O PCP classifica como “fantasiosa” a versão do Ministério Público (MP), que consta no despacho de indiciação, de que arguidos do caso que resultou da “Operação Influencer” – em particular Diogo Lacerda Machado e Afonso Salema (gestor da Start Campus) – tinham capacidade para influenciar o PCP ou controlar o partido.
A investigação do MP e da PSP apurou esta relação, no âmbito do procedimento para a revisão do Plano de Urbanização da Zona Industrial e Logística de Sines (PUZILS), com vista à instalação de centros de dados – que era do interesse da Start Campus –, iniciado pela Câmara de Sines, em 2021, mas que só foi concretizado no passado dia 25 de outubro.
Numa conversa telefónica intercetada pela investigação, realizada no passado dia 15 de setembro, entre Afonso Salema e Miguel Gama, vice-presidente da AICEP, o gestor da Start Campus lamentou continuar a “não conseguir alinhar absolutamente nada com a Câmara” de Sines, quando pretendia que a autarquia aprovasse a revisão do PUZILS, com vista à instalação de centros de dados.
Na resposta, Miguel Gama sugeriu que “o problema da Câmara (…) [é que] tem uma arquiteta [Maria de Fátima Matos] que é uma pessoa muito complicada”. Afonso Salema perguntou, de seguida, de que partido era a referida arquiteta militante ou simpatizante, para tentar “fazer pressão”. A resposta foi o PCP. O homem-forte da Start Campus garantiu que podia contornar o problema dentro do partido.
“Temos o apoio do PCP também, o PCP gosta muito de nós [Start Campus]. Então se calhar vou pedir. O Diogo [Lacerda Machado] já me ofereceu várias vezes ter uma conversa no Comité Central [do PCP]”, revelou Afonso Salema, ao interlocutor.
PCP fala em ilações “infundadas”
Através de e-mail, o PCP esclarece que os contactos que o partido “teve com essa empresa decorrem de solicitação formal de encontro por parte da mesma junto do grupo parlamentar e do PCP, tendo sido recebida no plano estritamente institucional como é prática normal”.
“Relativamente à pessoa referida – Diogo Lacerda Machado – não se conhece participação junto do PCP. É aliás fantasiosa a atribuição ao PCP o poder de desbloquear deliberações num município – o de Sines – onde detém um em sete vereadores, dispondo o PS maioria absoluta! Mais se acrescenta que a técnica referida não é membro do Partido nem tem compromisso com o PCP. Quaisquer outras ilações que se pretendam retirar são absolutamente infundadas e rejeitadas”, lê-se na nota.
Recorde-se que, na passada terça-feira, pouco mais de 20 dias depois deste telefonema, Diogo Lacerda Machado, Vítor Escária (agora ex-chefe de gabinete de António Costa), Afonso Salema e Rui Oliveira Neves (administradores da Start Campus) e Nuno Mascarenhas (presidente da Câmara de Sines) foram detidos, numa investigação que visou os negócios do lítio e do hidrogénio, mas, sabe-se agora, principalmente o do centro de dados em Sines, e que foi batizada como “Operação Influencer”. Nesse mesmo dia, foram ainda constituídos arguidos o ministro João Galamba e Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Conhecido como “o melhor amigo” de António Costa, Lacerda Machado é suspeito de ter usado a proximidade com o primeiro-ministro para desbloquear decisões importantes que beneficiariam a Start Campus. Durante a investigação, o nome do primeiro-ministro foi mencionado por alguns suspeitos, colocando assim Costa na mira do MP, que passou a ser alvo de um inquérito do Supremo Tribunal de Justiça (órgão competente), para apurar se o primeiro-ministro demissionário está ou não envolvido neste alegado negócio.