“São ondas que se localizam em zonas naturais, não balneares, com acessos difíceis, algumas já foram surfadas com 15 a 20 metros de altura, mas poderão atingir tamanhos maiores e existem no inverno, sobretudo no final do outono, ou no início da primavera”, explicou à agência Lusa Pedro Bicudo, investigador do Instituto Superior Técnico, na área da física das ondas e mecânica quântica.
Para o especialista, estas ondas gigantes ocorrem no inverno, porque “vêm das grandes tempestades do Atlântico norte”, e adquirem grandes dimensões em fundos profundos, onde as ondas “se concentram e se amplificam”, percorrendo em tubo várias extensões ao longo da costa sem rebentarem.
Ao contrário de locais onde o surf tem sido promovido, como a Nazaré, Peniche, Ericeira (Mafra), Cascais ou Figueira da Foz, estes “spots” são, em muitos casos, desconhecidos dos surfistas internacionais e, mesmo, nacionais.
Em Portugal continental, Pedro Bicudo deu o exemplo do “pico louco” (São Torpes), a “onda do burrinho” (Samoqueira) e da “onda da baía” (Porto Covo), no concelho de Sines.
“Estamos perto de um cabo e ocorrem sobretudo a sul do cabo, porque há pequenas ilhotas de pedra submersas, que captam a energia do mar e permitem formar ondas gigantes”, explicou o investigador, que é também surfista.
Um conjunto de outras ondas enormes com grande potencial verifica-se nos concelhos vizinhos de Sagres e Aljezur, nas praias da Arrifana, Ponta Ruiva e Beliche, onde, por haver uma “costa muito recortada por cabos e penínsulas, as ondas ocorrem no extremo de uma baia ou cabo e, em vez de rebentarem de frente para a praia, deslizam ao longo da costa em grandes extensões”.
Na costa oeste, entre Ericeira e Peniche, a “onda da Peralta” é outra das que despertam a atenção dos surfistas locais apreciadores de formações gigantes.
Nas ilhas, as ondas “fajã de Santo Cristo”, na ilha de São Jorge (Açores), do Jardim do Mar e Paul do Mar (Calheta) e Lugar de Baixo (Ponta do Sol), na Madeira, são outras igualmente emblemáticas.
Pedro Bicudo, que é também fundador da Associação SOS Salvem o Surf, adiantou que a organização começou a fazer um inventário nacional de ondas e “spots” de surf.
A responsável da investigação, Tânia Cale, vai começar a percorrer o país, de norte a sul e sem esquecer as ilhas, ilhas para falar com surfistas locais e fazer o estudo não só da localização, mas também da caracterização de cada onda.
Pedro Bicudo adiantou que existem muitas outras nos “mais de mil ‘spots'” já identificados.
O estudo tem também como objetivos perceber o valor do surf e alertar as autoridades políticas, locais e nacionais, para o impacto económico que pode ser conseguido com as ondas e para a necessidade de preservar esses locais, mantendo-os no seu estado natural e sem obras de requalificação.