Pelas 19h50 a “nossa” Mariza entoava as últimas estrofes do poema de Amália Rodrigues, Ó Gente da Minha Terra, para uma plateia que chegava em catadupa e que entopia todas as artérias envolventes ao Parque da Bela Vista, Lisboa. Comovida com a ovação, que poderia ter sido muito maior caso não estivessem ainda tantas pessoas na rua para entrar, numa sexta-feira tórrida, em final de semana de trabalho, a fadista portuguesa arrancou para uma enérgica actuação, a condizer com a ocasião, e canta Come As You Are, dos Nirvana, acompanhada pelo guitarrista Luís Arantes.
Ao mesmo tempo, há radicais que deslizam no slide mesmo no meio da multidão em frente ao Palco Mundo. Mariza, de blusão preto de cabedal, salta como uma rockeira terminando em grande a sua estreia no palco principal do Rock In Rio, seis anos depois de ter cantado no Palco Raízes. No sábado, 22, a fadista junta-se a Tim, dos Xutos & Pontapés, no Palco Sunset.
Com um atraso de 15 minutos, os O’queStrada fecharam o primeiro dia do Palco Sunset, desta vez localizado onde em 2008 estava a Tenda Electrónica. A fraca assistência fez com que Miranda e companhia não brilhassem como há oito anos o têm vindo a fazer, apesar de só em 2009 terem editado o primeiro álbum, Tasca Beat – O Sonho Português. Nem a presença em palco dos Anónima Nuvolari, grupo de músicos italianos residentes em Portugal, fez eclodir a festa. Proporcionalmente à área, no vizinho Espaço Fashion, o desfile das 21 horas tinha mais pessoas a aplaudir a passagem de modelos.
Novamente a caminho do Palco Mundo, às 21 e 30, a festa era totalmente brasileira com Ivete Sangalo a levar a multidão a dançar, rodopiar, cantar e saltar ao som dos seus maiores êxitos. Uma energia contagiante em noite de quarto crescente. Na Tenda Electrónica parecia de madrugada, mas ainda não era. Às 22 e 30 Diego Miranda era o responsável por toda a gente estar, literalmente, a bombar. À mesma hora no Palco Mundo, actuava o norte-americano John Mayer mas as pessoas aproveitaram para ir jantar. As filas para o multibanco eram enormes, mas para comprar comida e bebida (a noite estava muito quente) eram gigantes. O vaivém de gente fazia com que algumas zonas ficassem intransitáveis, como junto à montanha-russa, por exemplo.
A cidade do Rock estava equivalente a uma verdadeira feira popular (sim, Lisboa já teve uma Feira Popular…) com as luzes da roda gigante como ponto de referência. Eram muitos os néons de marcas e de empresas a inundarem o campo visual. Havia ofertas por todo o lado, com ou sem concurso para as merecer. Só o fogo-de-artifício, pelas 23 e 30, interrompeu a parafernália publicitária e pôs 81 mil pessoas de cabeça virada para o céu. Eram famílias inteiras, algumas com carrinhos de bebés e os próprios bebés lá dentro; bandos de adolescentes; casais novos e modernos e mais velhos e modernos também. Brasileiros e portugueses, e mesmo sabendo que o Rock In Rio segue para Madrid (4-6, 11, 14 Jun), também se ouvia falar castelhano.
Shakira entrou em palco cinco minutos depois da meia-noite e com a sensualidade, simpatia e espontaneidade que a caracterizam pôs toda a gente a cantar com ela temas como La Tortura, Whenever, Wherever e Underneath Your Clothes. Repetente neste festival, tal como Ivete Sangalo, comunicou quase sempre em brasileiro estabelecendo uma empatia extraordinária com o público que tentava mexer as ancas como ela, mas não conseguia. O fogo-de-artifício já tinha sido, mas a chuva de confettis, à 1 e 20 da manhã, fechou em beleza a primeira noite quente da quarta edição do Rock In Rio Lisboa.