Portugal é um país diferente em 2025. A prova disso talvez esteja em parte no dia 3 de dezembro, quando Manuel João Vieira chegou ao Palácio Ratton carregando caixas com 12 500 assinaturas para o propor a candidato à Presidência da República. Até esse dia, o candidato blague, que sempre garantiu que só desiste “se for eleito”, já tinha tentado quatro vezes a graça sem nunca convencer os 7 500 cidadãos necessários para subscrever uma candidatura. Desde 2001 que o cantor, artista plástico e provocador profissional ameaçava entrar na corrida a Belém. Em 2015, a agência Lusa fazia um texto sobre a apresentação da candidatura, explicando que Manuel João queria desconstruir “as frases absurdas da política” e defendendo que, se não conseguisse (como não conseguiu) as assinaturas necessárias, iria formar o partido da abstenção, “aquele que tem mais adesões, porque é preciso ‘trazer de novo essas pessoas para a democracia’”. A peça sublinhava que o anúncio foi feito “em tom sério, mas carregado de ironia”.
Dez anos depois, a ironia permanece nas promessas desbragadas do candidato, parte da abstenção encontrou o seu espaço no Chega e há assinaturas mais do que suficientes para que Manuel João Vieira possa constar no boletim de voto e ir mesmo ao debate com todos que será transmitido pela RTP.
