Os vídeos aparecem em catadupa. Uns a seguir aos outros. Não há hierarquia. Muitas vezes, os temas saltam sem lógica aparente. Os conteúdos são rápidos, pensados para motivar uma reação instantânea, intuitiva, emocional. O cocktail perfeito para a propaganda. Um terreno difícil para a informação que requer tempo, pensamento, cruzamento de fontes, explicações. O TikTok é hoje usado por 4,2 milhões de portugueses, sendo que 30% destes utilizadores estarão entre os 18 e os 25 anos (isto apesar de a empresa não dar dados sobre segmentos etários). Ou seja, fazem parte de uma das fatias de eleitorado mais difícil de alcançar pelos meios tradicionais. Daí que não seja surpreendente que cada vez mais partidos recorram a esta rede social, tentando usar os truques necessários para cair nas boas graças do algoritmo e alcançar o maior número de seguidores. Quase todos já lá estão, nem todos com os mesmos resultados. E, nestas autárquicas, o TikTok até promete combater a desinformação que por aí possa correr. Mas, afinal, como é que isso tudo funciona?
Pedro Pinto

Tem quase nove mil seguidores. Sendo candidato à Câmara Municipal de Faro, era de esperar que tivesse muitos vídeos sobre o concelho, mas não é esse o menu principal do seu feed. No vídeo que está na imagem, está a falar da Nazaré. Na maior parte dos outros, aparece como líder parlamentar do Chega.
A resposta não é fácil de obter. O TikTok está interessado em divulgar este seu “centro eleitoral” como “um hub na aplicação onde os utilizadores em Portugal poderão aceder a informação fiável sobre as eleições nas próximas semanas”. E até assegura querer “oferecer um espaço respeitador, onde as pessoas possam expressar-se e construir comunidade”. Mas a empresa não disponibiliza alguém que possa ser questionado de viva voz sobre o tema, mesmo depois da insistência da VISÃO perante um comunicado escrito para publicitar este “compromisso” com a luta à manipulação num período eleitoral. Sem possibilidade de falar com um porta-voz do TikTok, aceitámos enviar as perguntas por escrito, através da agência de comunicação que trabalha para a empresa. Na volta do correio não vieram as respostas às perguntas enviadas, mas apenas alguns dados que o TikTok achou por bem partilhar.
André Ventura

Com mais de meio milhão de seguidores, é a grande estrela política do TikTok. Ataca os adversários, dança e canta, partilha informação falsa. Um exemplo? Usa como capa de um vídeo uma imagem do jornal do Chega, a Folha Nacional, com grafismo idêntico ao do Público para dizer que “em mais de 65% dos municípios há traficantes de droga e criminosos violentos com direito a casas públicas”. Quando se clica na imagem, aparece no meio de apoiantes a cantar “Isto não é o Bangladesh”.
