Poderia dizer-se que surgiram, mais ou menos, na mesma altura. Ou que os portugueses passaram a associá-los à defesa da causa verde a partir de 2014. Todavia, ao fim de uma década, tanto o PAN como o Livre permanecem com tímidos resultados eleitorais, o que faz com que se questione se são os portugueses que têm anticorpos em relação às questões ambientais ou se são as duas forças políticas que estão cada vez mais afastadas de uma bandeira que, durante 40 anos, foi quase exclusiva do PEV, na Assembleia da República. A verdade é que, a menos de um mês e meio das legislativas antecipadas, Inês de Sousa Real, líder do PAN – Pessoas, Animais, Natureza, e Rui Tavares, do Livre, deixam-se levar pela atual agenda política nacional, dominada pelos problemas em três governos (no da República e nos das regiões autónomas), e apostam mais em esgrimir argumentos sobre futuras conjunturas e geometrias parlamentares, nas quais venham a ser a chave da solução. Será esse o foco suficiente para que os dois deputados únicos do hemiciclo não só revalidem os seus assentos como, eventualmente, consigam constituir um grupo parlamentar, nas eleições, a 10 de março?
Tal como em janeiro de 2022, nas legislativas antecipadas que deram a maioria absoluta ao PS, em que teve de se dispersar em duas frentes – uma contestação interna e uma polémica pessoal, que se prendia com a produção agrícola que possuía com o marido –, dois anos depois, Inês de Sousa Real também não está com o caminho facilitado. Mas agora os fatores são externos. A crise política no Funchal promete ensombrar a sua prestação, tendo em conta que exigiu a demissão do social-democrata Miguel Albuquerque da presidência do governo da Madeira, para continuar a apoiar a gestão PSD/CDS no parlamento regional. Apesar de ter a chave para acalmar este turbilhão, o partido é acusado pela esquerda, principalmente pelos bloquistas, de servir de muleta à coligação de direita na região e de não assumir um posicionamento no espectro político (até hoje, o PAN recusa afirmar a sua ideologia).