O Juntos Pelo Povo (JPP) concorre a dez círculos eleitorais, mas é na Madeira que continua a “alimentar” o sonho de chegar à Assembleia da República. O líder Élvio Sousa – cabeça de lista pelo círculo da Europa – não é, desta vez, protagonista, deixando esse papel ao seu irmão, Filipe Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz (com o mandato suspenso).
Partindo da freguesia de Gaula, o JPP continua a querer crescer para lá do arquipélago, mesmo que os principais pontos da agenda nesta campanha passem por reforçar a autonomia e a “voz” dos madeirenses, mas também dos que Filipe Sousa chama de “marginalizados”, a quem considera que “os sucessivos governos, divididos entre PSD e PS, têm sido incapazes de responder”.
Perante a crise política que se abateu na região da Madeira, o JPP, que “tem vindo a crescer e a sedimentar o seu lugar”, sublinha Filipe Sousa, espera aproveitar. Em resposta às perguntas da VISÃO, o candidato confia que este episódio vai alterar “realmente alguma coisas”, permitindo que os eleitores abram as portas do Palácio de S. Bento ao partido regionalista.
O JPP concorre, nas legislativas de 10 de março, a um número recorde de círculos eleitorais. É uma prova do crescimento do partido?
Concorremos a 10 círculos: Braga, Coimbra, Faro, Lisboa, Porto, Setúbal, círculo da Europa, Fora da Europa, Açores e Madeira. O partido tem feito um crescimento sustentado. Nasceu em Gaula [freguesia de Santa Cruz, Madeira], como movimento de cidadãos. Em 2013, conquistou a junta de freguesia que era historicamente PSD, e fez o pleno em todo o concelho de Santa Cruz, conquistando todas as juntas de freguesia e a câmara municipal, que sempre fora um bastião social-democrata, e logo com maioria absoluta, que repetimos desde então. O nosso crescimento fez-se também nas legislativas regionais, tendo hoje um grupo parlamentar de cinco deputados na Assembleia Legislativa da Madeira, como a terceira força política da região. Para chegarmos ao parlamento regional, tivemos de formar um partido, mas sempre temos feito de tudo para nos mantermos fiéis ao nosso ADN de grupo de cidadãos.
Que ideias-chave o partido procura destacar nesta campanha?
Esta campanha, em torno do slogan “Uma voz das ilhas por Portugal”, tem como mensagem central exatamente a garantia de que seremos uma voz genuína, livre e de causas no Parlamento. Enquanto cabeça de lista pela Madeira, apresento-me como ilhéu e autarca, garantindo que a minha voz e dos que me acompanham nesta candidatura, será a voz dos madeirenses, tantas vezes incompreendida na República, muitas vezes por culpa dos próprios partidos, mas também a voz de todos os portugueses que se sentem marginalizados e que estão à margem das decisões políticas que se têm revelado incapazes de resolver os problemas que persistem num país de desigualdades e de dificuldades várias, em áreas tão importantes como a saúde, a educação, as políticas de emprego, as politicas ambientais e as políticas de apoio à terceira idade.

Apela, portanto, ao voto dos madeirenses e dos descontentes?
Sou um autarca e sou ilhéu. E esta minha condição torna-me não apenas uma voz próxima da população, mas também uma voz próxima das diferentes insularidades que existem neste País. São ilha aqueles que geograficamente se situam nessa circunstância local, mas são ilha também todos os que têm sido deixados à margem de uma política eficaz na solução dos problemas que persistem 50 anos depois de Abril, e aos quais os sucessivos governos, divididos entre PSD e PS, têm sido incapazes de responder. A minha voz livre, a nossa voz livre, será a voz de todas as ilhas que existem neste Portugal ainda por se cumprir. As ilhas geograficamente reais, e as ilhas que isolam os pobres, os velhos, os jovens, todos os que não encontram um lugar e uma voz nos lugares onde se tem decidido o não futuro deste país.
E quais são as suas principais propostas para convencer o eleitorado?
O nosso programa está dividido em duas partes. Temos uma de política setorial, com prioridades nacionais, como o emprego, a habitação, a terceira idade, a educação, a saúde, a proteção civil, as forças de segurança, o ambiente, e a cultura. Depois, temos temas mais relacionados com a nossa realidade regional, na qual estabelecemos como prioridade, o reforço dos poderes autonómicos, a continuidade territorial – mobilidade aérea e marítima, o Centro Internacional de Negócios, a Revisão da Lei das Finanças Regionais e a Autonomia Fiscal.
A Madeira continua a merecer atenção especial…
Sim. A nossa candidatura promete empenhar-se na revisão constitucional, como uma oportunidade para o reforço das autonomias e das competências e a participação dos órgãos de Governo próprio das Regiões Autónomas em áreas fulcrais, como a gestão do mar a mobilidade e todas as decisões que sejam importantes para os territórios insulares, bem como para todas as insularidades que persistem neste Portugal ainda tão centralizado. Defenderemos, também, a valorização dos Estatutos Político-Administrativos, o direito dos presidentes dos Governos Regionais participarem nas reuniões do Conselho de Ministros pelo menos duas vezes por ano. Defendemos a possibilidade de os emigrantes votarem nas eleições regionais. Defendemos também a extinção do cargo de Representante da República, pois entendemos que 50 anos depois de abril, o Estado centralista deve deixar-se de paternalismos relativamente a todas as partes constituintes do seu território, não se justificando uma espécie de policiamento, nomeadamente em relação aos territórios insulares. Num outro âmbito, defendemos o reforço do princípio da continuidade territorial e da reciprocidade, impondo que as ligações, quer aéreas quer marítimas, entre as ilhas e continente sejam asseguradas pelo Estado, na consagração do princípio da solidariedade nacional, mitigando os efeitos da insularidade. Igual atenção merecem-nos as taxas aeroportuárias pelo grande relevo que têm para a economia regional e como fator de coesão social. Defendemos, ainda, um novo modelo social de mobilidade que não continue a obrigar os ilhéus a suportarem a totalidade do preço dos bilhetes, pois este modelo é socialmente ineficaz, dado que apenas funciona para quem tem efetivamente capacidade de fazer frente aos preços comerciais praticados. Por último, mas não menos importante, uma solução para os constrangimentos do Aeroporto da Madeira, os quais penalizam, em muito, o principal setor económico da ilha que é o turismo – esta solução poderia passar pela instalação de radares ou pela revisão dos níveis de segurança do vento.

O JPP é um partido com características distintas, nasceu como um projeto cívico e político regional e, ao contrário da maioria dos partidos sem assento parlamentar, até subiu ligeiramente o seu número de eleitores entre 2019 e 2022, para perto dos 11 mil votos. Qual é o objetivo para estas eleições?
O JPP é um projeto diferente, maioritariamente composto por pessoas que não tinham qualquer experiência política. Cidadãos que se uniram em torno de causas e que quiseram dar o seu contributo para melhorar a sociedade e torná-la mais justa. Penso que, nos últimos anos, deixámos claro que temos uma forma diferente de estar na política, uma atitude atenta às pessoas, uma política de transparência e rigor e uma ética de trabalho honesto. Temos estado ao lado das pessoas, ao lado das lutas que valem a pena, e temos implementado, nomeadamente na Câmara de Santa Cruz, medidas inovadoras, com coragem, sem clientelismos e sem calculismos. Sobretudo, temos agido com coragem e justiça. No parlamento regional, temos sido uma voz incómoda e temos exercido uma fiscalização corajosa e atenta ao Governo Regional. Além disso, e embora muitos considerassem impossível, recuperámos a Câmara de Santa Cruz da total falência financeira criada pelo PSD. Era uma câmara com credores à porta, com prazos de pagamento de centenas de dias. Agora, temos capacidade de endividamento e pagámos quase na hora aos nossos fornecedores e empresas. O JPP, apesar de ser um partido jovem, nas sondagens regionais, o meu nome, em termos de popularidade e aceitação, surgiu sempre em segundo lugar, logo a seguir ao presidente do Governo. E isto é sinal de que o nosso trabalho merece o apoio da população, aliás demonstrado nas urnas. Pelo atrás exposto, acredito que a nossa diferença e o nosso trabalho leve a um crescimento natural do JPP, e o objetivo destas eleições é precisamente chegarmos à Assembleia da República, levando também para essa esfera de decisão política a nossa forma diferente de estar e de trabalhar.
Acredita que o JPP se pode manter como a terceira força mais votada no círculo da Madeira?
O JPP tem vindo a crescer e a sedimentar o seu lugar. No atual contexto político, com a crise política que se abateu sobre a Madeira, penso que há ainda uma maior margem de crescimento do partido. Espero que esta crise, além dos problemas que acarreta e da tristeza que provocou ao povo madeirense, altere realmente alguma coisas, mas não colocando em causa a democracia ou abrindo porta a partidos com ideologias extremistas. Mas, na verdade, algo tem de mudar porque me parece que este modelo de política, que tem vindo a ser praticada pelos partidos tradicionais, está esgotada por culpa dos próprios partidos. Basicamente, o que aconteceu é que os partidos deixaram de responder aos anseios e problemas das pessoas, e passaram a gerir os seus próprios interesses. Esse caminho tem de ficar para trás e a política deve centrar-se novamente naquela que é a sua nobre missão: servir o país, servir as pessoas e criar medidas e leis capazes de sustentarem um modelo de desenvolvimento que traga maior qualidade de vida, uma economia mais robusta e um futuro de esperança e prosperidade. É isto que defende o JPP.