Foi Rui Oliveira e Costa, da empresa Eurosondagem, quem, há uns anos, falou do voto “frio e profundo” da cidade Invicta quando se trata de iludir as projeções de resultados nas semanas anteriores às eleições. “No Porto fia mais fino, é um facto”, explicou ele para justificar o facto de as sondagens se enganarem com frequência quanto aos resultados na segunda câmara do País. Se, em 2013, foi Rui Moreira a beneficiar desse voto silencioso que parecia inclinado para Luís Filipe Menezes, agora foi a vez de a cidade mostrar ao atual presidente a sua independência face aos estudos de opinião, retirando-lhe uma maioria absoluta que parecia garantida.
É provável que o desgaste provocado pelo “caso Selminho” – processo em que o autarca foi acusado de beneficiar a família e pelo qual responderá em julgamento – tenha contribuído para este desfecho. Na verdade, Moreira viu fugir cerca de dez mil votos em relação a 2017, alcançando agora perto de 41 por cento. Para isso, terá contribuído a subida da votação no PSD, candidatura liderada pelo antigo vice-presidente de Rio na autarquia, Vladimiro Feliz, que recuperou mais de cinco mil votos para o PSD. De destacar ainda a subida da CDU, que, elegeu Ilda Figueiredo, e do BE, que, pela primeira vez, tem também um vereador (Sérgio Aires). O cenário obrigará Rui Moreira a tentar negociar um acordo com outras forças políticas, uma vez que está em minoria no executivo camarário e na assembleia municipal, mas a tarefa adivinha-se complicada.
Uma vez mais, isso é certo, o Porto subverteu sondagens e palpites.
Mas Moreira não se apoquentou.
Na hora da vitória, quando ainda não estavam apurados todos os votos, investiu contra “o tacticismo carreirista de muitos dirigentes partidários” e regozijou-se com a terceira vitória consecutiva, que dedicou ao falecido fundador do PSD, Miguel Veiga. “Esta noite, o partido que uma vez mais ganhou foi o Porto”. O autarca reeleito reclamou ainda uma “valorização” dos cidadãos através da criação de uma federação de candidatos dos movimentos independentes.