E se tivesse de explicar a uma criança de dez anos porque é que o Novo Banco nunca mais foi vendido e os seus resultados são desastrosos? Alguém já pensou nisso. Um vídeo de seis minutos disponível no Youtube, montado aparentemente por profissionais, com música de fundo, narrado em inglês e legendado em português recorre à sátira e ao sarcasmo para explicar o conturbado processo de venda do banco de transição nascido da queda do Banco Espírito Santo (BES).
O vídeo começa com um grande plano de Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, na noite de 3 de agosto de 2014, data em que foi anunciada a medida de resolução que dividiu o Banco Espírito Santo (BES) em dois: “de um lado, o caixote do lixo; do outro, o banco da borboleta”, ironiza o vídeo, para logo a seguir deixar no ar as críticas ao uso de um fundo de resolução. “O que significa que todos os bancos a operar em Portugal contribuiriam para um concorrente que estava em dificuldades para que o Novo Banco tivesse dinheiro suficiente para… competir com eles.” Faz sentido? Nada como chamar ao grafismo da história Cristiano Ronaldo. E já agora Leonel Messi. “É como ver duas equipas rivais a ajudar uma terceira a comprar jogadores no início da época.”
Novo grande plano de Carlos Costa, a fundamentar perante uma plateia de deputados que a resolução do BES não tinha sido uma medida de destruição e que o Novo Banco era disputadíssimo, uma espécie de “noiva com quem todos queriam casar”. Passaram-se seis meses, brinca o texto do vídeo, “e em setembro de 2015 a venda foi adiada”: “A noiva tão desejada acabou sozinha no altar.”
Criar o banco bom custou uma injeção de 4,9 mil milhões de euros.
As previsões dos prejuízos também falharam: o Banco de Portugal garantira que até ao fim do ano o Novo banco teria prejuízos de apenas 100 milhões de euros. As perdas acabaram por ser dez vezes superiores.
O vídeo volta a recorrer à ironia e compara o Novo Banco a um iogurte: “A explicação é simples: o Banco de Portugal achou que o banco funciona como um iogurte e deu-lhe um prazo de validade.” Um banco com prazo de validade – neste caso, dois anos de vida – mantém os melhores clientes, os melhores colaboradores e os melhores negócios? Parece que não. “Alguém confia em algo que tem data para acabar?” Pois este, alega o vídeo, terá sido o resultado: “Um novo conceito criado pelo Banco de Portugal: um banco destinado a perder dinheiro.”
A fechar o vídeo, novamente um grande plano de Carlos Costa a dizer: “Hoje já ninguém põe em causa que a medida de resolução permitiu preservar a estabilidade do sistema financeiro nacional, salvaguardaram-se os interesses dos contribuintes e do erário público.”
Depois de uma primeira tentativa falhada de venda do Novo Banco em 2015, o processo foi retomado no início de 2016. Quem o conduz é Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações. O Fundo de Resolução recebeu pelo menos quatro propostas de compra e uma manifestação de interesse mas até à data o banco de transição continua por vender. No primeiro semestre do ano o Novo Banco somou prejuízos de 362,1 milhões de euros e perdeu mais 8% dos depósitos face a dezembro de 2015.