Fez fortuna nos EUA, aproveitando uma oportunidade de negócio que lhe possibilitou, em pouco tempo, ser líder de mercado na produção e venda de vários tipos de suplementos alimentares, incluindo o sulfato de condroitina, que se encontra na cartilagem e nos tecidos de vários animais. Por segredo do negócio, não revela a dimensão da sua riqueza nem a faturação das empresas, mas aceitou, nesta entrevista, assumir as suas posições políticas, sublinhar a atividade filantrópica e ainda esclarecer algumas questões em que viu o seu nome envolvido, nomeadamente em relação à ligação com o Chega. E deixa um lamento sobre Portugal: “Gostava que a Justiça fosse mais célere para acabar com as suspeições contra inocentes, que se prolongam durante largos e longos anos.”
Como empresário português residente nos Estados Unidos da América, que balanço faz da governação de Joe Biden? E como vê a possibilidade de Donald Trump regressar ao poder?
Considero que na governação de Joe Biden houve muitos erros de gestão, nomeadamente económicos, bem como na questão imigratória na fronteira sul dos EUA e em matéria de política externa.
Acredito que Trump pode regressar ao poder. Tem muito apoio na população dos Estados Unidos da América, e isso transforma-o num candidato muito forte. Vamos ter de aguardar para ver, pois a última palavra pertence ao povo norte-americano.
O atentado pode favorecer a campanha de Trump?
Em primeiro lugar, quero condenar a utilização da violência, em qualquer circunstância. O que aconteceu é algo que mancha a democracia norte-americana, mas parece evidente que aquela tentativa de assassínio vai favorecer a campanha de Donald Trump.
Por outro lado, o processo judicial em curso pode prejudicar o ex-Presidente ou, pelo contrário, beneficiá-lo-á?
Processos judiciais nunca podem beneficiar candidatos. No entanto, não nos podemos esquecer de que estamos a falar dos Estados Unidos da América, onde tudo é possível.
Pretende ter uma participação ativa na campanha presidencial dos EUA? De que forma?
Nunca tive nenhuma participação ativa em campanhas políticas norte-americanas. Costumo apoiar de forma legal o candidato em que mais acredito, e é só.
Assume-se como um filantropo e costuma fazer donativos avultados para as polícias e forças de segurança – quanto já ofereceu e porquê?
Nos Estados Unidos da América, é um ato perfeitamente natural e legal que os cidadãos façam donativos à polícia. Quem me conhece sabe que eu, desde tenra idade, sonhava ser polícia, mas, para conseguir realizar esse sonho, tinha de me naturalizar cidadão norte-americano, e eu nunca aceitei fazê-lo, pois tenho imenso orgulho de ser português.
Assim, de memória, não sei quanto já ofereci, mas também não o considero relevante. Isto foi quase um movimento instantâneo que se criou à minha volta e, quando me apercebi, tinha departamentos de polícia de todos os estados a pedirem apoio. Tenho apoiado na aquisição de viaturas, motas, equipamento de proteção individual, material de ginásio e também na doação de canídeos, que é uma paixão que tenho desde criança.
Adoro animais, aliás tenho cinco em casa e, sempre que aparece algum cão abandonado, não resisto e adoto-o.
No fundo, a maior recompensa que tenho é ser recebido no seio da família policial como um deles, o que me dá uma alegria enorme.
Também tem atividade filantrópica em Portugal? Quais os donativos que fez no seu país de origem e por que motivos?
Como sabe, fui cônsul honorário de Portugal em Palm Coast, na Flórida. Durante o meu mandato, nunca aceitei um cêntimo do Estado português, pois entendi, na época, que essa seria a minha oferta a Portugal. Suportei todas as despesas de funcionamento do consulado, que, inclusivamente, foi considerado um dos melhores consulados nos Estados Unidos da América numa avaliação feita por membros do Governo da época. Essa foi, sem dúvida, uma das minhas maiores ações de filantropia.
No entanto, não fiquei por aqui. Doei equipamentos aos bombeiros voluntários de algumas corporações, nomeadamente carros de combate a incêndios, equipamentos de proteção individual, verbas para finalizar obras em quartéis, desfibrilhadores para ambulâncias. Também fiz doações a lares de crianças abandonadas, financiei a operação de uma criança que corria o risco de perder os membros inferiores, apoiei centros de acolhimento de animais abandonados, doei dois canídeos à Guarda Nacional Republicana, etc. etc.
Sabe que, quando faço donativos, não preciso de ter um motivo, apenas tenho de acreditar. Mas, obviamente, tenho filtros e pessoas que me ajudam a avaliar a situação, pois sei que também existe muito aproveitamento.
Quantas empresas detém nos EUA e qual a sua faturação? Como conseguiu posicionar-se como um dos líderes nos EUA em suplementos alimentares, nomeadamente o sulfato de condroitina?
Possuo a Summit Nutritionals International como casa-mãe, nos EUA, no estado de New Jersey, mas com representação comercial na Flórida, Iowa, Portugal, Caraíbas e Países Baixos, todas as sucursais com autonomia financeira.
Sendo uma empresa privada, como deve calcular não vou indicar aqui qual a faturação, mas posso dizer que é uma empresa que está muito confortável no mercado, mas lembro também que ser líder de mercado nunca é tarefa fácil, foi preciso muito trabalho e ter muita criatividade.
A crise das vacas loucas foi determinante para o seu negócio?
Estaria a mentir se dissesse que a crise das vacas loucas não foi determinante para o crescimento da empresa, claro que foi.
Como se define como empresário? Que imagem pretende transmitir aos seus colaboradores, mas também à sociedade?
Julgo ser um empresário absolutamente normal e igual a tantos outros, com a responsabilidade de gerir uma empresa e de a administrar.
Um pormenor muito importante é saber reconhecer o trabalho desenvolvido pelos colaboradores. Esse é o maior estímulo que um empresário pode dar, e eu tento fazê-lo todos os dias.
O mercado de trabalho mudou muito nos últimos anos e as empresas tiveram de fazer um esforço para se adaptar às novas épocas. Ora, eu penso que o meu sucesso empresarial passa muito por aí.
Alinha com as políticas conservadoras e securitárias. Qual é a sua relação com o Chega e André Ventura, partido do qual foi apontado como um dos financiadores?
Sempre fui de direita e assumi a minha posição de conservador. Não sou contra as mudanças sociais, mas critico aquelas que, radicalmente, querem mudar o conceito de família, de escola e de religião.
Quanto às políticas securitárias, não vejo nada de errado nisso. O mundo está a mudar, e isso é um facto: está a tornar-se perigoso, aliás muito perigoso. Ninguém consegue prever absolutamente nada neste momento. Tudo é imprevisível e claro que isso me deixa um pouco assustado.
Acredito imenso no André Ventura e apoio a sua liderança no Chega. Creio que um dia ele chegará a primeiro-ministro.
Porque começou por negar esta ligação?
Inicialmente tudo não passou de um mal-entendido. As questões para as quais a comunicação social queria respostas deviam ter sido feitas a mim, diretamente, e isso não aconteceu. Hoje estou arrependido por não o ter feito, mas tinha pessoas que o faziam por mim e eu confiava nelas. Agora entendo que esse foi um erro tremendo.
Só percebi o tamanho do desastre quando vi a dimensão a que isto tinha chegado. De repente, só por ter feito um donativo legal ao Chega, passei a ser vilão e bandido sem perceber como.
Toda a imagem que criaram à minha volta é de uma injustiça enorme, o que, claro, me magoou muito. Alguns órgãos de comunicação social fizeram de mim um indivíduo tenebroso, com ligações ao submundo da extrema-direita na Europa, mais concretamente em Portugal, e até hoje isso vai fazendo mossa.
Como deve calcular, tive amigos que se afastaram (talvez não fossem tão amigos…), outros ligavam diariamente a questionar-me se o que tinham visto na reportagem era verdade. Aconteceu de tudo um pouco.
Por que razão comprou uma guerra jurídica com a Wikipédia, que já chegou ao Supremo Tribunal de Justiça, pedindo para retirar as referências ao financiamento concedido ao Chega e a identificação dos editores da página? Incomoda-o a referência?
A pergunta está errada. Não comprei guerra nenhuma com a Wikipédia. Tudo teve um início e foi feito de forma legal, os meus advogados solicitaram que fosse retirada a designação de “maior financiador do Chega”, entre outras informações que não correspondem à verdade. Não sou, garantidamente, o maior financiador do Chega. Aquilo que fiz foi fazer um donativo dentro dos valores legais, mas isso não me transforma no maior financiador. O que me incomoda é a mentira, e é contra isso que luto e que continuarei a lutar.
Cortou relações com José Lourenço, que foi dirigente do Chega e seu conselheiro? Porquê? Sentiu-se traído?
O dr. José Lourenço era meu colaborador e, a determinada altura, começou a colocar os interesses do Chega à frente dos da empresa, e isso eu não podia permitir.
Como acontece em qualquer relação comercial, tudo tem um início e um fim, e, como devem compreender, não quero falar muito mais deste caso, até porque existem processos em tribunal, quer em Portugal quer no Brasil. Por isso, vamos aguardar pelo desfecho. Cristo que era Cristo também foi traído.
Segundo a SIC, foi acusado de roubo qualificado, com fuga, em 1989, sendo declarado contumaz entre 1994 e 2002. No entanto, diz que nunca teve conhecimento deste processo e que só o descobriu pela comunicação social. Como?
Todos nós temos histórias na nossa vida que, às vezes, não conseguimos explicar, e, quando tentamos fazê-lo, parece que está tudo contra.
Repare, quando esses factos de que sou acusado aconteceram, eu viajei para Macau, na época território português. Quando cheguei a Macau, fui trabalhar para o Estado, nomeadamente para a Secretaria do Turismo, onde permaneci até 1992. Nunca, em momento algum, fui notificado ou contactado por algum Departamento de Justiça. Sempre vivi de forma legal no território de Macau, tratei sempre dos meus documentos pessoais e, assim sendo, nunca tive conhecimento de nada.
Posteriormente, fui para os Estados Unidos da América e a situação manteve-se. Nunca me deram conhecimento de nada. A minha indignação prende-se com o facto de ter sido julgado, condenado e declarado contumaz sem nunca ter sido ouvido no processo. Só tomei conhecimento deste quando a SIC passou a Grande Reportagem, em que, de repente, a figura da reportagem era eu e já não havia interesse na extrema-direita europeia.
A sua vida é repleta de outras histórias impressionantes. Foi alvejado no Camboja, no início da década de 90. Como é que isto aconteceu?
Em 1993, fui visitar um amigo que vivia em Siem Reap, no Camboja, e, durante a minha permanência, os Khmers Vermelhos atacaram a cidade. Durante o tiroteio, fui alvejado na cabeça por uma bala perdida. Na altura, aquilo foi notícia, porque o Camboja tinha aberto há pouco tempo as fronteiras ao turismo e, logo por acidente, um estrangeiro era baleado. Mas tudo acabou bem, pelo menos para o meu lado.
Em outubro passado, foi alvo de buscas na sucursal portuguesa da Summit Nutritionals. No centro da investigação, segundo a Imprensa, estarão suspeitas de corrupção a Luís Filipe Tavares, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, que o nomeou cônsul honorário do país nos EUA.
Esse é um episódio em que, até ver, nada aconteceu… Uma suspeita é isso mesmo: suspeita. Na época, tudo fizeram para desacreditar a minha pessoa, pondo o meu caráter e a minha dignidade em causa. O dr. Luís Filipe Tavares é um amigo que me fez um convite, que eu aceitei. Claro que depois vieram as acusações por ser do Chega, além de tudo o que já é sobejamente conhecido. Diabolizaram a minha pessoa com o objetivo de atingir o Chega e André Ventura. O processo foi arquivado, em Cabo Verde, por falta de provas, o dr. Luís Tavares pediu a exoneração e ponto final.
Já foi constituído arguido? Como responde a estas suspeições?
Ainda não fui constituído arguido de coisa nenhuma. Aliás, a minha advogada já entrou em contacto com a Polícia Judiciária para tentar saber o que se passava, e a resposta foi que não existia nada de anormal e que, se acontecesse, eu seria informado.
Lamento que em Portugal as coisas se passem assim. Foi criado um clima de suspeição sobre a minha pessoa… e nove meses depois ainda nada aconteceu.
Sei quem foi o autor das denúncias, que mais não são do que um chorrilho de mentiras com um só objetivo: prejudicar o meu bom-nome. Note-se que dez minutos depois de a PJ estar no meu escritório já a notícia estava online, na comunicação social. Acha isto normal?
O que mais o desgosta em Portugal e o que gostava de ver mudado?
É com enorme tristeza que vejo no que Portugal se transformou em 50 anos de liberdade e de democracia. Continuamos na cauda da Europa e dependentes dos subsídios da União Europeia. Os casos de corrupção sucedem-se a uma velocidade alucinante, conectando, quase sempre, pessoas ligadas ao poder, mas nada acontece.
Gostava que a Justiça fosse mais célere para acabar com as suspeições contra inocentes, que se prolongam durante largos e longos anos.
Enquanto emigrante nos EUA, como avalia o discurso anti-imigração na Europa e em Portugal?
Eu próprio já fui emigrante, mas só depois de ter a minha situação regularizada é que me concederam o cartão verde, e já tinha a minha mãe a viver nos EUA de forma legal.
Sabemos que os imigrantes são necessários para países onde existe falta de mão de obra. Isso acontece tanto em Portugal como nos EUA e um pouco por toda a Europa. É verdade que alguns setores, agrícolas e não só, se não fossem os imigrantes, já tinham falido.
As pessoas têm vários motivos que as levam a procurar uma vida melhor, seja por questões de guerra, de política ou de religião, mas não podemos ser um país com a porta escancarada, onde parece que reina a anarquia, e julgo que é isso que assusta as pessoas.
Por que razão não se faz um registo, um controlo sério de todos os que entram em Portugal? Chegam sem documentos, com documentos falsos, etc., e posteriormente, após conseguirem os documentos, vão embora para outros países.
Admite vir a assumir, um dia, um cargo na política?
Respondo com uma frase de Peter Drucker: “A melhor forma de prever o futuro é criá-lo!”