A notícia foi avançada pelo Público na terça-feira, 21: a PSP tinha realizado buscas nas casas do deputado do Chega Miguel Arruda em Lisboa e em São Miguel, nos Açores, por suspeita de crimes de furto qualificado e contra a propriedade. O açoriano, técnico superior do Ambiente e um dos 50 deputados eleitos pelo Chega para esta legislatura, nas eleições de março de 2024, é suspeito de ter furtado malas dos tapetes de bagagens das chegadas dos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada quando viajava de e para os Açores no início e no final da semana de trabalhos parlamentares.
Segundo o Expresso, uma fonte da PSP adianta que foram apreendidas 17 malas nos dois apartamentos.
As primeiras queixas de passageiros de voos da ilha de São Miguel para Lisboa sobre bagagens desaparecidas surgiram em novembro. De acordo com o semanário, estas queixas coincidiam com os voos que também transportavam Miguel Arruda.
As imagens de videovigilância junto aos tapetes de recolha das bagagens permitiram à Divisão de Investigação Criminal da PSP identificar o deputado do Chega.
Consequências
O deputado foi constituído arguido, pelo crime de furto, mas a imunidade parlamentar protege-o de um interrogatório judicial.
Para já, o parlamentar, que foi cabeça de lista do Chega pelos Açores, decidiu passar a deputado não inscrito, mantendo o lugar na Assembleia da República. Apesar de, antes da reunião com André Ventura, ter transmitido que pretendia manter-se vinculado ao partido, à saída do encontro anunciou que deixará de ser militante do Chega.
“Não diria que eu o obriguei a desfiliar-se, mas transmiti que haveria consequências”, disse André Ventura, que sublinhou ter avisado também Miguel Arruda de que poderia ser alvo de uma ação disciplinar a nível interno do partido.
O que diz Miguel Arruda
O deputado esteve esta quinta-feira no Jornal Nacional da TVI e garantiu que estava apenas a cometer “um lapso”, escudando-se no segredo de justiça para não falar mais sobre o caso. “Estou inocente, isso posso dizer”, rematou, apesar de ter assumido ao seu advogado – segundo avançaram vários órgãos de comunicação nacionais, enquanto decorriam as buscas à casa de Lisboa – que tinha sido o autor dos furtos.
Sobre as imagens de videovigilância, que alegadamente o mostram a furtar as malas, Arruda disse que, eventualmente, poderiam tratar-se de imagens criadas por Inteligência Artificial.
O agora deputado não-inscrito justifica as malas em sua posse com a necessidade de transportar para os Açores, para a sua mulher e para as suas filhas, “mercadoria de vários sites como, por exemplo, da Vinted, da AliExpress, da Shein, da Temu” que mandava vir para o continente por chegar “muito mais rapidamente”.
“É um facto que trazia malas minhas, são minha propriedade, e que as trouxe para o continente português vazias e que depois levava para os Açores com mercadoria que comprava cá ou mandava vir da Internet porque cá recebemos muito mais rapidamente”, afirmou
A conta na Vinted
Já esta quinta-feira, começou a circular a teoria de que Miguel Arruda teria posto à venda, na plataforma de artigos em segunda mão Vinted, roupa que estaria dentro das malas roubadas, com screenshots que mostram uma conta com o nome “miguelarruda84” (o deputado nasceu em 1984). Na entrevista, o deputado disse que não sabia de que conta se falava. “Talvez [a conta seja sua], não sei. Tenho memória de ter criado uma conta para vender umas coisas, não sei se cheguei a vender”.
“Não fazia negócios, se fazia era de umas camisas minhas da Primark ou lá o que é, porque depois eu emagreci, como devem ter visto nos últimos tempos”. A outra hipótese, avançou, é a de a conta pertencer à sua mulher: “Penso que ela tem uma conta na Vinted para se entreter um bocadinho.”
O que diz André Ventura?
“Não vai haver um milímetro de cedência e vamos exigir as mesmas regras que exigimos para os outros, independentemente de ser ou não um deputado do Chega”, garantiu o líder do partido quando, na terça-feira, o caso ficou conhecido.
Esta quinta-feira, depois de ter estado reunido durante cerca de meia hora com Miguel Arruda, Ventura recusou que o deputado seja um incómodo para o partido, apesar de considerar que “há factos que são perturbadores”.
Para o líder do Chega, as explicações dadas por Arruda “não são esclarecedoras”, reiterando que, para continuar vinculado ao Chega, o deputado teria de suspender ou renunciar ao mandato. O presidente do partido indicou que transmitiu a Miguel Arruda que, “perante estas circunstâncias”, não poderia “permitir que continuasse no grupo parlamentar”. “Há factos que não são uma questão da vossa interpretação, é uma questão do que nos entra pela casa. […] Ora, há factos aqui que são perturbadores, que é o facto de haver imagens de vigilância com três malas a entrar e uma a sair”, afirmou, considerando que “é bom que haja uma explicação muito razoável para isto”.
“Se as malas eram dele, que eu acredito que possam ser eventualmente algumas malas dele, a PSP certamente não se teria mobilizado para ir numa operação policial a casa para procurar descobrir essas malas”, referiu André Ventura.