TESTEMUNHOS: O que lhes vai no peito
Primeiro, morreu-lhe uma prima, com apenas 30 anos, vítima de um cancro da mama. Depois, a mãe, e outras duas primas, com 29 e 34 anos, descobriram ter também a doença.
“Foi tudo ao mesmo tempo, de um momento para o outro os casos começaram a aparecer. Vivíamos assustadas”, conta Carmen, de 29 anos. Tantos casos na mesma família levantaram a suspeita de se tratar de uma situação hereditária. Sugeriram-lhe fazer o teste genético e, aos 26 anos, Carmen ficou a saber que carregava uma versão alterada do gene BRCA2, o que representava um risco de 80% de vir a contrair o mesmo cancro que lhe tinha levado a prima. A solução surgiu-lhe sem sombra de dúvida e um ano depois estava a submeter-se a uma mastectomia radical (que incluiu o mamilo), bilateral.
“Para mim, foi sempre claro que preferia ficar sem as mamas a viver com o medo de passar por um cancro”, diz, pragmática. A irmã, também positiva para a mutação do mesmo gene, fez igual opção. Já uma prima preferiu viver com o risco mais uns anos, para poder amamentar um filho.
“Tive muita pena de não dar de mamar”, admite Carmen, que, entretanto, foi mãe de um rapaz, “mas em todo este processo nunca hesitei nem me arrependi.”
Tamara Milagre, 45 anos, conta que nunca tinha pensado no assunto mas, quando a questão surgiu, também não teve dúvidas. Foi em 2009 que a enfermeira anestesista da Maternidade Magalhães Coutinho, em Lisboa, se cruzou com uma mulher a quem fora detetado cancro, durante a gravidez.
“Quando me contou que as irmãs do pai tinham sofrido da doença, lembrei-me de que também tinha vários casos na família – uma avó e três tias com cancro no ovário, que também pode derivar da mutação do mesmo gene, e outra tia e uma prima com cancro na mama.” Feitas as contas, foi aconselhar-se e recebeu a indicação de que devia fazer os testes genéticos. Três meses depois, chegaram os resultados. Apresentaram-lhe as opções: vigilância apertada, quimioprofilaxia ou mastectomia preventiva.
“Para mim, a cirurgia era a solução mais segura, porque determinava a eliminação quase total do risco”, conta Tamara. “Tinha duas filhas pequenas, de 2 e 9 anos, e não quis arriscar.” Contou com o apoio total da família: “O meu marido disse-me logo que, fosse qual fosse a decisão, confiava em mim e me apoiava.” Passado o susto, Tamara decidiu que era preciso alertar os outros.
“Devia falar-se mais do risco familiar, pois conhecê-lo poderá ajudar muitas pessoas”, justifica, a propósito de ser também presidente da EVITA – Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes Relacionados com Cancro Hereditário.
“Há organizações de apoio aos doentes e aos sobreviventes. Mas não a quem vive com esta espada sobre a cabeça.”
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