Com passos rápidos e cambaleantes, Carolina Beill percorre o renovado piso da moda infantil, no centro comercial El Corte Inglés, em Lisboa. Prestes a completar um ano e meio, as suas pernas são demasiado frágeis para palmilharem os 3 mil metros quadrados daquele espaço. Um pequeno passo em falso e a bebé agarra-se a um vestido Carolina Herrera, para evitar a queda. A linha júnior da estilista venezuelana radicada nos EUA, que vestiu Jacqueline Kennedy, é uma das nove coleções de roupa de criança que foram ali acrescentadas, após a reforma da área infantil do shopping.
Carolina segue o seu percurso vacilante, mas a mãe deita um olhar cobiçoso ao vestido. Benedita Paes, 35 anos, consultora de moda, admite que é habitual perder a cabeça com a indumentária da sua bebé. A última vez foi quando comprou um mini trenchcoat da Burberry por… 200 euros.
Desde há três anos, griffes de luxo como a Versace, Gucci e Gaultier têm lançado linhas de criança. A Christian Dior, por exemplo, faz roupa de bebé por encomenda, nos seus ateliês de Paris. Mas, entre as coleções mais bem sucedidas, destaca-se a da estilista Stella McCartney (filha de Paul McCartney), que abriu, agora, a sua primeira loja infantil, em Londres. “Uma boa estratégia é esperar pelos saldos, para investir nas marcas premium”, aconselha Benedita Paes. “Até porque, de três em três meses, as crianças já vestem outro tamanho…” Mas, na verdade, os critérios racionais diluem–se na hora de comprar, como explica a especialista em marketing Ana Corte–Real, 41 anos: “Os pais gastam muito mais dinheiro com os filhos do que com eles próprios.” Aqui, diz, prevalece a emoção, e “as marcas trabalham isso”.
À HOLLYWOOD
O efeito “aspiracional” das griffes é outra das justificações para o êxito da aposta. “As marcas são promessas para os seus públicos – e uma delas tem a ver com a ascensão social”, analisa Ana Corte-Real. Enquanto, para as crianças, tem um grande impacto fazerem compras na mesma loja dos pais, as marcas seduzem os progenitores com as celebridades. O melhor que pode acontecer a uma griffe é um filho de uma estrela de Hollywood surgir nas páginas de uma revista com uma peça da sua coleção. Apesar do incipiente star system nacional, o estilista Miguel Vieira, pioneiro da roupa de criança com assinatura portuguesa, já viveu essa experiência. Depois de o filho, de 4 anos, do ex-futebolista Vítor Baía ter desfilado na apresentação da sua coleção, no Portugal Fashion, multiplicaram-se os clientes em busca de igual indumentária.
O vice-presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário, Luís Figueiredo, 57 anos, reconhece que as vendas de roupa de criança “portam-se melhor perante as atuais circunstâncias de crise”. As marcas de roupa resistem recorrendo à diversificação dos produtos e capitalizam o seu prestígio vestindo os filhos dos compradores habituais. Carolina Beill ainda não sabe – mas, apesar de ter 1 ano, é uma das clientes mais apetecíveis do mercado.
Casos ‘Mini fashionistas’
As revistas norte-americanas já publicam listas das crianças mais bem vestidas, onde só entram, claro, filhos de celebridades. Exemplos:
Suri Cruise, 6 anos A filha de Tom Cruise e Katie Holmes tornou-se num ícone da moda e até já teve direito à sua primeira polémica, quando apareceu calçada com uns sapatos de salto alto…
Romeo Beckham, 10 anos Dir-se-ia que filho de peixe sabe nadar – ou, talvez, seja obrigado a saber. A mãe, Victoria Beckham, a ex-Posh (elegante) das Spice Girls, e o pai, o futebolista David Beckham, ganham milhões a vender a imagem do jovem.