<#comment comment=”[if gte mso 9]> Poucas horas após o atentado ao jornal Charlie Hebdo, a 7 de janeiro, em Paris, os telefones começaram a tocar no Largo de S. Pedro, na vila de Monção. “Não digam nada, não falem com ninguém, não mostrem fotografias”, pedia Ana Cristina S., ex-companheira de Franck Brinsolaro, o polícia destacado para acompanhar o cartoonista Charb, diretor do jornal satírico francês. O agente de 49 anos, originário da Córsega, assassinado naquele dia, foi casado com uma minhota, e com ela teve um filho, Kevin. “As pessoas lembram-se de os ver a passear em Monção”, diz um comerciante local.
Nem Cristina nem Kevin, agora com 25 anos, voltaram a Portugal depois do atentado perpetrado por Said e Chérif Kouachi, que causou doze mortos. Por causa das caricaturas de Maomé, o jornal já fora vítima de várias ameaças e o seu diretor passou a ter segurança 24 horas por dia. No dia da tragédia, Franck estava de serviço. Poucas horas após o atentado, todos os registos de Cristina e Kevin desapareceram das redes sociais. Os telefones foram desligados e a família mudou de casa. Também em Monção, por indicação das forças de segurança francesa, houve mudanças. “Estiveram cá dois homens a explicar o que devia ser feito”, explica uma vizinha de Alice, 87 anos, sogra de Franck. De etnia cigana, Alice, agora viúva, casara com um homem “não cigano” e teve vários filhos, a maioria a residir em França. É a matriarca de uma vasta família e é ela quem ameaça todos os que se aproximam a pedir informações sobre a filha, o genro ou o neto. “Fora, fora daqui! Não quero nem posso falar”, repetia. E explicava: “Isto é muito perigoso, podemos morrer. A polícia esteve aqui e não nos deixa falar.”
Filho com proteção policial
A pequena casa onde vive Alice não difere muito da casa onde cresceu Cristina. Para fugir à pobreza, a ex-companheira do guarda-costas de Charb emigrou para Paris ainda muito jovem. Em Monção, atravessou a fronteira para Salvaterra do Miño e, já na Galiza, rumou de comboio para França. Nos arredores de Paris, conheceu Franck e, pouco depois, nascia Kevin. O casal separou-se anos mais tarde. O polícia voltou a casar e teve mais um filho, mas a relação entre Kevin e o pai manteve-se próxima. O jovem participou em todas as homenagens públicas, embora tivesse indicações da polícia para, por questões de segurança, permanecer “recatado”.
“Era amigo do Kevin no Facebook. Mas, depois do que aconteceu ao pai, ele apagou tudo que tinha no perfil e encerrou a conta de email”, garante um amigo português, companheiro de banhos no rio Minho, onde ambos aprenderam a nadar. O jovem continua sob proteção policial. Nunca falou com a comunicação social e, durante vários dias, a sua existência não foi revelada, cabendo a um tio de Kevin, comandante da polícia em Marselha, ser o porta-voz da família.
“Franck era um homem simpático, sociável, e que parecia gostar muito de Portugal. Adorava andar de bicicleta e falava com toda a gente”, recorda um colega, também emigrante em França. Depois de uma infância e juventude com poucos recursos, Franck entrou para as forças de segurança e fez carreira nas embaixadas francesas em Bratislava, Sarajevo e Cabul. Integrado nas forças de elite, esteve ainda no Camboja e no Congo, onde participou em operações de resgate. De regresso a Paris, a segurança a uma pessoa ameaçada de morte foi encarada como “um grande desafio”. Franck e Kevin “conversavam pouco sobre trabalho porque o pai estava proibido de o fazer, até para manter o filho em segurança”, assegura um familiar.
O polícia foi condecorado por François Hollande com a Légion d’Honeur, uma distinção atribuída como reconhecimento pela “defesa da pátria”. O filho, vestido de preto, manteve-se emocionado na fila da frente, a assistir à homenagem. No funeral, realizado em Bernay, na Normandia, coube ao jovem fazer o elogio fúnebre.
<#comment comment=”[if gte mso 9]> Normal 0 21 false false false PT X-NONE X-NONE <#comment comment=”[if gte mso 9]> <#comment comment=”[if gte mso 10]>