O referido relatório interno foi elaborado no início do ano, alertando para “um possível conflito no Bairro Portugal Novo”, devido aos negócios imobiliários e conflitos étnicos, disse hoje à Lusa fonte policial.
No relatório, a que a Lusa teve acesso, dirigido às entidades competentes, incluindo a Câmara Municipal de Lisboa, a polícia descreve aquele Bairro como uma zona com elevado potencial de conflito, explicou a mesma fonte.
A agência Lusa contactou a Câmara Municipal de Lisboa e o Comando Metropolitano de Lisboa, da Polícia de Segurança Pública (PSP), sobre o conteúdo do documento, mas a autarquia não se pronunciou em tempo útil e a polícia afirma desconhecer a “existência de qualquer relatório”, afirmou a sub-comissária Carla Duarte, do Comando de Lisboa.
A sub-comissária da PSP afirmou ainda que “não consegue confirmar a existência” do referido documento.
Além do Bairro Portugal Novo também consta uma outra zona habitacional daquela área, a cerca de mil metros de distância na Avenida Mouzinho de Albuquerque, também considerado pela polícia de elevado potencial de conflito.
Por seu lado o presidente da Junta de Alto do Pina afirma que “já tinha advertido a Câmara Municipal de Lisboa para a situação”, que classifica de “bairro problemático”, mas ainda não obteve qualquer resposta para a resolução do problema, explicou Fernando Braamcamp esta manhã à Lusa.
O autarca confirmou à Lusa que a esquadra das Olaias já tinha conhecimento da situação de conflito latente naquele bairro e ele próprio escreveu, “várias vezes” à autarquia alertando para a necessidade de uma solução para as casas construídas pela Cooperativa de Habitação Portugal Novo, que entretanto faliu.
Fernando Braancamp explica que “ninguém gere o bairro”, à semelhança de outros prédios “ao fundo da rua, geridos pela Gebalis”.
A maioria dos moradores remete-se ao silêncio, evitando falar aos jornalistas alegando “represálias dos outros moradores”, e defende que a comunicação social “não passa tudo o que os habitantes dizem”, explicou à Lusa um jovem daquele Bairro, que pediu o anonimato.
A excepção foi a moradora Arminda Pinto, funcionária camarária, que aponta a falta de condições de habitabilidade e infra-estruturas, além da degradação dos imóveis como as principais causas para os conflitos existentes.
Arminda Pinto alerta para a falta de “um parque infantil”, e refere a ausência de “manutenção e preservação dos imóveis” como uma das razões para os conflitos existentes, explicou.
A moradora recusa-se a falar da situação em concreto – confrontos físicos entre moradores do Bairro Portugal Novo, incluindo disparos de armas de fogo por ocupação de um apartamento – que levou à intervenção policial na tarde de Domingo, porque tem “medo”.
Perto das 20:00 de Domingo, pouco antes dos telejornais, mais seis disparos foram escutados no Bairro Portugal Novo.
Apesar de a polícia ter procurado o autor dos tiros de uma arma de pequeno calibre, e ainda não ter identificado nenhum suspeito, fonte da PSP disse à Lusa que, “pelo som, foi uma 6,35 milímetros”.
No entanto Arminda Pinto alerta para situações idênticas que aconteceram no passado: “A mesma casa foi vendida três e quatro vezes a pessoas diferentes” disse, apontando para uma mulher que, por o marido estar preso, lhe ocuparam a casa e agora vive com a mãe.
As ruas estão praticamente desertas, e as poucas pessoas que saem de casa, percorrem os arruamentos em passo acelerado sempre junto aos prédios de cores esbatidas pelo sol, e pintadas de grafittis e tags (assinaturas).
Uma carrinha da Polícia de Segurança Pública, com agentes no interior, está estacionada na rua principal ao fundo do Bairro, junto à linha de comboio, a ver quem passa e a observar as janelas e escadas dos prédios.
Esta tarde o presidente da Cãmara municipal de Lisboa, António Costa vai reunir com a governadora civil, Dalila Araújo para debater tema da insegurança na cidade.