João Oliveira quer que a CDU seja uma solução governativa útil para o País, após às Legislativas de 30 de janeiro. Ao quinto dia de campanha, o dirigente comunista apanhou o comboio para as Caldas da Rainha e começou por desfazer dúvidas (se é que estas ainda restavam): declarando a CDU disponível para compromissos de “convergência” com o PS de António Costa. A fechar a jornada, porém, na Marinha Grande, o rosto da CDU na (maior parte da) campanha assumiu o papel de enamorado rejeitado. E acusou o pretendente de só ter olhos para “um acordo tácito” com o PSD.
Mas, primeiro, o cortejar. “Convergência” foi a palavra-chave escolhida por João Oliveira para a viagem de comboio pela Linha do Oeste, que ligou o Bombarral e as Caldas da Rainha. Em substituição de Jerónimo de Sousa (a recuperar de uma cirurgia) e de João Ferreira (infetado com Covid-19), o deputado quis demonstrar a “ação” e “persistência” que o partido dispõe, quando se propõe a fazer: e, para isso, nada melhor do que sentir, na primeira pessoa, os avanços verificados, ao longo dos últimos anos, naquele troço ferroviário. “Essa melhoria é o resultado da combinação da luta da CDU e das populações”, garantiu. “Convergência”, por outras palavras, pois claro.
Segue-se, a correspondência. Neste caso, o interesse (ainda) não é recíproco. Por isso, João Oliveira cede o ónus da decisão ao PS. “Há um conjunto de posições assumidas pelas duas forças políticas. E acho que, por esta altura, há, sobretudo, uma exigência de clarificação por parte do PS. O PS tem de responder a esta questão: recusa uma convergência com a CDU que permita impedir a direita voltar a ter capacidade de tomar decisões? E recusa, por outro lado, a convergência necessária para encontrar as soluções para o País?”, questionou.
Depois, a insistência. E, neste particular, pode-se dizer que João Oliveira não foi de modas – e escancarou a porta a eventuais acordos pós-eleitorais com António Costa. “A CDU continuará a ser uma força de convergência, do ponto de vista político e social. A perspetiva que temos não é de autossuficiência. A perspetiva que temos é que é preciso juntar muitas forças para garantir que haja condições para concretizar as políticas que o País precisa. E, portanto, cada voto e cada deputado na CDU é um voto para essa convergência e para se alcançar as soluções que o País precisa”, reforçou.
E, por fim, a réstia de esperança. O PS vencerá sem maioria absoluta e a CDU terá deputados para se tornar uma solução governativa útil para o País? Resta a João Oliveira colocar a decisão nas mãos dos eleitores: “Têm de ser os portugueses a julgar a decisão de o Governo tudo ter feito para que não houvesse Orçamento [de Estado], com o objetivo de provocar eleições, com os olhos postos na maioria absoluta. Têm de ser os portugueses, no dia 30 de janeiro, a dizer se dão ou não força à CDU para impedir essa maioria absoluta e para que tenha força para construir as soluções que o País precisa, em convergência com todos aqueles que estejam interessados em fazê-las”, disse.
Resta aguardar (mais dez dias) pelo desfecho desta novela política.
João Oliveira acusa: “Acordo tácito” entre PS e PSD
Quando o Sol se pôs, também o coração de João Oliveira enegreceu. Na Marinha Grande, antigo bastião comunista do distrito, o dirigente comunista deixou “cair” o cenário de “convergência” para, perante uma sala bem composta por militantes e apoiantes, atacar o PS, putativo parceiro, acusando-o de manter uma “relação” não assumida publicamente com o PSD.
“É hoje muito claro, e esta campanha eleitoral confirma-o, que PS e PSD têm entre si um acordo tácito, um acordo que não está declarado, mas que é real!”, assegurou. Nas instalações do Sport Império Marinhense – acompanhado de perto por Heloísa Apolónia (cabeça de lista por Leiria) e José Luís Ferreira (terceiro por Setúbal), dirigentes do PEV –, João Oliveira afirmou ainda que o acordo “velado” entre António Costa e Rui Rio tem a “aspiração” de “relançar um novo ciclo de Governo de rotativismo, de alternância e sem alternativa” para o País.
Em poucas horas, João Oliveira passou por pretendente apaixonado, ciumento e despeitado. Na próxima quarta-feira, 26, Jerónimo de Sousa deverá regressar à campanha. Nada melhor que a experiência para tratar destes casos de (des)amor.