Quanto sofrimento consegue um homem aguentar? E até onde é capaz de ir para sobreviver? A odisseia do pescador Salvador Alvarenga, que esteve perdido no mar durante 14 meses, é esta semana publicada em livro e a determinação com que se agarrou à vida é uma ode à tenacidade da mente humana. Ele tinha apenas saído para mais um dia de pesca, ao largo do México, mas foi sugado para alto mar por uma tempestade, ficando à deriva sem motor, sem rádio e sem comida.
O seu barco acabaria por cruzar todo o Pacífico e, ao longo de 12 mil km, viu apenas mar, e mar, e mar, sem esperança à vista. Sobreviveu 438 dias bebendo gotas de chuva e sangue de tartaruga e caçando alforrecas e aves marinhas, que comia cruas.
Finalmente, avistou terra. Um ilhéu minúsculo, do tamanho de um campo de futebol, a meio caminho entre a Austrália e o Alasca. Ainda temeu estar a alucinar mas arriscou: saltou do barco e nadou, nadou, com todas as suas forças.
Há outros exemplos de sobrevivência incríveis, de quem desafiou os limites perante a morte.
Harrison Okene viajava num rebocador com 13 homens, na costa da Nigéria, quando uma onda gigante virou o barco, que se afundou em segundos. Três dias depois, um mergulhador começou a inspecionar o navio para resgatar os corpos e foi agarrado por uma mão. O cozinheiro permanecia vivo dentro do navio, a 30 metros de profundidade, protegido numa bolsa de ar. Estivera três dias submerso, no meio da escuridão e do silêncio, tremendo de frio e de medo, rezando sem parar. Ele sabia que aquela bolsa de oxigénio não duraria para sempre. E, de facto, mais algumas horas e não teria sobrevivido.
Outro ‘milagre’ aconteceu no Haiti, em 2010, quando um homem foi encontrado com vida 27 dias depois do terramoto que matou 220 mil pessoas. Nunca ninguém sobrevivera tanto tempo soterrado, sem acesso a comida e a água. Evans Monsignac salvou-se graças a um fio de esgoto que passava a seu lado e que ele, apesar da repulsa, foi bebendo para se manter hidratado.
Mais difícil ainda terá sido a decisão do americano Aron Ralston, que ficou com um braço preso debaixo de uma rocha com 500 quilos, enquanto fazia escalada. Sem telemóvel, e sem ter avisado ninguém para onde viajara, não tinha esperança de que o viessem procurar. A única saída possível seria cortar o seu próprio braço, usando o pequeno canivete que transportava consigo. Uma história de filme, literalmente. ‘127 Horas’, realizado por Dan Boyle, viria a ser nomeado para os Oscares de 2011.
Igual sangue-frio tiveram os 33 mineiros chilenos que passaram 69 dias presos numa mina, a 668 metros de profundidade. Nos primeiros 17 dias, ninguém sabia se estavam vivos. E nem eles sabiam se alguém os procurava. Conseguiram sobreviver com muita disciplina, comendo apenas uma colher de chá de atum de 3 em 3 dias, e bebendo a sua própria urina. A gestão das emoções foi crucial num grupo à beira da insanidade mental. Foram precisos mais de três meses para perfurar um túnel suficientemente largo para os retirar dali.
Sobreviveram todos e nunca mais voltaram às minas: ficaram ricos com a venda dos direitos da sua história para Hollywood. O filme, protagonizado por Antonio Banderas, tem estreia prevista em Portugal a 26 de novembro.