Há cerca de oito meses à frente da instituição que reúne os bispos de todas as dioceses portuguesas, D. José Ornelas mostra-se crítico de “programas que com base na discriminação, contra a vida, que descriminam pessoas em nome de um oportunismo qualquer”. Para o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), essa é a posição da Igreja, não se tratando de uma “crítica partidária” mas algo “do senso comum”.
“Quando se faz tricanas políticas e pomos os pobres ao nosso serviço de forma populista, isso barulha tudo”, apontou, esta quarta-feira, no Irrevogável, programa de entrevistas da VISÃO, quando confrontado com a invocação permanente que o líder do Chega, André Ventura, faz da religião. “Nós não apoiamos nenhum partido. Temos relações com aqueles que o povo elege e que merecem todo o mesmo respeito. Mas isso não me impede nada de ser honesto”, realçou.
Tendo em conta as características sócio-económicas do território abrangido pela Diocese de Setúbal, para o qual foi nomeado em 2015, D. José Ornelas critica “todos esses discursos que se fazem acerca da imigração a todos os níveis”. “O que o nosso País seria sem os imigrantes? Como é que este País ia viver e a Europa? Isto não significa que temos de ter imigração a qualquer jeito, e só pôr as pessoas cá dentro, porque normalmente estão fragilizadas e são exploradas”, disse, salientando que Portugal é um País que “viveu dezenas e dezenas de anos e sobreviveu com as remessas dos emigrantes”, que fizeram o percurso inverso.
Apesar de ser considerado uma voz da nova geração da Igreja nacional, o bispo de Setúbal rejeita esse epíteto e diz que tais teses que defende “não é rejuvenescimento [da organização], é bom senso”. “Alguns estavam dormindo quando Deus nosso senhor distribuiu o bom senso. Fazer disto [questões sociais e pobreza] uma politica barata, não resolve os problemas do país”, defendeu, argumentado que o populismo “é uma tentação a que se cura com a honestidade”.
“As questões da vida, da fraternidade e da universalidade não se restringem nem a um povo ou a uma etnia”, concluiu.
Comissões sobre abusos sexuais condicionadas
Com as missas, e todas as outras atividades da Igreja, condicionadas pelo confinamento semelhante ao de Março e Abril de 2020, D. José Ornelas explicou que CEP tem equacionado um plano de desconfinamento, ou seja, “para o dia seguinte”.
“Haverá um caminho a percorrer para religar as pessoas, para reconectar as pessoas. A Igreja não pode viver apenas do digital. Mas certamente que o digital nos serviu até agora”, disse, admitindo que o que virá aí poderá ser “uma pastoral com pessoas mais conectadas, mais acolhidas dentro da igreja, mais responsabilizadas”. Mas realça que a retoma “será algo gradual”.
De acordo com o líder da CEP, a pandemia afetou a constituição em todas as dioceses das comissões que terão o dever de sinalizar e prevenir abusos sexuais dentro da instituição católica, que foram anunciadas já há alguns meses.
“Há já algumas comissões formadas. Algumas já estão mais avançadas, outras ainda em fase de formação. Tivemos várias sessões de formação que tiveram de ser suspensas. Já por duas vezes, os encontros nacionais foram adiados”, disse, frisando que “uma das funções fundamentais destas comissões não é simplesmente o de saber e tratar os casos que possam aparecer – e isso é uma função importante -, mas a prevenção e a formação”.
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