“Uma vez que os restantes feriados são móveis, pelo menos uma vez por ano todos os muçulmanos podem reunir-se à sexta-feira na mesquita e a oração é mais participada em termos de congregação”, comentou à Lusa o sheik David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa.
Sem querer fazer paralelismo entre o significado da Páscoa para judeus (libertação da escravatura) e cristãos (ressurreição de Cristo e vida nova), David Munir sublinhou que para os muçulmanos também a saída do profeta Maomé e seus seguidores para Medina, em 623, representou a libertação e o início de uma vida nova.
Se para os cristãos o Natal e a Páscoa são as principais festas religiosas, para os muçulmanos as duas maiores festividades são o Eid-ul-Fitr (Festa de Quebrar) e o Eid-ul-Adha (Festa do Sacrifício).
O Eid-ul-Fitr celebra-se no dia imediato ao fim do mês do Ramadão (este ano o período de jejum dos muçulmanos começa a 20-21 de Agosto) e tem por fim pôr termo ao jejum, sendo proibido nesse dia o exercício dessa prática.
Dois meses e 10 dias, decorre o Eid-ul-Adha (Festa do Sacrifício), após a peregrinação a Meca, e que recorda o sacrifício que Abraão estava disposto a fazer do seu filho Ismael (Isaac para os judeus e cristãos), e que acabou por imolar um animal.
Graças à Lei de Liberdade Religiosa, de 2001, essas duas datas são consideradas feriados em Portugal para os muçulmanos, que nesses dias estão dispensados de trabalhar.
Com cerca de 40.000 pessoas espalhadas por todo o país, mas com especial incidência em Lisboa e Odivelas, apoiadas por 33 lugares de culto, a comunidade islâmica portuguesa é relativamente recente, com apenas 40 anos de existência em Portugal.
A fundação data de 1968, altura em que começaram a viver em Portugal numerosos muçulmanos residentes nas ex-colónias, nomeadamente Moçambique.
Hoje a maioria dos muçulmanos existentes em Portugal é de origem portuguesa, sendo que 80 por cento dos crentes são africanos, embora seja também numerosa a presença de nacionais de outros países, casos da Índia, Paquistão e Bangladesh.
Comunidade “pacífica, participativa e plenamente integrada”, pois “o bom muçulmano é um bom cidadão, integrado, que vive em comunidades mas não em ghettos”, nas palavras do sheik Munir, os muçulmanos portugueses não se sentem incomodados, embora estejam informados, com “o que se passa lá fora, no estrangeiro” sobre os seus irmãos na fé.
“É uma comunidade religiosa e não política. Por isso quando querem falar de política fazem-no fora da mesquita”, sublinhou.
Sobre as relações com a Igreja Católica, o imã da mesquita de Lisboa considerou-as “excelentes”, tal como com as outras igrejas.
Numa aparente referência ao caso do “casamento com muçulmanos”, suscitado por afirmações do cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, o sheik Munir sublinhou que os muçulmanos respeitam a “opinião de cada um”.
“Procuramos inseri-las nos respectivos contextos e aceitamo-las, pois a minha liberdade acaba quando começa a do outro”, sublinhou.