Em Portugal já foram detetados 17 infetados com Zica. E houve mesmo um caso de interrupção voluntária da gravidez devido ao vírus, revelou à VISÃO o diretor-geral da Saúde, Francisco George.
As autoridades garantem que não há razão para alarme, já que todos as ocorrências foram importadas, com focos de contágio vindos de fora do país. Mas os epidemiologistas sabem já que a doença também se transmite por via sexual, prolongando o perigo de contágio por mais de uma semana além do primeiro contacto.
Razões mais do que suficientes para manter os peritos atentos. Com os Jogos Olímpicos à porta, o mundo quer estar preparado para um possível ataque Zica. Para isso, reúne em Portugal oitenta especialistas de mais de 20 países.
Provavelmente devido às relações próximas entre Portugal e o Brasil, a Organização Mundial de Saúde (OMS) entendeu que Lisboa seria o local indicado para reunir peritos de todo o mundo sobre o vírus considerado responsável pelo nascimento de mais de 1500 bebés com microcefalia, uma deficiência grave que provoca atrasos no desenvolvimento.
Já identificadas pela OMS como emergência de saúde pública, as consequências da transmissão do vírus vão ser discutidas a partir da próxima quarta-feira, 22, em Lisboa.
Uma das principais preocupações é a falta de cura – e de vacina – para a doença. “Não há gabardina que possa proteger contra este vírus. A febre amarela é transmitida pelo mesmo mosquito, mas tem vacina, tal como o dengue”, alerta o diretor-geral da Saúde.
Dessa constatação, aliada à ponte aérea existente entre Portugal e o Brasil, nascem as maiores apreensões relativamente ao Zica. Especialmente em ano de Jogos Olímpicos no Brasil. “Estou em contacto diário com o presidente do Comité Olímpico Português. Falamos várias vezes por dia sobre a epidemia. De tal maneira que o presidente do comité até já brinca, dizendo que está a ficar um doutor em Zica”.
Apesar do bom humor, o tema é sério, já que não está posta de parte a hipótese de adiar os Jogos por causa do vírus descoberto em 1947. “Não digo sim nem não a essa possibilidade. É uma decisão a alto nível. Mas, de acordo com os últimos relatórios, os riscos não são significativos”, conclui Francisco George.
A facilidade com que as fêmeas (únicas transmissoras, já que os machos são vegetarianos, alimentando-se de sucos vegetais e não de sangue) deixam ovos, bastando uma pequena quantidade de água para os fazer vingar, tem levado o diretor-geral da Saúde a pedir a cooperação da população. “Se o vaso das plantas tiver prato, basta virá-lo ao contrário para não criar um foco de reprodução na água. Não é pedir muito”.
Tirando o foco (considerado controlado) da Madeira, em Portugal não há – para já – razões para alarme. Mas as consequências graves só agora associadas ao vírus que já se conhece há muito, criaram nos peritos o receio de alterações ainda não totalmente conhecidas.
Por isso, a OMS espera que da reunião em Portugal saiam consensos dos especialistas sobre as melhores práticas e as prioridades no caso de uma disseminação do vírus na Europa. Entre os países representados no encontro, vários têm probabilidade alta a moderada de virem a ter de enfrentar um ataque do Zica.