Quase mais 20 mil votos do que em relação a 2017, perante uma queda registada pelo PS nas autárquicas a nível nacional, e a conquista de um bastião comunista. Este foi o feito da distrital socialista de Setúbal, liderada por António Mendonça Mendes, que afasta a possibilidade de o Chega – que subiu exponencialmente na região – vir a ser uma solução para evitar cenários de ingovernabilidade nalguns concelhos.
Segundo o socialista – que já está em negociações com o congénere da federação de Lisboa, Duarte Cordeiro, para a escolha do nome que deverá suceder a Fernando Medina à frente da Área Metropolitana de Lisboa – não será de admirar que a CDU opte por pedir a mão PSD nos concelhos onde os comunistas ganharam à tangente, até porque, assegura, é um gesto do PCP com “uma longuíssima tradição”.
No Irrevogável, programa de entrevistas da VISÃO, apesar de admitir que “não surpreendeu a votação dessa força politica [Chega] no distrito de Setúbal”, já que se trata de uma região que “é um terreno fértil” para tal tipo de fenómeno, “a posição do PS é que não há nenhuma conversa com o Chega, para nada”. “Não teremos nenhuma conversa com o Chega”, acentuou Mendonça Mendes, quando questionado pelo futuro da gestão no concelho da Moita, que o PS tirou à CDU, mas onde estas duas forças estão empatadas no número de mandatos e o Chega conta com um mandato. Um cenário semelhante acontece em Sesimbra, ganha pela CDU.
“Caberá ao partido, que é a CDU, dar as condições de governabilidade na Câmara Municipal da Moita, tal como PS saberá assumir as suas responsabilidades na Câmara Municipal de Sesimbra”, defendeu. “Em nenhuma circunstancia deixaremos que o Chega seja o fiel da balança de rigorosamente nada. [Ainda que] Sabemos que a direita conta com o Chega quando está em causa o poder – como aconteceu nos Açores”, acrescentou.
O PS ganhou seis dos 13 concelhos do distrito de Setúbal – sendo que são não só os mais populosos, como os mais urbanos. Já a CDU, coligação do PCP com o PEV, venceu em sete – dos quais Setúbal, a capital de distrito. Mas em várias câmaras, o empate no número de mandatos entre socialistas e comunistas levanta dúvidas sobre a gestão. Mendonça Mendes acredita que, desta vez, nos municípios ganhos pela CDU, e onde o PS e a coligação ficaram taco a taco, a estabilidade governativa pode não passar pelo PSD.
“Há uma longuíssima tradição no distrito de Setúbal; que sempre que as câmaras governadas pelo PCP estavam em minoria fizeram sempre maioria com o PSD. A última vez que me lembro foi ali na Moita, no último mandato [2013-2017], onde era o PSD que dava exatamente a maioria ao PCP”, disse, realçando que no concelho de Setúbal, “não parece que o PSD venha a ser o parceiro privilegiado”. Porém, convém realçar que no passado, quando o PCP arrancou a Câmara de Setúbal há duas décadas, os sociais-democratas deram a mão aos comunistas – e o vereador de então, Fernando Negrão, é o mesmo que correu agora pelo PSD e foi eleito.
“Espero que haja humildade de quem ganhou as eleições [na cidade de Setúbal], e que tem de ir ao encontro daquilo que são as opiniões das outras forças políticas. Os eleitores disseram que queriam a CDU a governar a cidade de Setúbal, mas não com maioria. A CDU terá de ter mais disponibilidade para ouvir todas as outras forças políticas, e o PS cá estará para ser ouvido e para lutar por aquilo que entende que é importante”, explicou.
Medeiros ou Tavares à frente da AML?
O líder da distrital do PS/Setúbal assumiu ainda que a sucessão do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, à frente da Área Metropolitana de Lisboa, está a ser algo de conversação com o responsável pela distrital de Lisboa socialista, Duarte Cordeiro. A regra, em princípio, é que a escolha não cairá sobre um autarca socialista que tenha conquistado agora o seu primeiro mandato – como o de Vila Franca de Xira, Loures ou até Moita.
“É importante que os 18 concelhos consigam encontrar uma estrutura de direção em que todos se possam rever no sentido que a Área Metropolitana possa continuar a ter avanços. [Já que] Tivemos avanços significativos [com Medina]”, disse, salientando que “há 10 câmaras” do PS. “Há vários presidentes de Câmara [a poder assumir o cargo]. Seria surpreendente que fosse um presidente da Câmara em primeiro mandato – penso que isso seria surpreendente e que não esteja em cima da mesa”, apontou.
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