Intenso e tenso, um debate duro, com os adversários a golpearem-se permanentemente, e ambos tentando meter o Rossio dos seus programas eleitorais na Rua da Betesga do tempo disponível para cada tema. Com a Justiça ausente do confronto, o debate (onde Pedro Nuno parece ter acordado de uma longa letargia, o que terá surpreendido Luís Montenegro… – atingiu o climax na luta desesperada pelo voto dos pensionistas, sinal de que se trata, para ambos, de um “mercado eleitoral” decisivo. O challenger Luís Montenegro tenta recuperar, em desespero, um setor da população que vota muito, mas que Pedro Nuno Santos defende como uma coutada socialista protegida. As promessas lancinantes de Luís Montrnegro, que tentou, sem grande sucesso, atribuir a responsabilidade pelos cortes das pensões ao PS (por causa do memorando assinado com a troika), esbarrou na fortaleza dos argumentos de Pedro Nuno, que, neste capítulo, bem apropriadamente, se revelou o genro que qualquer sogra gostaria de ter.
À falta da TAP (que apenas surgiu nas alegações finais de Montenegro, já sem contraditório) o tema da Saúde foi, sem surpresa, o mais incómodo para o líder socialista, com um Montenegro de instinto matador a escarafunchar nas feridas abertas por oito anos de muito investimento mas ainda maior degradação. No ponto das cativações da Saúde, que o líder do PSD e candidato da AD expôs em números crus e cruéis, bem como o número de hospitais privados inaugurados, durante os governos de António Costa – 32 – contra os zero de públicos abertos, Montenegro encostou Pedro Nuno às cordas. Mas o líder do PS estava especialmente combativo e, mesmo aqui, nunca foi ao tapete. Pelo contrário, ao longo do debate, pareceu sempre mais incisivo, mais agressivo e mais preparado – ou, pelo menos, conseguiu decorar melhor o guião do seu próprio programa eleitoral, conseguindo explicá-lo melhor do que o antagonista explicou o seu.
Pedro Nuno Santos ensaiou uma estratégia que tinha resultado em pleno contra André Ventura: expor as fragilidades do programa económico do adversário e desconstruir as propopstas, demonstrando a sua inexequibilidade. Desta vez, porém, sem grande sucesso, embora possa ter instalado uma dúvida razoável no espírito de alguns eleitores vacilantes. A arrancar o debate, Pedro Nuno comentou a manifestação dos polícias, à porta do Teatro Capitólio, onde decorria o confronto, mostrando estofo de homem de Estado: “Toda a disponibilidade para negociar, mas não se negoceia sob coação”. A seguir, deu a grande notícia da noite: no caso de a AD ganhar sem maioria absoluta mas, (soupõe-se) o conjunto da esquerda também não tiver maioria, o PS não apresentará qualquer moção de rejeição, nem acompanhará moções de rejeição apresentadas por outrem. Por outras palavras, viabiliza o Governo da AD – que, assim, não precisará do Chega. Desafiado a descoser-se, não se pode dizer que Luís Montenegro faça o mesmo por um governo minoritário do PS. Nas alegações finais, Pedro Nuno foi mais ideológico e empolgante e Montenegro mais concreto e prático, batendo em pontos que dizem mais às pessoas. Não foi o combate do século, mas foi uma luta feroz. Resta saber a qual deles comprariam os portugueses um carro em segunda mão…
Indumentária
Ambos se apresentaram de fato azul escuro e camisa branca. A habitual gravata azul royal de Luís Montenegro e uma também já repetente verde água de Pedro Nuno.
Ideias
PNS:
“Não se negoceia sob coação” [a propósito da manifestação dos polícias].
“Um Orçamento de aventura fiscal como seria o do PSD muito dificilmente teria o apoio do PS”
“O País não pode arrastar os pés, o aeroporto tem de ser construído”.
“Um choque fiscal não melhora a produtividade”
“O País tem de ser mais seletivo, nos setores que podem impulsionar a nossa economia”
LM:
“A reforma fiscal é um instrumento de política económica, não é para arrecadar receita”
“Um governo do PSD terá algum peso partidário, mas também irá buscar pessoas capazes à sociedade civil, terá independentes, como também temos nas listas de candidatos a deputados”
“O nosso cenário macroeconómico baseia-se no ponto de partida dos números do Conselho de Finanças Públicas, mas será impulsionado pelas nossas medidas”
“Todos os anos aumentaremos os salários da Administração Pública, de acordo com a inflação”
Farpas
PNS:
“Está a ser uma marca deste debate Luís Montenegro não responder ao que lhe perguntam”.
“O tabu mantém-se, não diz o que vai fazer [se o PS ganhar as eleições com maioria relativa]”
“LM traz respostas preparadas, não lhe interessa o que aqui lhe perguntam”
“LM está sempre a dizer que eu estou impreparado, mas acaba de demonstrar a sua impreparação para governar”
LM:
“PNS tem aqui hoje a oportunidade de explicar porque fez aquele despacho sobre o novo aeroporto”
“O PS baixou os braços [sobre o crescimento económico]”
“O PRR foi usado para suprir as insuficiências do investimento público”.
Diálogos
LM – Queremos construir 50 mil casas por ano. Eu sei que é muito difícil…
PNS – “Como é que fazem isso?…”
LM – O que aconteceu na Saúde, nestes oito anos, foi um favorecimento completo aos privados”
PNS – Essa é boa!
PNS – Eu também defendi a reposição do tempo dos professores antes de serem marcadas eleições…”
LM – Quando foi isso? Foi no Governo? Foi no Conselho de Ministros?
PNS – Eu peço desculpa… não peço nada, quero é que me deixe falar!
LM – O nosso cenário macroeconómico foi traçado por uma equipa de economistas…
PNS – O vosso cenário macroeconíomico é um ato de fé.
Lm – Não é verdade… não é verdade… não é verdade…
Golpes baixos
PNS – Nem convidou Pedro Passos Coelho para a convenção da AD…
LM – Eu terei os ex-líderes do meu partido na campanha eleitoral!
PNS – Eu também!
LM – Terá o engenheiro Sócrates?…
PNS – O engenheiro Sócrates já não é militante do PS.