberdade sexual do resto do Ocidente, que fez a sua revolução nos anos 60. Nem isso. Por azar (a que a ditadura não será alheia), começámos mais tarde do que os outros. No início da década de 80, ainda mal se soltara a cena noturna, marcada pela vanguarda nos costumes, pela euforia dos copos, da dança, do sexo sem amarras nem restrições, quando as notícias de um estranho vírus se espalharam.
“Era bom demais para durar”, lamentava-se, à boca pequena. Com o duro despertar para uma realidade chamada sida, muitos viram amigos e companheiros partirem antes de tempo. Mortes estúpidas, injustas e, mais que tudo, incompreensíveis. Ícones como António Variações e Freddy Mercury tornaram-se mártires involuntários da nova e fatal doença. Eclodiram os medos e a discriminação. Perdeu-se a inocência. Surgiram os movimentos ativistas e o sonho de uma vacina, de uma cura, que parecia inatingível. O preservativo subiu a sua cotação de mercado – um pedaço de látex passou a separar a vida da morte.
Vieram então, lentamente, as primeiras terapias. Outras se seguiram, alicerçadas em novos estudos. E o século acabou com uma vitória: já não se morria por contrair o vírus da imunodeficiência. Trinta anos depois, chegou finalmente uma terapia de prevenção. Ainda não é a tão desejada vacina.
E estamos muito longe de poder baixar a guarda e enterrar o preservativo. Até porque, aos poucos, e quase sem darmos conta, têm vindo a subir as taxas de infeção de outras doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis, ou a gonorreia.
Prep – a salvação
“É quase como renascer”. António não modera na metáfora. Na casa dos 50, hipocondríaco confesso, homossexual, o professor vive pela primeira vez na vida uma sexualidade sem medos. “Não há dinheiro que pague esta liberdade de estar em intimidade com outra pessoa, sabendo que não se está a pôr a vida em perigo.” Poder-se-ia dizer que a emancipação não tem preço – mas esta custa-lhe à volta de cem euros por mês.
O necessário para mandar vir da Índia um genérico do Truvada, a terapia combinada – emtricitabine e tenofovir – para o VIH.
António não é seropositivo. No seu caso, o medicamento funciona como prevenção – evita a infeção. Estudos sólidos, publicados no New England Journal of Medicine em 2010 e em 2012, levaram o organismo americano do medicamento, FDA, a aprovar a utilização do Truvada, usado desde 2004 para tratar pessoas infetadas, e como forma de profilaxia, há já quatro anos, sob a designação Prep (profilaxia pré-exposição). Estimativas da farmacêutica Gilead Sciences, que o produz, apontam para 50 mil utilizadores da Prep, só nos EUA; em todo o mundo, são à volta de 80 mil. A estratégia também já foi adotada em Israel, Canadá, África do Sul e Quénia. Na Europa, o medicamento recebeu o aval positivo da Agência Europeia do Medicamento a 22 de julho. Falta apenas a aprovação da Comissão Europeia. Depois, cada país decide o que quer fazer.
Em França, uma clínica em Paris tem fornecido a Prep mediante um regime especial de autorização. António não quis esperar nem mais um minuto: desde o início do ano que toma o seu comprimido diário. “Tive amigos que morreram com sida. E mantenho todos os cuidados que sempre tive. Não mudei a minha vida em nada. Mas agora vivo a minha sexualidade sem angústia, sem um machado em cima da cabeça. Estou a financiar a minha saúde e a de outros.”
Com os jovens tudo bem?
Quem acompanhou, desde o primeiro momento, a sida e o impacto que teve numa geração ainda deslumbrada pela conquista da liberdade sexual faz um balanço cauteloso e revela uma visão crítica do cenário atual. “Todos os esforços de combate ao vírus são bem-vindos e devem coexistir com medidas noutras frentes, o que não acontece, e isso é dececionante”, sintetiza Margarida Martins, sócia número 1 da associação de apoio a seropositivos Abraço e que viu morrer muitas pessoas com o flagelo da sida.
Mas desde 2008 que os números do VIH têm efetivamente vindo a descer em Portugal. Os avanços farmacológicos e as políticas de prevenção e tratamento de toxicodependências foram os principais fatores que contribuíram para a estabilização e até redução da transmissão do vírus, sobretudo nas camadas mais jovens da população. Que até têm um discurso mais fluido sobre as práticas sexuais, a par da adoção de comportamentos mais saudáveis do que as gerações anteriores (consumo de tabaco, álcool, drogas).
Porém, a perceção nem sempre é essa. Comportamentos aparentemente estouvados invadem as redes sociais. Ficou famosa, por exemplo, a página de Facebook (entretanto retirada) “Comi-te no Urban”, repleta de fotos tiradas à socapa a casais de jovens e adolescentes na discoteca lisboeta em cenas de… chamemos-lhe paixão descontrolada. Mas é mais provável que a noção de que há mais comportamentos de risco esteja a ser afetada precisamente pela omnipresença das redes sociais, que tornam públicas situações até há pouco tempo privadas, do que por uma real leviandade. Aliás, em reportagem no Urban, a VISÃO falou com vários jovens e encontrou, na verdade, uma geração bem informada – ainda que o uso do preservativo seja quase exclusivamente encarado como uma forma de prevenir gravidezes indesejadas.

Prep
O que?
É uma medicação indicada para pessoas em risco muito elevado de contrair o VIH, como os trabalhadores do sexo ou casais serodiscordantes (em que um é seropositivo e o outro não). A Profilaxia Pré-Exposição pode reduzir significativamente o risco de infeção por VIH. Consiste na toma diária do Truvada, um antirretroviral que combina dois princípios ativos e é usado no tratamento dos infetados. Reduz em mais de 90% a transmissão sexual e em 70% a transmissão entre os consumidores de drogas injetáveis. O medicamento custa à volta de 400 euros. Mas é previsível que baixe muito o preço no próximo ano, quando perder a patente.
É segura?
Estudos feitos em pessoas em tratamento há cinco anos não revelaram efeitos secundários significativos, além de eventuais dores de cabeça e náuseas nas primeiras tomas. Fazer Prep, no entanto, obriga a consultas de rotina e análises para avaliar a eficácia da terapêutica e a toxicidade ao nível do rim.
Em Portugal há acesso à Prep?
No SNS ainda não. Há pessoas a fazer Prep por sua conta e risco, comprando na internet, vindo da Índia. Um mês custa 70 euros. A Agência Europeia do Medicamento aprovou, no final de julho, a utilização da Prep como terapia preventiva da infeção para o VIH. Até final do ano, estão a ser estudados os critérios para as normas de orientação clínica. Já está disponível há vários anos nos hospitais a profilaxia pós-exposição, que evita a infeção até 72 horas após um contato de risco.

Os mais velhos são os mais imprudentes
É irónico, mas talvez o problema esteja nos pais, não nos filhos. Só assim se justifica o aumento do número de infetados com HIV nos ‘”senagers” (seniores que se comportam como teenagers) e que contrasta com os resultados de pesquisas recentes realizadas nos Estados Unidos e no Reino Unido: a geração de jovens adultos (Millenials), a quem se tem associado o rótulo de “cultura de engate”, parece ter uma mente mais aberta face às práticas sexuais, mas concretiza-as bem menos do que os da Geração X e dos Baby Boomers (aquelas que, com as mesmas idades, se confrontaram ou cresceram com o lema “sexo=morte”). Entre as interpretações possíveis para este fenómeno os investigadores sugerem os efeitos secundários da tecnologia – sextar, em vez de estar, em carne e osso – e a maior valorização da segurança física e emocional pelos jovens.
Os mais velhos parecem subvalorizar o risco. “Continua a haver um estigma associado à doença. Mas ao mesmo tempo assiste-se a uma banalização e acabamos por apanhar muitas infeções na faixa dos 40/50 anos, quando a gravidez deixa de ser um problema e diminui o uso do preservativo”, conta a médica infecciologista Bárbara Flor de Lima.
O cientista social José F. Pais, que se dedica a estudar as atitudes e comportamentos sexuais dos portugueses e é autor de várias obras sobre o assunto (incluindo o seu mais recente Enredos Sexuais, Tradição e Mudança), confirma: é nas idades avançadas que as condutas de risco mais se evidenciam, com a rejeição do preservativo à cabeça. “Constatei que muitos recorrem à prostituição para que os seus Zecas [outro nome para pénis] não enferrujem, mas quando surgem problemas de ereção, os preservativos só atrapalham.” Para o sociólogo, o Truvada – que não dispensa o uso do preservativo – terá pouco impacto nas condutas sexuais, até porque “os jovens hoje têm maior consciência sobre os riscos”.
Um mal menor?
Apesar das novas terapias, é cedo para lançar foguetes. “Nenhuma ação de prevenção é 100% eficaz”, lembra José Vera, que foi responsável pela unidade de imunodeficiência do Hospital de Cascais durante três décadas. O especialista em medicina interna sublinha que os critérios de acesso à Prep, que farão parte das normas de orientação clínica, devem centrar-se nas características psicossociais dos potenciais destinatários e não exclusivamente nos chamados grupos de risco.
Se a lógica for a do mal menor – admitir que, em certos casos, a única prevenção possível passa pelo comprimido – isso é uma vitória na luta contra a infeção? Ou uma nova revolução sexual em curso? “Estamos longe disso”, garante a enfermeira Ana Campos Reis, que durante 25 anos foi responsável pelo serviço de atendimento a pessoas infetadas, na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Familiarizada com as histórias de populações vulneráveis, Ana Campos Reis interroga-se acerca do custo específico para responder a certos grupos, e lança o repto: “Chegar às pessoas com escolaridade baixa, a mulheres, jovens e idosos e colocá-los a par destas questões faria delas pessoas mais livres para escolherem o melhor para si mesmas?” Isso sim, seria a revolução.

Preparado para as exceções
Há seis meses, Bruno Maia publicou um post no Facebook em que anunciou estar a fazer Prep. Desde então, estima, cerca de mil pessoas pediram-lhe ajuda para ter acesso ao comprimido. Médico e colaborador no Check Point Lisboa – onde se pode fazer testes de VIH de forma gratuita e anónima – Bruno sabe de cor todos os riscos associados ao sexo desprotegido. Mesmo assim, quando olhou para os critérios estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde para a toma da Prep – são prioritários os homens que têm sexo com homens, trabalhadores do sexo e casais em que um dos elementos é seropositivo e o outro não – apercebeu-se de que numa vez ou noutra tinha corrido riscos. “Olhei para a minha vida recente e percebi que tinhas falhas. Se isto me acontece aos 34 anos, que garantias tenho de que não volte a acontecer-me?” As pessoas que lhe pedem ajuda estão também na faixa dos 30/40 anos e são seguidas no Check Point Lisboa, para as análises de controlo dos efeitos secundários do medicamento.
Usar preservativo continua a ser a regra, afirma Bruno Maia. Mas agora, nas exceções, quando não usa, poupa-se às quatro semanas de ansiedade, enquanto espera o resultado definitivo do teste de VIH. “Muitas vezes, quando se fala de Prep, pensa-se que as pessoas querem é ter sexo sem preservativo. Mas não é assim. Nos estudos feitos em São Francisco [com indivíduos a seguir Prep], tanto há quem use mais como quem deixe de usar.”
Vasco Prazeres, médico e sexólogo da Direção-Geral da Saúde resume as preocupações de muitos especialistas. “Há o risco de a Prep ser encarada como um substituto para o preservativo, o que poderá resultar num aumento de outras infeções e de gravidezes não desejadas. Controla-se o VIH, mas pode ser uma desresponsabilização relativamente a outros problemas.” Recordando o aparecimento da pílula contracetiva na década de 60 do século passado, o sexólogo compara: “Com a introdução dos antibióticos [que permitiram tratar doenças sexualmente transmissíveis como a sífilis e a gonorreia] e da contraceção entrou-se numa euforia dos comportamentos sexuais, aliada, em Portugal, ao 25 de Abril, que veio permitir uma maior abertura. Até que aparece a sida [início da década de 80] para a qual não havia resposta, a não ser o preservativo.”
Mais sífilis e gonorreia
Em trinta anos, o cenário transfigurou-se. De fatal, a sida passou a ser encarada como uma doença crónica, controlável, muito associada a grupos específicos, como os homens que têm sexo com homens. “Nos últimos anos, deixou de se falar. Diminuiu o medo da sida. Para as gerações mais novas, é uma coisa distante, longe da vista”, nota Vasco Prazeres.
O médico Duarte Vilar, diretor executivo da Associação para o Planeamento da Família também tem a mesma visão:“A sida passou a ser entendida como um problema de saúde grave, mas tratável, associada a determinados grupos. Desapareceu o pânico inicial e perdeu força a ideia de que qualquer pessoa a pode apanhar.” Mas por causa disso, lamenta, “não temos um tostão para campanhas de informação”.
Há outros sinais de que as medidas de proteção estão a perder popularidade. Num artigo publicado na revista Ata Médica, em janeiro, revela-se que incidência de sífilis está a aumentar em toda a Europa. E Portugal não foge à regra – entre 2010 e 2013 foi a doença de notificação obrigatória com maior número de casos (791), e em 2014 manteve-se a tendência de subida, com mais 181 casos do que no ano anterior. Outra doença infecciosa, sexualmente transmissível, a gonorreia começa igualmente a preocupar pelo aparecimento de resistências aos dois antibióticos capazes de a eliminar. Razão para o Centro de Controlo de Doenças americano ter lançado um alerta, no mês passado, para o risco de a gonorreia se tornar numa doença intratável. No Reino Unido, as mesmas preocupações: de 2012 para 2014, houve um aumento de 76% dos casos de sífilis e de 53% de gonorreia, sobretudo entre os homossexuais e os jovens adultos. Também há cada vez mais pessoas a recorrer à profilaxia pós-exposição, uma forma de evitar a infeção por VIH que resulta até 72 horas após o contacto de risco. Os dois comprimidos que se tomam durante um mês são eficazes a evitar que o vírus se instale e fazem parte do kit de violação. sempre que uma mulher (ou um homem) é violada, tem a recomendação de o fazer. Profissionais de saúde que se piquem acidentalmente também recorrem a esta medicação, para evitar a contaminação. Ultimamente, têm sido cada vez mais as pessoas a recorrer a esta espécie de pílula do dia seguinte, após um comportamento de risco, avançou à VISÃO a infecciologista Bárbara Flor de Lima.

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Festas roleta russa
Engenheiro civil, João Costa, 37 anos, decidiu mudar de vida quando a crise da construção atingiu o País. Viajante e frequentador de saunas, abriu no centro de Lisboa um espaço feito ao seu gosto, que lhe dava gozo frequentar, a Trombeta Bath, em pleno Bairro Alto. Em poucos anos, a casa ganhou fama. Hoje em dia, boa parte da clientela é estrangeira. Lá dentro, onde não chega a luz do sol, parece sempre “noite”. Por 14 euros, os clientes têm direito a chinelos e a uma toalha, podem banhar-se no jacuzzi, assistir a filmes, ouvir música e aceder aos cubículos, onde há mais privacidade. As cinco da tarde, quando encerram os escritórios da zona, coincidem com a hora de ponta da sauna. “As pessoas vêm para aqui para ter sexo”, atira João Costa, aos primeiros minutos de conversa. E por isso há uma grande taça de vidro, no balcão do bar, com preservativos à disposição. O empresário calcula que sejam gastos cerca de dez mil por mês. Mas, admite, “nem toda a gente os utiliza”. Ali, a regra é só uma: mulheres não entram. Tudo o resto está pensado para ser uma experiência de puro prazer.
Frequentadores de saunas, festas roleta russa ou das “chemsex” fizeram parte dos primeiros estudos sobre Prep. São um alvo preferencial. Nas festas roleta russa, o propósito é ter sexo desprotegido com o maior número possível de pessoas, sendo que é garantido que pelo menos um elemento no grupo está contaminado com o HIV. Já as “chemsex” são uma espécie de regresso ao sexo, drogas e rock’n’roll, mas com drogas sintéticas no lugar de erva, e o sexo assombrado pelo vírus da sida.
Num editorial publicado no ano passado, no British Medical Journal, alerta-se para o perigo de saúde pública associado a estas festas. “Dados de utilizadores do serviço sugerem uma média de cinco parceiros sexuais por sessão e que o sexo desprotegido é a norma”, descrevem os autores do texto. Nestes eventos, que normalmente acontecem em casas particulares, edifícios abandonados, e são anunciados em grupos fechados, os frequentadores podem estar 72 horas sem comer e sem dormir. Quando voltam ao estado normal, pode já ser tarde demais para o que quer que seja, até para a profilaxia pós-exposição, já que terá sido ultrapassado o prazo para a sua toma.
O psicólogo Gonçalo Lobo, presidente da Abraço, já ouviu relatos deste género, em português. Nas consultas, os utentes falam das “bareback parties”, festas em que o lema é não usar preservativo. “Os frequentadores são pessoas que vivem o momento, à beira do abismo.” Para estas, é preciso encontrar novas respostas, defende o dirigente. “Sob pena de andarmos para trás no combate à doença.”
O falhanço do preservativo
Chega de atitude de avestruz, defende António Diniz, que foi até junho deste ano o diretor do Programa Nacional para a infeção VIH/sida.
O médico admitiu numa sessão de esclarecimento sobre Prep, promovida pela Abraço, que a estratégia assente no preservativo falhou. “É altura de assumirmos que o preservativo não é suficiente. Sobretudo para as pessoas que mais precisam. Trinta anos depois, temos de admitir que há sempre uma fração de pessoas que não usava, não usa e não usará.”
Aliás, desde a casa dos 20 que o preservativo vai perdendo adeptos. Uma das conclusões do estudo internacional Health Behaviour of School Age Children (comportamento perante a saúde de crianças em idade escolar), que envolve 44 países, incluindo Portugal, é a de que “o método contracetivo mais usado entre os jovens menores de 19 anos é o preservativo. Dos 20 aos 24 passa a ser a pílula”, cita Duarte Vilar.
“Nunca tivemos tanto acesso à informação, mas mesmo assim os comportamentos de risco continuam a existir”, nota a professora do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Ana Alexandra Carvalheira. A investigadora na área da sexualidade e colunista do site da VISÃO sublinha ainda a ligação direta, nos jovens, entre a vivência da sexualidade e o consumo de álcool. “É difícil conciliar uma narrativa de prazer com a narrativa da saúde, do medo.”
Como diz Peter Piot, uma das maiores referências mundiais no combate à sida, “não vamos acabar com a epidemia de VIH apenas por ferramentas médicas. As pessoas não são robôs. O sexo acontece num contexto. Tem a ver com poder.”
Polémicas e comportamentos à parte, o médico do Check Point Lisboa, Bruno Maia, defende que todos aqueles que solicitem a Prep devem poder aceder à medicação. Por uma questão de justiça. E que esta deve ser disponibilizada gratuitamente, como já acontece em França, por exemplo. “Todos os estudos de viabilidade económica mostram que é compensador. Sai mais barato prevenir a infeção do que tratar um seropositivo para o resto da vida”. A partir do próximo ano, prevê-se que o preço do Truvada caia a pique, já que o medicamento perde a patente. “As pessoas não querem é que os outros sejam felizes na sua sexualidade. Mas os argumentos contra vão desaparecer e tudo vai normalizar”, acredita Bruno Maia. “O que isto nos traz é a possibilidade de fazer escolhas. É liberdade.” 
* Com Clara Soares

Hábitos em mudança
Preservativo
É o método contraceptivo mais usado entre os menores de 19 anos. Mas vai perdendo a popularidade: dos 20 aos 24 anos passa a ser a pílula.
Outras doenças
Têm vindo a subir as taxas de infeção de doenças sexualmente transmissíveis como a sífilis e a gonorreia, sendo que esta última está a tornar-se resistente aos antibióticos disponíveis para a tratar.
O comprimido milagroso
Aprovado em 2004 para o tratamento do VIH, o Truvada concentra num só comprimido dois importantes anti-virais. Também pode ser usado para prevenir o aparecimento da doença, se tomado até 72 horas após o contato de risco. Em 2012, foi aprovado na América como forma de prevenir a infeção. Em Portugal custa à volta de 400 euros, uma caixa para um mês. No próximo ano perderá a patente o que fará baixar o seu custo.