O perfil está feito: estão todos na casa dos 20 anos, conheceram o partido através das redes sociais (como o TikTok ou o Instagram), não se sentem representados pelos partidos “tradicionais”, e encontraram nas palavras de André Ventura e de Rita Matias as respostas para as suas preocupações. Pelo caminho, viram familiares e amigos afastarem-se. A Juventude do Chega cresce, cada vez mais – são, hoje, 6 mil.
Conservadores, patriotas ou tradicionalistas, qualquer que seja o rótulo, os jovens do Chega aproximaram-se do partido, sobretudo, porque “desejam ver as coisas mudar, antes que seja tarde”. Cada um tem a sua história, quase sempre pessoal. Pouco divergem, no entanto. O passado “não agradou” e o presente “também não”; esperam, agora, que o futuro “seja melhor, com o Chega”.
“Não reconhecem” as acusações de racismo, xenofobia, homofobia ou misoginia, muitas vezes feitas ao partido, consideram mesmo que estas “não fazem qualquer sentido”. “Sou mulher, nunca senti qualquer machismo dentro do Chega”, dizem todas as raparigas mais novas presentes na VI Convenção Nacional do partido.
Estão todos vestidos a rigor: fato e gravata os homens; vestido as mulheres. Os jovens parecem sentir-se em casa. Exemplos: Duarte Machado e Gonçalo Camacho têm ambos 25 anos, despertaram cedo para a política, e escolheram militar no CDS-PP; a tradição familiar pesou na decisão. O desalento rapidamente se apoderou dos jovens. Simultaneamente, reconheceram no Chega “uma solução muito melhor”. Estão no partido há quatro anos.
“O CDS perdeu a sua essência, a sua identidade”, diz Duarte Machado, professor de Filosofia do Secundário. “É um partido que acaba por se render a partir do momento em que se coliga com o PSD, afastando-se da sua identidade inicial”, acrescenta. Gonçalo Camacho, estudante de Direito, afirma que o CDS “parece um partido mais do mesmo”, enquanto o Chega “é o partido da revolta”. “O Chega rompe com o passado. É o único partido que não tem medo nem vergonha de se assumir de direita”, descreve.
A rutura é com o CDS, mas é comum a todos os partidos. Muitos jovens vêm de famílias que votavam PSD, CDS ou mesmo PS; outros, até, de partidos mais à esquerda, como o PCP e o BE. Hoje, estas famílias “perderam” os seus filhos para a direita. Está na moda. O Chega, então, ainda mais. Sãos os novos ventos de mudança, daqueles que têm “sangue jovem na guelra”.
Do grupo de três rapazes – entretidos a tirar fotos para mais tarde recordar –, também faz parte Lourenço Ribeiro, 23 anos. Para este estudante, que frequenta mestrado em Políticas Públicas, é uma estreia na política, mas diz “estar muito satisfeito pela escolha que fez”.
“Nunca fui militante de qualquer partido, mas achei o Chega, o primeiro do país que se declara conservador sem vergonha, sem precisar de outros rótulos, e que estabelece determinados princípios coerentes ao longo do tempo”. “Fiz uma filtragem a nível pessoal, e achei que o Chega é o mais próximo daquilo que eu acredito”, diz. Está no partido há dois anos.
Rita Matias, a deputada viral
A figura-chave da Juventude do Chega é Rita Matias. Deputada, 25 anos, é – com André Ventura – o rosto do partido nas redes sociais, conseguindo atrair os mais jovens para participarem na vida política e, claro, ingressarem no Chega. “Não há segredo nenhum”, diz, à VISÃO, para explicar o sucesso viral. “O Chega está no sítio onde estão os jovens [as redes sociais], com a mensagem certa. Acho, realmente, que a alma do negócio é comunicar de forma simples, para que as pessoas percebam o que estamos a dizer. Claro que apresentámos muitos projetos, que tocam todos os problemas que os jovens atravessam, na habitação, os salários indignos, serviços públicos sem qualidade, imigração jovem, mas acho que os jovens tornaram-se despertos pela forma como o André Ventura e o grupo parlamentar do Chega comunicam”, explica.
Fenómeno de popularidade, não é só nas redes sociais que Rita Matias chama a atenção. Na VI Convenção Nacional do Chega, a deputada não consegue dar dois passos sem que lhe peçam uma selfie ou um “beijinho”.
Nas universidades e nas escolas também tem sido presença constante. À exceção do episódio na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, em que centenas de estudantes em protesto “expulsaram” a comitiva do Chega, Rita Matias tem, regra geral, sido recebida com “grandes ovações”. “Temos percorrido escolas e universidades porque achamos que os estabelecimentos de ensino não são, hoje, espaços de liberdade plena para pessoas como nós, de direita, do Chega, pois estão capturados pela esquerda. Temos jovens que criam relações de conflituosidade, que não se sentem bem-vindos na sala de aula, que são pressionados pelos colegas… Elegemos esta como uma das nossas prioridades. Este caminho é para sentirem que não estão sozinhos, que se podem assumir do Chega, mesmo que não sintam apoio”, refere Rita Matias.
Neste momento, a Juventude do Chega tem 6 mil jovens inscritos, a partir dos 15 anos, confirma a deputada, ontem anunciada como mandatária nacional do partido para as legislativas de 10 de março.
O partido que “fala aos jovens”
Os jovens do Chega circulam pelo espaço. Um grupo de raparigas reúne-se à escuta. Uma Joana e duas “Marias” falam à VISÃO.
Joana Pinto tem 28 anos e é a coordenadora da Distrital de Braga da Juventude do Chega. Diz que a vida a “empurrou” para o partido da direita radical e populista. “Sempre gostei de política. Venho de uma família conservadora, e desde pequenina que andava em campanha, na altura pelo PSD. Sempre me interessei…”.
Depois de ser mãe, a sua vida mudou. “Para ter alguma tranquilidade, decidi ir trabalhar para o estrangeiro. Trabalhei muito, no setor da hotelaria, e só passado algum tempo voltei”. A experiência parece ter deixado marcas. Joana não quer o mesmo para outros jovens: “Quero viver em Portugal e espero poder fazê-lo. Espero, também, que os outros também o possam fazer. É por isso que sou do Chega, porque o que quero para o futuro do meu filho é aquilo que o Chega representa, em termos de educação e de saúde”, afirma.
“Toda a minha família vota no Chega”, garante Maria Helena Amado, de apenas 20 anos. Natural da Madeira, estuda Enfermagem em Coimbra. Está convicta de que “o país tem de evoluir, que as coisas têm de mudar”, e considera o Chega “o único partido que poderá fazer algo diferente”. “Gosto de sentir que, no meu país, todos têm os mesmos direitos e os mesmos deveres. É assim que deve ser”, sublinha. A escolha pelo Chega “é fácil de explicar”, e tem dois nomes: André Ventura e Rita Matias, pessoas que “dizem, de forma simples e direta, o que as pessoas pensam, mas que não têm coragem de dizer, por medo das reações do povo”, afirma.
De Norte a Sul, há representantes de todo o território nacional. Maria Monteiro vem de Aveiro. Aos 22 anos, é estudante de Contabilidade e Auditoria. “O Chega é o primeiro partido ao qual estou ligada”, adianta. É a militante mais recente do grupo, “apenas três meses”. Mas “já está convencida”, assegura. “Comecei a sentir interesse pela política e pelo Chega à medida que fui crescendo. Agora, decidi filiar-me ao partido”.
A porta de entrada foi, como (quase) sempre, as redes sociais, onde começou a acompanhar canais de “pessoas ligadas ao partido”, como Rita Matias e André Ventura. “O Chega importa-se com os problemas que realmente interessam”, diz. Novamente, a experiência pessoal “pesou na decisão”. “Decidi retomar os estudos, mas não consegui a atribuição de uma bolsa. Pergunto, como é que há tantos apoios a imigrantes, como é possível não haver apoios para portugueses que querem estudar, como eu”, questiona Maria Monteiro. “Os outros partidos não se preocupam com os jovens, não querem saber… O que noto é que o Chega quer que os jovens tenham condições de vida para viver no país”.
Face aos desafios do dia-a-dia, todos os jovens com quem a VISÃO falou, para esta reportagem, revelaram “insatisfação” com as soluções apresentadas pelos partidos políticos tradicionais. O descontentamento, deu lugar à revolta. André Ventura (e Rita Matias) aproveitou a postura disruptiva própria da idade – ser contracorrente é traço da juventude. O Chega estava lá para recebê-los de braços abertos; era o único partido.
Dia 10 de março, é dia de eleições. E há jovens que esperaram pelo Chega para ir às urnas pela primeira vez.