Um privilegiado. É assim que Tiago Francisco se sente, aos 31 anos. Este engenheiro informático faz parte de uma das mais ambiciosas aventuras da exploração espacial: a missão Rosetta, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês). Um devaneio tornado realidade, que pôs uma nave a viajar pelo espaço, durante dez anos, passando três vezes pela órbita da Terra e uma pela órbita de Marte, para ganhar balanço, e encontrando-se com vários asteroides pelo caminho. Depois de hibernar, para poupar energia e os instrumentos científicos que transporta a bordo, a nave chegou ao destino, em agosto deste ano: o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Quase tudo nesta missão é uma estreia. “Vai ficar na História. É um acontecimento que pode vir a inspirar os jovens a continuar a viagem da Humanidade pelas estrelas. Como Carl Sagan [astrofísico e divulgador de ciência] me inspirou.”
Patente à vista
Tiago Francisco está na ESA desde 2009. Na época, as portas da agência abriram-se através de um programa de estágios. Acabado de se licenciar pelo Instituto Politécnico de Leiria, tinha a firme convicção de que para “alargar horizontes” precisava de sair de Portugal. Tal como os pais, que viveram em Macau, quando Tiago era criança. Durante o estágio, desenvolveu uma ferramenta informática que permitia acompanhar a telemetria dos satélites através da internet – o que representa uma grande comodidade, já que passou a ser possível analisar os dados a partir de casa. Criou, ainda, um método de compactação e seleção de dados que será patenteado pela ESA. “O envio de dados passou a ser muito mais rápido, podendo demorar dez minutos em vez de uma hora”, explica. Entusiasmado com o trabalho, acabou por concorrer a uma posição na primeira missão europeia rumo ao planeta Vénus. Estava de férias em Portugal quando recebeu um telefonema a requisitá-lo. Na Venus Express passou por várias aventuras, entre elas um apagão dos sensores de posição, os chamados star trecker. Em janeiro, recebeu finalmente o convite para fazer parte da missão Rosetta, na equipa de controlo de voo – responsável pelo satélite 24 horas por dia. O grande desafio chegou na quarta-feira, 12, quando os técnicos da ESA terão feito o impensável: aterrar o módulo Philae num cometa. “Há muitas variáveis que escapam ao nosso controlo – não sabemos se a superfície é dura ou fofa como a neve, se a sonda vai virar-se quando poisar. Com o que não podemos controlar, não nos preocupamos. O resto é revisto e analisado várias vezes”, conta-nos, ao telefone, Tiago Francisco, a partir de Darmstadt, Alemanha, dias antes da operação. “Se conseguirmos fazer isto, vai ser ‘bué fixe’. Será único e eu faço parte.”