O Festival Eurovisão da Canção já não tem o mesmo significado para os portugueses que tinha há uns anos atrás. No entanto, o mesmo não se pode dizer em relação a outros países europeus e ao resto do mundo. Em 2015, 200 milhões de pessoas viram o festival que este ano é transmitido nos 42 países participantes, em Portugal, na China, no Cazaquistão, na Nova Zelândia, nos Estados Unidos e no site oficial da Eurovisão.
A final do certame realiza-se este sábado, em Estocolmo, e contará pela primeira vez com a atuação de uma estrela internacional – Justin Timberlake.
Com a atuação de Timberlake e a transmissão ao vivo prolongada a mais países, espera-se que este ano se bata o recorde de visualizações do festival. No entanto, ainda há quem não perceba muito bem do que se trata, por isso facilitámos-lhe a vida e respondemos às questões mais comuns.
Porque é que se criou a Eurovisão?
Inspirado no Festival de Sanremo (Itália), o Festival Eurovisão da Canção foi criado para testar os limites das transmissões televisivas ao vivo. A ideia partiu da União Europeia de Radiodifusão e apenas 7 países participaram na primeira edição em 1956. Ao longo dos anos, o certame chegou a cada vez mais países e com o fim da Guerra Fria na década de 90, alastrou-se aos países de leste.
Porque é que países não europeus participam?
Ao contrário do que a maioria pensa, a Eurovisão não está limitada apenas aos países europeus. Todos os países que pertençam à União Europeia de Radiodifusão (que não tem qualquer relação com a UE) pode participar. É por isso que países como a Arménia, Azerbaijão e Israel participam este ano.
E a Austrália?
A Austrália é o único país que não pertence à UER e participa na Eurovisão. Como membro associado tem transmitido o festival durante os últimos 30 anos e os habitantes do país dos cangurus parecem terem-se apaixonado pela competição, todos os anos é vista por cerca de 3 milhões de pessoas (mesmo que lá seja transmitido às 5h).
A sua primeira participação foi o ano passado. Foram convidados a participar na celebração da 60ª edição, tiveram passe direto para a final e terminaram em 5º lugar. Este ano voltam a ser dos preferidos depois de Dami Im ter sido umas 10 seleccionadas na segunda semifinal, no entanto se ganharem não podem receber o festival devido à grande diferença horária entre os países europeus e a Austrália.
Quem são os Big 5?
O grupo “Big 5” é composto pela França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Itália. Desde 2000 que os primeiros quatro países têm acesso direto à final sem terem que passar pelas eliminações nas semifinais, ganharam este poder por serem os mais contribuidores da União Europeia de Radiodifusão. Em 2010, Itália juntou-se ao grupo.
Para além dos Big 5, o país vencedor passa também diretamente à final do ano seguinte. Este ano o país contemplado é a Suécia depois de ter ganho o ano passado com o tema Heroes de Måns Zelmerlöw.
Ouça as músicas que passam automaticamente à final este ano
Como funciona o sistema de voto?
Este ano foi anunciada a maior alteração no sistema de voto desde 1975. Ao contrário dos anos anteriores, os votos do júri profissional e do público serão distribuídos separadamente.
Os júris de cada país irão classificar com 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10 e 12 pontos os seus preferidos. Os pontos irão ser revelados através de um porta-voz de cada país e público irá pontuar os seus preferidos da mesma maneira. No fim, os pontos de cada televoto irão ser combinados, tornados numa pontuação geral e somados à pontuação do júri profissional.
Os votos não podem ser dados ao seu próprio país e a votação está limitada apenas aos países que participam no festival.
Conflitos entre países
Ucrânia vs Rússia
Susana Jamaladinova, ou apenas Jamala, foi escolhida pelos ucranianos para representar a Ucrânia no festival. A cantora de jazz apresentou 1944 na segunda semifinal e foi uma das seleccionadas para a final. Parece ser algo normal, mas em fevereiro a Ucrânia viu a sua canção perto de ser desqualificada, uma vez que a organização proíbe temas com cariz político ou comercial e 1944 faz referências ao conflito da Crimeia no século XX. No ano 1944, Estaline mandou deportar toda a população de tártaros da Crimeia, entre os quais a bisavó de Jamala e os seus cinco filhos. A questão da Crimeia sempre gerou tensão entre a Ucrânia e a Rússica, eecorde-se que a Crimeia foi anexada pela Rússia em 2014. No entanto, Dave Goodman, porta-voz da UER, referiu em comunicado que o “título e as palavras da canção não têm nenhuma mensagem política e não violam o regulamento do concurso”.
Tanto a Rússia como a Ucrânia passaram à final.
Veja a atuação da Ucrânia
Arménia vs. Azerbaijão
Em abril, a organização do evento publicou um documento em que proibia a exibição de bandeiras “sem significado, bandeiras locais e regionais” e bandeiras de “natureza política ou religiosa”. Entre a lista publicada estão as bandeiras do Estado Islâmico, da região de Nagomo-Karabach, do Kosovo, do Estado da República Turca de Chipre do Norte, da Crimeia, do País Basco, da Transnístria, da República Popular de Donetsk e da Palestina.
A representante da Arménia, Iveta Mukuchyan, desrespeitou essa regra ao exibir a bandeira da região de Nagomo-Karabach, cujo controlo é motivo de conflitos entre a Arménia e o Azerbaijão, na Green Room. Mukuchyan esteve em risco de ser desqualificada, mas em comunicado a EUR informa que decidiu sancionar a televisão pública arménia (sanção que se irá conhecer no próximo mês) e que se tal comportamento se repetir, o país não poderá participar no evento nos próximos anos.
Os dois países estarão presentes na final.
Veja a atuação da Arménia
Rússia vs Suécia
As tensões entre a Rússia e a Suécia têm sido comuns no festival devido às leis anti-gays do país russo. O apresentador Måns Zelmerlöw, vencedor em 2015, aproveitou as atuações para criticar a política de alguns países dizendo: “Anteriormente ouvimos a Bulgária com If Love Was a Crime [Se o amor fosse um crime] e sabem que mais? O amor ainda é um crime em muitas partes do mundo e eu espero por ver o dia em que esse não seja mais o caso.” Zelmerlöw não falou diretamente sobre o governo de Vladimir Putin mas fez o comentário antes da atuação da Ucrânia, que também critica a Rússia.
Roménia
A 22 de abril, a UER anunciou que a Roménia iria ser expulsa do festival por não pagar dívidas. A estação pública da Roménia deve 14 milhões de euros desde 2007 à entidade que organiza do evento. Além de ser expulsa, a Roménia “perderá acesso a outros conteúdos disponibilizados aos membros e o direito de transmitir eventos específicos”, pode ler-se no comunicado oficial da EUR. Esta decisão gerou polémica uma vez que quando foi tomada faltava menos de um mês para o início do festival.
Ouça a música que a Roménia ia levar à Eurovisão
Portugal na Eurovisão
Reunimos também alguns dados sobre a participação de Portugal na Eurovisão:
Primeira participação: Portugal já participou 48 vezes, a primeira vez foi em 1964 com o tema “Oração” de António Calvário
Última participação: Em 2015, com o tema “Há um mar que nos separa” de Miguel Gameiro, interpretado por Leonor Andrade
Anos em que não participou: 1970, 2000, 2002, 2013 e 2016
Última vez numa Grande Final: 2010, com o tema “Há dias assim” de Filipa Azevedo
Melhor classificação: 2º lugar numa semi-final em 2008, com “Senhora do Mar (Negras Águas) de Vânia Fernandes e 6º lugar na final de 1996, com o tema “O meu coração não tem cor” de Lúcia Moniz
Pior classificação numa final: Último lugar nos anos 1964, 1974 e 1997
Portugal não participa na competição este ano, mas Daniel Deusdado, diretor de programas da RTP, disse ao Diário de Notícias que a estação pública está empenhada em “redefinir o Festival da Canção [cujo vencedor é levado à Eurovisão] e a forma de escolha da música que representa Portugal” na competição. “Queremos alargar esse conceito. Em princípio, voltamos em 2017”, continua.
Recorde as atuações de Portugal