As migrações estão na ordem do dia. Lamentamos constantemente o número dramático de pessoas que morre diariamente no Mediterrâneo, tentando escapar à guerra. Choramos frequentemente a fuga de cérebros portugueses para o estrangeiro. Dissertamos amiúde sobre os benefícios e malefícios da globalização. E repudiamos repetidamente a emergência de políticos populistas em vários estados membros da União Europeia.
Para avaliar eficazmente a opinião dos portugueses sobre a imigração, podemos recorrer ao Portal da Opinião Pública da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que reúne uma série de indicadores de vários estudos de opinião. Um deles é o Inquérito Social Europeu, cuja última vaga foi publicada em Maio deste ano. Importa destacar que este inquérito é aplicado a indivíduos com quinze ou mais anos, independentemente da sua nacionalidade ou situação legal. O que significa que a amostra portuguesa contempla, muito provavelmente, alguns imigrantes. Aqui ficam cinco dos indicadores mais interessantes sobre esta temática.
1- Portugal é o país europeu onde a abertura à entrada de imigrantes de etnia diferente da maioria da população cresceu mais, nos últimos dois anos. Se considerarmos apenas os países para os quais existem dados novos, a Suécia é o país mais favorável à entrada de imigrantes de minorias étnicas, enquanto a Hungria é o país menos receptivo a essa possibilidade.

2- O nosso país é, de longe, o estado europeu onde a opinião favorável à entrada de imigrantes da mesma etnia da maioria da população mais cresceu. Apesar desta evolução significativa, somos, ainda assim, um dos povos menos abertos à imigração de indivíduos da mesma etnia da maioria da população.

3- Nos últimos dois anos, Portugal e a Suécia são os únicos países europeus onde a opinião favorável à entrada de imigrantes provenientes de países mais pobres cresceu. Em sentido inverso, a Lituânia é o país onde a aversão à entrada de imigrantes provenientes de países mais pobres aumentou mais.

4- Em relação à vaga anterior do Inquérito Social Europeu, os portugueses são o povo cuja crença nos benefícios económicos da imigração, mais aumentou. Já a Suíça, tendo apresentado uma estabilidade considerável na última década, é o país cujos cidadãos estão mais convencidos dos benefícios da imigração para a economia. A Hungria apresenta a opinião pública menos crente no impacto positivo da imigração na actividade económica, de entre todos os povos inquiridos. Foi ainda, a par da Eslovénia, o país onde esta visão negativa da imigração mais aumentou.

5- A Suécia é o país europeu que mais encara a imigração como uma oportunidade de enriquecimento cultural, enquanto a República Checa é o país que mais teme a diluição da sua cultura através da imigração. É deveras preocupante que democracias avançadas como a Dinamarca revelem, hoje, uma abertura bastante menor à imigração do que em 2012. Em contrapartida, Portugal é dos poucos países onde a receptividade à imigração, no que à vida cultural diz respeito, aumentou significativamente.

Desde a criação do Inquérito Social Europeu em 2002, os portugueses nunca revelaram um entusiasmo desmedido pela imigração, quando comparados com os seus congéneres europeus. Mas seremos assim tão avessos à imigração?
Ao analisar os dados, é notório que a crise económico-financeira de 2008 teve algum impacto nessa aparente desafeição pela imigração, especialmente durante o programa de ajustamento financeiro de 2011-2014. Quererá isto dizer que somos um povo xenófobo? Não necessariamente. A verdade é que a aplicação do inquérito nunca coincidiu com um período pujante da economia portuguesa, o que pode ajudar a explicar a nossa falta de entusiasmo em relação ao tema. É ainda possível conceber que os portugueses desconfiem da imigração em abstracto, sendo receptivos aos imigrantes no caso concreto. Uma coisa é não louvar a imigração. Outra, bem diferente, é demonstrar hostilidade ou intolerância para com os imigrantes, uma vez chegados.
Tendo em conta a tendência revelada nos últimos quinze anos, os resultados de Maio são bastante interessantes. Nos últimos dois anos, fomos, claramente, o país europeu onde as opiniões favoráveis à imigração mais cresceram. Colocam-se portanto algumas questões pertinentes. Será que os portugueses estão agora mais dispostos a receber imigrantes, depois de cumprido o programa de ajustamento? Ou estará Portugal a abrir-se a outras culturas, numa época em que a tolerância parece ameaçada na maioria dos estados europeus? É impossível responder assertivamente.
Uma coisa é certa. Teremos de esperar por novos dados para discernir se esta aparente abertura à imigração corresponde, de facto, a uma nova tendência, ou se não passa de um devaneio colectivo, passageiro.