Na esplanada de uma pastelaria muito conhecida de Lisboa, uma filha apresenta ao pai o namorado negro. Perante o desgosto da rapariga, e o embaraço do rapaz, o pai manifesta-se chocado e profere comentários indignados e explicitamente racistas. Esta é uma das experiências sociais apresentadas no programa E se Fosse Consigo?.
As câmaras estavam camufladas, os protagonistas da discussão são atores, seguiam um guião escrito por Conceição Lino, que lhes prestava indicações por microfone da régie, numa carrinha estacionada perto. Toda a situação foi encenada, mas as mentalidades e as reações de quem assistia são bem reais.
No final, a jornalista confronta os presentes com a situação. Há quem se sinta incomodado, há considere que não se deve meter em assuntos alheios e familiares. Há quem não consiga ficar indiferente e intervenha com indignação: estes serão os heróis deste programa.
Um dos barómetros com que se pode avaliar o grau de preconceito racial de um país, é a existência de negros em cargos governativos.
Ao fim de 42 anos de democracia, Portugal tem a primeira ministra negra: Francisca Van Dunem. No parlamento existe um único deputado negro, Helder Amaral, vice-presidente da bancada parlamentar do PP. Nos primeiros tempos, perguntavam-lhe se ele era motorista ou segurança. No salão nobre da Assembleia, de paredes forradas com painéis do Estado Novo, dos anos 40, alusivos aos Descobrimentos, onde se podem ver negros a serem escravizados, colonizados e evangelizados, Helder Amaral já foi confrontado com um pedido de desculpa. Mas, segundo, diz, não se pode, nem deve, apagar a história.